lucas

Lucas

  

EVANGELHO  DE  LUCAS

 

CLIQUE NO LINK DOS CAPÍTULOS ABAIXO PARA NAVEGAR PELO LIVRO

 OU USE AS TECLAS CTRL + F, PARA PESQUISAR.PARA MUDAR DE LIVRO USE O MENU ACIMA.

OBS:  OS ITENS SEM REALCE NÃO POSSUEM NOTAS.    ===>>  PARA RETORNAR AO TOPO UTILIZE A SETA ABAIXO E A DIREITA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

*     

 

 

 

 

 

 

 

 

INTRODUÇÃO:

 

 

Lucas, segundo Eusébio, era natural de Antioquia, na Síria. Era gentio, talvez grego. Era homem educado, médico. É mencionado primeiro como sendo companheiro de Paulo em Atos 16.10.

Ele escreveu para leitores gregos - primeiramente a uma o íntimo, Teófilo. Por ser companheiro de Paulo, crê- que ele incorporou neste evangelho a substância do ensino do grande apóstolo.

O livro é próprio para os gregos, cujo ideal de perfeição era diferente do conceito romano. Enquanto os romanos entenderam que sua missão era governar, os gregos sentiam que a sua era a de educar, elevar e aperfeiçoar o homem. O ideal do romano (para quem Marcos escreveu) era a glória militar, a autoridade governamental; o dos gregos, a sabedoria e a formosura.

O retrato que Lucas apresenta de Cristo é o do Homem Perfeito - Esse que ultrapassa o mais elevado ideal dos gregos. Embora fale da divindade de Cristo, a ênfase está mais na perfeição da sua humanidade (Lee).

 

ANÁLISE DE LUCAS

 

Prefácio (1.1-4)

1. Anunciação e advento do Filho do homem (1.5 a 4.13)

1.1. Predição: João e Jesus virão (1.5-56).

1.2. Realização: João e Jesus presentes (1.57 a 2.7).

1.3. Preparação: Jesus, maior do que João (2.8 a 4.13).

1.3.1. Reconhecido e adorado por anjos e homens (2.8-38).

1.3.2. Adiantado para serviço e anunciado como perto (2.39 a 3.20).

1.3.3. Atestado por Deus e atacado pelo Diabo (3.21 a 4.13).

 

2. Declarações e atividades do Filho do homem (4.14 a 19.27).

2.1. Serviço em vista da Cruz (4.14 a 9.50). Na Galiléia.

2.1.1. Seu começo: a declaração de que Jesus é

2.1.2. Seus cursos: a declaração contestada e condenada (5.1 a 6.11).

2.1.3. Sua consumação: a declaração considerada e certificada (6.12 a 8.56).

2.1.4 Sua conclusão: a declaração confessada e confirmada (9.1-50).

2.2 Serviço a caminho da Cruz (9.51 a 19.27). Na Judéia e Peréia.

2.2.1. Jesus define os princípios do seu reino (9.51 a 13.21).

2.2.2. Jesus descreve os súditos do seu reino (13.22 a 17.10).

2.2.3. Jesus declara a vinda do seu reino (17.11 a 19.27).

3. A expiação e ascensão do Filho do homem (19.28 a cap. 24)

3.1. O grande conflito (19.28 a cap. 23).

3.1.1. A aproximação (19.28 a 22.38).

3.1.2. O conflito (22.39 a 23.43).

3.1.3. O resultado (23.44-56).

3.2. A grande conquista (24.148).

3.2.1. Sepulcro aberto (24.1-12).

3.2.2. Escrituras abertas (24.13-35).

3.2.3. Entendimentos abertos (24,36-48).

3.3. A gloriosa coroa (24.49-53).

3.3.1. A promessa do Profeta (24.49; Dt 18.15-19),

3.3.2. A bênção do Sacerdote (24.50; Hb 5.1).

3.3.3. A glória do Rei (24.51-53; 2 Sm 7.8-16) (Scroggie).

 

A MENSAGEM DE LUCAS

 

Lucas dá-nos "o semblante de um homem", e em nenhum dos outros evangelhos sinóticos somos levados tão perto de Deus, ou nos é Ele revelado tão claramente (Veja-se, por exemplo, o capítulo quinze.) Isto se liga necessariamente no aspecto da obra de Cristo exemplificado na "vítima pacífica", o fruto da expiação, apresentada nos evangelhos anteriores. Desapareceu a nuvem que ocultava o rosto divino.

 

O semblante de um homem vai mais longe, porem, porque a humanidade é aquilo que Deus assumiu, não somente para consumar a nossa redenção, na nova criação. Todas as benditas consequências ainda não se manifestaram, mas aqui vemos a Pessoa que reconhece o seu povo e age para com ele em toda a humana simpatia e afeição desta relação íntima. Sua humildade é provada em toda a realidade de fraqueza e dependência, no seu nascimento e infância, crescendo em sabedoria e estatura, constante em oração; no meio de tudo vemo-lo perfeito na obediência, uma coisa nunca antes vista sobre a terra de maneira que o bom prazer de Deus nos homens, do qual os anjos falaram, é justificado e necessitado. Aqui Deus e os homens se encontram, com bem-aventurança para os homens, a qual enche o coração e a vida com louvor responsivo.

 

Até mesmo da cruz, como a vemos aqui, foi-se a suprema agonia. Não há nenhum clamor de abandono: "Meu Deus" muda-se em "Pai". Ele intercede pelos inimigos; fala de paz ao ladrão moribundo ao seu lado. Em todo o livro a salvação é uma coisa cumprida: graça, paz, remissão de pecados proclamam-se em todas as páginas (Grant).

"Para uma expressa alusão a Lucas como sendo o autor deste evangelho temos de esperar até os tempos de Irineu e o Fragmento Muratório no fim do segundo século" (Book by Book). Mas há muitos motivos para acreditarmos ter sido ele o, autor. Teófilo, o recebedor da carta, era provavelmente um oficial público, pois o título "excelentíssimo" não se aplicava a outras pessoas.

 

 

 

 

 

*

 

lucas CAPÍTULO



 

O prefácio (1-4). Visto ser este o único evangelho com prefácio, vamos considerar um pouco esta parte. Vemos: a) que Lucas sabia de várias pessoas que tentaram coordenar em uma só narrativa os incidentes e ensinos que hoje achamos colecionados no Novo testamento, mas não sabemos se ele incluía Mateus e Marcos nesse número; b) que a tradição dos fatos e palavras tinha sido transmitida diretamente das testemunhas oculares; c) que Lucas tinha o cuidado de investigar tudo minuciosamente desde o começo; * d) que ele escreveu para informar um amigo seu, por nome Teófilo; e) que este Teófilo tinha já alguma instrução nas verdades do cristianismo.

*A palavra grega “anothen”, às vezes significa do começo e outras do alto (Mt 27.51). Aqui, visto que o verbo “investigar” é ativo, parece necessário aceitar o sentido como sendo do começo, de acordo com todos os tradutores. O comentador Bengel diz: “’anothen’, de cima (subindo), isto é, desde o começo dá a entender que Lucas quis fornecer os pormenores que Marcos omitira”.

Podemos acreditar que uma providência divina conservou até nossos dias os quatro evangelhos que temos hoje, e permitiu o desaparecimento de muitas outras narrações que se tornaram inúteis ou supérfluas.

“Lucas não alega qualquer autorização do Senhor para escrever seu evangelho. Ele percebe uma falta que é competente para suprir, e supre-a. Nem pensa ou fala em escrever para a igreja toda, ou para suprir uma necessidade geral. Escreve para Teófilo”.

O amor divino em seu coração leva-o a fazer o que pode para estabelecer na fé uma pessoa em quem se interessa, e o resultado é uma obra que a igreja toda tem reconhecido como sendo de Deus e para todos.

“É um lindo exemplo de quão naturalmente o Espírito de Deus opera, ou pode operar, naquilo que nós chamamos de inspiração. O instrumento que ele emprega não é mera pena na mão de outro, mas um homem agindo livremente – pois ‘onde está o espírito, aí há liberdade’- como se escrevesse somente do seu próprio coração e da sua própria inteligência. O escritor faz uso de todos os meios ao seu alcance, e os emprega diligentemente. Não estranhamos descobrir na obra o caráter do obreiro; aquele que preparou o instrumento, por que há de empregá-lo de acordo com a qualidade daquilo que Ele preparou? Por que pôr de parte a mente que Ele forneceu ou as afeições do coração que Ele deu? Esse que alimentou a multidão com pães e peixes já fornecidos, por que havia de pôr à parte aquilo que o zelo e o capricho tinha “diligentemente investigado”? (Grant)

Nascimento de João Batista predito (5-25). “Das 24 turmas de sacerdotes que serviam no templo, a oitava era de Abias (1 Cr 24.10); e Zacarias, sendo dessa turma, estava no seu serviço quando o anjo lhe apareceu” (Goodman).

O anjo Gabriel aparece quatro vezes na Bíblia (v.9): 1) Em Daniel 8.16 ele explica a visão do bode. 2) Em Daniel 9.21 dá ao profeta entendimento da visão das 70 semanas. 3) Em Lucas 1.11 anuncia o nascimento de João Batista. 4) No versículo 26 é enviado à virgem Maria para predizer o nascimento de Cristo.

Notemos a descrença de Zacarias e o castigo de mudez com que Deus o marcou, sem, contudo, desviar-se do seu propósito.

Lucas neste capítulo cita muitas coisas que não se lêem nos outros evangelhos: 1) Visita do anjo a Zacarias. 2) Visita do anjo a Maria. 3) Visita de Maria a Isabel. 4) Profecia de Zacarias. 5) Detalhes do nascimento. 6) Apresentação no Templo. 7) Jesus na festa da páscoa.

Podemos estudar este trecho da seguinte maneira:

1) Oração e incredulidade de Zacarias. Seu pedido de um filho era justo, visto que os filhos são herança do Senhor (Sl 127.3); era piedoso, porque era um desejo que podia apresentar a Deus em oração; o pedido era repetido, pelo visto, durante muitos anos; foi desatendido por todo esse tempo; mas, afinal respondido muito mais abundantemente do que Zacarias pensara. Havia pedido um filho, mas nunca sonhara em pedir que esse filho fosse “grande diante do Senhor” (v.15).

2) Profecia e sentença do anjo Gabriel. Predições sobre João Batista:

a) Haveria alegria com seu nascimento (v.14).

b) Seria grande diante do Senhor (v.15).

c) Seria nazireu, não bebendo vinho (v.15).

d) Seria cheio do Espírito Santo desde a nascença (v.15).

e) Havia de converter a muitos (v.16).

f) Teria o espírito e poder de Elias (v.17).

g) Havia de converter os corações dos pais aos filhos (v.17). Isto pode significar converter o exclusivismo dos judeus num zelo pela conversão dos gentios, que são várias vezes chamados “filhos” (Is 60.4,9, etc.).

h) Converteria os rebeldes à prudência dos justos (v.17).

i) Havia de preparar um povo bem disposto ao Senhor (v.17).

A sentença de Gabriel sobre Zacarias foi que este havia de ficar mudo por muito tempo. Mas quando recuperou a voz, a primeira coisa que fez foi louvar a Deus.

3) Significação do incidente para nós:

a) O nascimento de um filho pode ser assunto de muita oração secreta entre casados

b) A resposta a tal oração pode ser muito mais abundante do que se espera.

c) A visita de um anjo de Deus pode verificar-se durante o nosso serviço na Casa de Oração.

d) O crente piedoso não precisa ter medo ao sentir-se na presença de Deus (v.13).

e) Resposta demorada nem sempre é resposta negativa.

f) Nosso prazer espiritual pode resultar em agrado para os outros.

g) A conversão importa numa mudança radical.

h) Deus procura instrumentos escolhidos e piedosos para efetuar seus propósitos.

Anúncio do nascimento de Jesus (26-38). Neste trecho descobrimos: uma visão inesperada (v.27); uma saudação abençoada (v.28); um sobressalto natural (v.29); uma animação angélica (v.30), uma promessa misteriosa (v.31); uma profecia extraordinária 9v.32,33); uma dúvida natural (v.34); uma explicação suficiente (v.35-37); uma submissão piedosa (v.35).

A visita de Isabel 39-45 era muito natural, depois da revelação do versículo 36. Da sua prima Maria ouve as palavras: “Bem aventurada a que creu, pois hão de cumprir-se as coisas que da parte do Senhor lhe foram ditas”.

O cântico de Maria (45-56) é o transbordo do seu espírito em adoração e louvor a Deus. Preocupada com a maravilhosa obra de Deus, ela nem ao menos se lembra da possível (e muito natural) desconfiança de José (Mt 1.19), nem das conversas da vizinhança.

 

Neste cântico notemos:

1) gozo em Deus e reconhecimento da sua graça;

2) Compreensão da bem-aventurança de ser o instrumento para conseguir a vontade divina;

3) reconhecimento do poder, misericórdia e benignidade de Deus;

4) Cumprimento de profecias.

 

Vemos que Maria se ausentou da sua prima logo antes de nascer João Batista.

O nascimento de João Batista (57-66). A alegria profetizada no versículo 14 é cumprida em parte no versículo 58. Notemos: que nem sempre convém seguir um costume (v.59) sem consultar a vontade de Deus; que Deus, às vezes, escolhe o nome de uma pessoa; que Israel quis obedecer ao mandado do anjo no versículo 13; que empregou a sua voz no louvor de Deus; que o povo achou no ocorrido assunto para muitos pensamentos.

No fim do versículo 66 leia-se “está com Ele” (O. 36).

 

O cântico de Zacarias (67-80). Este cântico dividiu-se em duas partes: versículos 68-75 – um louvor a Deus; 76-79 – uma profecia dirigida a João. Algumas verdades referidas são: uma redenção divina; uma salvação poderosa; liberdade dos inimigos (nossos pecados?); uma manifestação de misericórdia; um perpétuo serviço livre, em justiça e santidade; o ofício do Batista; um conhecimento de Salvação; uma luz para guiar nossos pés.

Podemos estudar a expressão (v.78) traduzida por Almeida “O oriente do alto nos visitou”, na V.B. “nos visitará a aurora lá do alto”, e por Figueiredo “lá do alto nos visitou este sol do oriente”.

 

A figura é do nascer do sol, que dissipa as trevas da noite e torna tudo radiante com o brilho de um novo dia; uma figura expressiva da chegada do Salvador ao mundo, ou a um coração.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

*

 

lucas CAPÍTULO 2


O nascimento de Jesus. Os dois primeiros versículos determinam a data do nascimento de Cristo. Cirênio foi duas vezes governador da Síria, e entende-se que foi no seu primeiro período que se fez o alistamento. Isto põe o nascimento 4 anos antes da data tradicional, ou seja, em 4 a.C. O catedrático Moulton diz que a data mais provável é 8 a.C.

O imperador Romano César Augusto é o primeiro dos Césares mencionado no N.T. Eles são quatro.

Os nomes e datas dos Césares que reinaram durante o período do N.T. são:

Augusto, vivo quando Lucas nasceu -27 a.C.

Tibério, referido em Lucas 3.1 – 14 d.C.

Calígula, não mencionado na Bíblia – 37 d.C.

Cláudio, referido em Atos 11.28 – 41 d.C.

Nero, perante quem Paulo compareceu – 54 d.C. (Goodman).

 

Os pastores de Belém (8-20) de repente acharam-se rodeados da “Glória do Senhor”. Esta Glória visível tinha uma maravilhosa história. Apareceu primeiro quando Israel foi remido do Egito (Ex 16.10).

Descansava sobre o propiciatório no Tabernáculo, e, nos dias de Salomão, enchia o templo. Por último foi vista por Ezequiel, saindo da Cidade Santa e descansando por um pouco sobre o monte das Oliveiras, e então subindo (Ez 11.23,24) para não ser mais vista até depois dos 600 anos. Aparece-nos mais uma vez para anunciar a vinda do Salvador.

Notemos nestes capítulos as várias visitas de anjos. As palavras do anjo neste trecho tiram o medo, dão alegres notícias, anunciam o nascimento, apontam o “sinal”.

No fim do versículo 11 leia-se “que é o único ungido do Senhor” (O.27).

Os pastores perceberam a visão, temeram, escutaram as palavras, agiram de acordo, sem serem mandados, não perderam tempo, verificaram o fato, testificaram a visão, impressionaram seus ouvintes, e voltaram ao seu trabalho glorificando a Deus. Resumindo, podemos dizer que os pastores viram, ouviram e contaram. Temos feito o mesmo?

 

A circuncisão e apresentação de Jesus (21-24) foram feitas em obediência à Lei. Parece ter sido um costume judaico dar o nome ao menino na ocasião da sua circuncisão (Lc 1.59, 2.21). A redenção do primogênito obedecia a lei do Êxodo 13.13. A purificação da mãe obedecia a Levítico 12, 1-6. Vemos, pela sua oferta de um par de rolas, que o casal era pobre.

Simeão e Ana (25-38). Vemos um homem idoso, justo, temente a Deus e vigilante, iluminado (v.25), instruído, esperançoso (v.26), guiado (v.27), satisfeito (v.28-32) e profeta (v.33-35). Este cântico, o “Nunc dimittis”, vai além do “Magnificat” e do “Benedictus”, pois revela que a salvação chegara para todos (v.32) (Scroggie).

 

Notemos que Simeão considera Jesus a própria salvação de Deus e não apenas quem nos traz a salvação. Quanto mais chegamos a Jesus, tanto mais a salvação de Deus será uma realidade na nossa experiência.

É interessante ver estas duas pessoas, Simeão e Ana, ambos de idade avançada, conservadas até poderem, afinal, ver a “salvação de Deus” e testificar aos que esperavam a redenção em Israel. E foi na casa de oração que constantemente freqüentavam que isso se realizou.

 

O menino Jesus (39-52). “Nosso Senhor não se nos apresenta na sua meninice como o menino Samuel, permanecendo sempre no Templo, longe da vida comum dos homens, mas vemo-lo em grande humildade, seguindo o curso comum da vida, como outras crianças, em sujeição à autoridade paterna” (Williams).

 

Alguém talvez deseje saber como o menino Jesus havia de crescer em graça para com Deus. Podemos entender que em cada momento da sua mocidade Ele era perfeitamente agradável ao Pai, mas na infância sua esfera era limitadíssima: apenas a esfera da família. Com a passagem dos anos, seus contatos com a vizinhança aumentavam; ia mais longe, e encontrava outras pessoas, e em cada nova relação com os homens em redor, podemos acreditar que seu procedimento ministrou novo agrado ao Pai.

 

Vemos no menino Jesus as seguintes características:

a) Respeito pelos anciãos, e atenção a eles. Ouvir a instrução é a verdadeira sabedoria da mocidade (Pv 1.7,8).

b) Um espírito de indagação – fez-lhes perguntas. A lei reconhecia que as crianças normais haviam de perguntar (Ex 12.26; 13,14; Dt 6.20; Js 4.6).

c) Respondendo as perguntas (47). E havia inteligência nas suas respostas

d) Habitual obediência à autoridade dos pais. Nosso Senhor reconheceu que honra,  amor e obediência são devidos aos pais.

e) Prazer nas coisas santas (46). Ele foi achado no templo, o maravilhoso e lindo santuário. Havendo sido criado no temor de Deus, havia de reverenciar as coisas sagradas.

f) O desejo de agradar a Deus, e ocupar-se com os negócios do Pai.

 g) Crescimento: em espírito (favor para com Deus); na mente (sabedoria) no corpo (estatura) (Goodman).

 

 

 

 

*

 

lucas CAPÍTULO 3

 

 

A pregação de João Batista (1-9). Notemos o cuidado em verificar a data da primeira mensagem profética depois de um intervalo de uns 400 anos, E João era porta-voz dessa mensagem: “Arrependei-vos!"

O lugar da pregação foi às margens do rio Jordão, mas parece que vieram ouvintes de bem longe para escutar o novo profeta.

O propósito da pregação era aplanar os caminhos, preparar o caminho do Senhor, para que Ele pudesse chegar até o coração dos homens; e também permitir a todos verem "a salvação de Deus".

O estilo da pregação era arguir os ouvintes asperamente sobre seus pecados, e também aconselhar um procedimento digno e correto.

O tempo da pregação foi dezoito anos depois da Páscoa referida no capítulo anterior,

Algumas interrogações (10-20). Vemos o povo tão impressionado que chegou a julgar ser João Batista o Cristo (v. 15).

() resultado da pregação: todas as classes de ouvintes ficaram impressionadas, - povo, publicanos, soldados.

A glória da pregação. João testificou de Cristo (v. 26). Cada pregador deve pensar antes de começar: "Que vou testificar hoje de Cristo?" e cada crente que não é pregador deve responder a essa mesma pergunta.

A genealogia (23-38). A seguinte explicação é dada por Scofield: "Em Mateus onde, sem dúvida, temos a genealogia de José, diz-se, no capítulo 1.16, que José era filho de Jacó. Em que sentido, então, podia ser, como diz Lucas, 'filho de Heli'? Não podia por geração natural ser filho de Jacó e também de Heli.

"Mas em Lucas não se diz que Heli gerou a José, e assim a explicação mais natural é que José era genro (ou neto) de Heli, que era, como ele, descendente de Davi. A conclusão é, por isso, inevitável que em Lucas temos a genealogia de Maria, e José chegou a ser um 'filho' de Heli porque casou com uma filha dele".

Outros, porém, igualmente instruídos, não concordam que seja a genealogia de Maria. Grant concorda com Scofield.

 

 

 

 

 

 

*

 

lucas CAPÍTULO 4



A tentação de Jesus (1-13). Vemos uma diferença na ordem das tentações. Lucas fala da tentação ao corpo (2-4), alma (5-8), e espírito (9-12), que parece ser a ordem moral. A ordem histórica talvez seja a de Mateus; corpo, espírito, alma.

Só Lucas tem as palavras “cheio do Espírito Santo” (v.1); “que te guardem”(v.10); “num momento de tempo”(v.5) e quase todo o versículo 6, e “por algum tempo” no versículo 13.

“Aqui se faz o apelo, como a Eva no Éden, ao “desejo da carne, ao desejo dos olhos e à soberba da vida”( 1 Jo 2.16). Quando chegamos ao coração das coisas achamos que os males fundamentais são egoísmo, transigência e preocupação; e o Diabo fez seu apelo a Jesus, no deserto, a todos esses três males. E em cada apelo tentou derrubar a vida de confiança em Deus, o Pai, para destruir, primeiro, a simplicidade da confiança; segundo, a estabilidade da confiança, e terceiro, a pureza da confiança.

 

“Nota-se que todas estas tentações têm um aspecto religioso, que as torna mais sutis. Não somos iludidos quando encontramos um leão no caminho, mas quando vemos uma luz somos atraídos (2 Co 11.14).

“Em Lucas o apelo é primeiro ao apetite, o segundo à ambição, e o terceiro à aventura. A primeira tentação visava a uma necessidade pessoal; a segunda , ao mundo inteiro; a terceira à nação judaica.

“Como foi que Cristo venceu? Ele venceu por ter o coração submisso à vontade de Deus e, nos lábios, a Palavra de Deus. Somente assim podemos nós também vencer” (Scroggie).

 

“A verdadeira vida do homem não é a vida sustentada pelo pão, mas a sustentada pela Palavra de Deus. Obediência, dependência e comunhão são as suas características. Contra quem assim andar, todos os esforços do inimigo serão impotentes” (Grant).

 

A tentação de Jesus traz muitos ensinos para nós, mas a lição principal é que uma constante preocupação com a vontade de Deus nos salvará na hora da tentação.

Devemos notar; que a tentação é frequente; que ninguém a pode evitar completamente; que muitas vezes a tentação nos sobrevém por algum descuido ou alguma culpa nossa. A criança que cheirar os bolos que a mãe mandou-a comprar, será tentada a comê-los.

 

Podemos considerar: 1) O tentador; 2) a tentação; 3) o recurso dos filhos de Deus.

 

1) O tentador. Sabemos que em nós mesmos existe a concupiscência, essa tendência para o mal, mas fora de nós há um tentador – Satanás, ou algum servo seu. De nosso trecho aprendemos que o tentador:

a) observa-nos, conhece-nos (em parte), e quer prejudicar-nos;

b) procura servir-se dos nossos apetites para nosso prejuízo;

c) faz  seu apelo com astúcia – até mesmo citando a Escritura.

 

2) A tentação pode vir mediante os desejos da carne, os desejos  dos olhos ou a soberba da vida.

A proposta do tentador foi que Jesus se valesse dos seus poderes sem consultar a vontade de Deus, ou que Ele contasse com a proteção divina mesmo fazendo a sua vontade própria. Nunca devemos pedir a Deus um milagre desnecessário.

 

3) O recurso dos filhos de Deus. Jesus é nosso exemplo na hora da tentação. Aprendemos dele que:

a) a Palavra de Deus nos instrui, e nos guarda do mal;

b) devemos julgar que a energia espiritual (prazer na Palavra de Deus) nos guardará quando um desejo natural nos tentar, pois muitos tem sido derrotados até pela sede;

c) um propósito singelo, que procura glória para Deus e não para si, é uma proteção contra o pecado.

 

Jesus prega na sinagoga de Nazaré (14-32). Este discurso não é o primeiro sermão de Jesus (v.15), mas pode bem ser seu primeiro discurso público em Nazaré. “Entre os versículos 13 e 14, Lucas omite um período de 14 meses relatado em João 1.39 a 5.47”.

 

Tomando este como um sermão modelo, podemos estudar o pregador, o discurso, e o efeito nos ouvintes (Scroggie).

 

No Pregador, notamos seu preparo (4.1-13), seu recurso (v.14), seu costume (v.16), sua escolha do trecho (v.17), sua atitude (v.16), sua cortesia (v.22), e sua coragem e prudência (v.30). No discurso descobrimos que era bíblico, oportuno, adequado, evangelístico, pessoal.

O efeito nos ouvintes foi primeiro agradável (v.22) e depois, quando ouviram a aplicação, tornou-se o meio de descobrir a hostilidade deles a Jesus.

O leitor estudioso terá o cuidado de verificar, em Isaías 61.1,2, a parte não lida da profecia, e pensar porque Jesus “cerrou o livro”.

Também há de notar que a razão da raiva do povo (v.28) foi que Jesus mostrou como os gentios alcançariam as bênçãos que Israel desprezara.

Não podemos refutar as palavras, os ouvintes trataram de perseguir o pregador. Ainda hoje alguns discutem com pedras, confessando, assim, que não podem apresentar razões.

A cura de um endemoninhado (33-36) é relatada por Marcos e Lucas quase nas mesmas palavras. Alguns entendem que Lucas tinha consigo o livro de Marcos, copiando vários trechos e acrescentando outros, mas esta teoria não está provada, e não explica a omissão por Lucas de muito que está em Marcos, especialmente em Marcos 4.45 até 8.26.

A possessão de espíritos imundos era comum nos tempos do N.T.  Hoje é um mal mais conhecido nos meios espíritas do que no mundo em geral. Segundo o ensino da Bíblia, há um só Diabo, mas muitos demônios – espíritos malignos. Este demônio imundo:

1) reconheceu o Senhor;

2) confessou a divindade de Jesus;

3) sabia que Ele seria Juiz;

4) clamou, não para pedir misericórdia, mas para ser deixado;

5) sendo repreendido, lançou sua vítima no meio do povo (Goodman).

 

A sogra de Pedro (37-44). “Aprendemos que Pedro era casado e que sua sogra (provavelmente) morava com ele. Ela estava com febre tifo – é isso que Lucas, o médico, quer dizer por ‘uma grande febre’ – e Jesus curou-a imediatamente. As doenças, e também os demônios, tinham de obedecer-lhe. Isto é demonstrado no próximo parágrafo (40,41). Havia sido um dia de muita ocupação, e depois de um breve repouso, Jesus foi para um lugar tranquilo a fim de orar (42-44, compare-se com Marcos 1. 35-39). O maior argumento para a oração é que Jesus orou.

Mas Ele nunca ficou sozinho por muito tempo, e nunca se queixou das interrupções. O seu poder não dependia de atos de devoção, mas de uma atitude da alma” (Scroggie).

 

“Neste trecho vemos Jesus como sendo: o vencedor de demônios (33-37); o adversário da doença (39); o curador de enfermidades (40,41), e o missionário divino (42,43)”. E ainda hoje Ele é o mesmo para nós?

 

 

 

 

 

 

*

 

lucas CAPÍTULO 5


A pesca maravilhosa (1-11). Notemos o interesse de Jesus em conhecer a vida diária dos discípulos. Há duas verdades diferentes, mas igualmente preciosas: que Deus se interessa em toda a nossa vida, e que Ele nos convida a nos interessarmos no progresso do seu reino.

O dr. Scroggie faz as seguintes divisões: o mandato estranho (v.4); a obediência imediata (v.5); o resultado surpreendente (v.6.7). Notemos a seguir: a consequente confissão do pecado (v.8); a compreensão da personalidade de Cristo (vv.8,9); a chamada ao serviço (vv. 10,11).

 

No versículo 8 Pedro fez uma oração ignorante, que não foi respondida. Foi o reconhecimento da presença divina, revelada pelo milagre, que impressionou Pedro e o levou ao reconhecimento da sua condição. Aproxima-se de Jesus ao mesmo tempo em que pede que Jesus se ausente dele: a consciência e o coração lutam nele, mas ele não foge. Como fugir de quem vencera o mar e o seu coração também? ( Grant).

 

A cura de um leproso (12-16) é relatada pelos três evangelistas. Lucas, o médico, observa que o doente estava cheio de lepra, e que “prostrou-se sobre o rosto”. (Alguém já orou tanto, para ser purificado da lepra do pecado, quanto o leproso rogou pela sua cura?)

Notemos a confiança e a dúvida do leproso.

No fato de Jesus tocar o morfético, descobrimos compaixão, simpatia, pureza, poder – e em rudo, Deus revelado.

No caso do leproso, vamos notar:

a) Seu estado: imundo, enfraquecido, sem esperança de cura, contaminado, isolado – e vemos todos estes males desfeitos por seu contato com Jesus. Porventura tem havido coisa semelhante em vossa experiência?

b) Sua oportunidade: Jesus ia passando, mas o homem não hesitou: agiu imediata e energicamente.

c) Sua atitude: prostrado sobre o rosto, demonstrando, assim, o seu profundo abatimento e seu reconhecimento da dignidade de Jesus.

d) Sua dúvida: desconfiou da boa vontade de Jesus. Assim é o pensamento dos nossos vizinhos que recorrem à virgem e aos santos porque desconfiam da boa vontade do Salvador. (Contrastar isto com o “se tu podes fazer alguma coisa” de Marcos 9.22).

e) Seu pedido: purificação. É isso o que nós temos pedido ao Salvador?

f) Sua cura: imediata, completa, permanente.  Uma revelação do poder, da bondade e da misericórdia de Cristo.

g) A ordem que recebeu: para não fazer uma coisa, e para fazer outra (Mt 8.4).

h) Sua desobediência (Mc 1.45): uma desobediência muito natural, considerando-se todas as circunstâncias; uma desobediência com consequências imprevistas e inconvenientes (Mc 1.45); uma desobediência que teria evitado se sempre tivesse tido o costume de obedecer à voz divina.

 

Havendo achado tudo isso no leproso, que descobrimos no Senhor Jesus? Descobrimos: aproximação, interesse, simpatia, atenção, boa vontade, poder, revelação do amor de Deus, respeito pela lei de Moisés, o desejo da solidão, a dependência que ora.

Temos visto Jesus ultimamente em quatro localidades diferentes: Nazaré (4.16-30); Cafarnaum ( 31-44); Genesaré (5.1-11); “uma certa cidade”(12,13).

Notemos que mais uma vez Jesus procura um lugar deserto para ali orar. Hoje em dia essa medida talvez seja mais necessária que nunca, quando há o rádio em casa, ou na casa do vizinho, roubando todo o sossego e tranquilidade.

 

Há anos um moço crente, morador da roça, convidou-me para ir com ele dar um passeio. Levou-me para um campo retirado e alto, onde, em lugar meio oculto, vi uma tosca construção elevada um tanto acima do chão, com uma vara horizontal da altura de um metro. “Ás vezes venho aqui sozinho para orar”, disse ele. Parece que ali achava mais sossego do que em casa. Hoje ele é um homem casado. Porventura ainda goza de semelhante retiro, a sós com Deus?

 

Um paralítico é curado (17-26). Este caso é contado pelos três evangelistas, com diferenças bem pequenas, mas é só Lucas que diz que o curado foi para sua casa “Glorificano a Deus; e que os assistentes  “ficaram cheios de temor”.

 

Observemos os pontos notáveis no caso do paralítico:

a) Interesse e simpatia dos amigos. Tinham algum conhecimento da graça e poder de Jesus, e trouxeram seu amigo doente, vencendo todos os obstáculos.

b) O estado do doente: inutilizado, fraco, dependente, desanimado, com a consciência acusando-o de pecado carnal que causara sua enfermidade.

c) A atitude dos escribas e fariseus, mostrando insensibilidade espiritual, e indiferença ao estado do doente, e a temeridade de acusar o grande Profeta.

d) Em Jesus vemos: discernimento, que percebeu a origem do mal – o pecado; poder “sobre a terra” de perdoar: isto significa, talvez, poder de remover aqui as consequências do pecado, em contraste com o poder de conceder perdão eterno, que ganhou pela sua morte expiatória; autoridade para ordenar uma cura completa, e determinar os passos futuros do homem salvo.

Notamos que nada se diz da fé do paralítico, nem de palavra alguma que tenha falado.

Sobre o buraco aberto no telhado, consulte-se a exposição de Marcos capítulo 2.

 

O resultado final: “Todos ficaram maravilhados, e glorificaram a Deus”. Que maravilhas espirituais temos nós presenciado, pelas quais glorificamos a Deus?

A vocação de Levi (27-32) é relatada nos três evangelhos sinóticos, mas em Marcos ele é chamado de “Levi, de Alfeu” – filho, ou talvez irmão. Mateus deixa de mencionar, talvez por modéstia, o grande banquete que fez. Só Lucas diz que ele “deixou tudo” (v.28).

 

Notemos as duas perguntas dos fariseus:

1) “Por que comeis e bebeis com publicanos e pecadores?” (v.39).

2) “Por que Jejuam os discípulos de João?”(v.33).

Referente à primeira, devemos compreender que um servo perfeito tem um perfeito contato com Deus e com os homens. Devemos saber se á assim conosco: se tal é o nosso desejo. Muitos crentes fervorosos descuidam-se de cultivar um contato social e santo com seus semelhantes.

 

Em estudar esta festa podemos considerar:

1) Seu motivo. Vemos que o regozijo de Levi foi: por ter se encontrado com Jesus; por ter ouvido a sua chamada; por ter provado a bem-aventurança da sua companhia.

Por isso resolveu fazer uma festa a Jesus. O motivo, pois, foi a satisfação que achara em Cristo.

2) Seu caráter. Levi não se regozijou sozinho. Sentiu desejo de que outros participassem da sua alegria. Quis levar seus vizinhos para uma convivência com Cristo num momento de abundância e satisfação. Pode haver hoje alguma coisa semelhante a isto?

3) Seu propósito foi, provavelmente, que alguns dos convidados provassem a influência da presença de Jesus, mas notamos que o meio que empregou foi uma festa. Poderia sem dúvida tê-los convidado para ouvirem um sermão, mas julgou haver mais probabilidade de êxito através de uma festa.

4) Seu resultado foi que alguns dos convidados, talvez pela primeira vez, sentiram-se na presença de Jesus, e notaram: que Ele não era nenhum solitário; que a sua presença não ofuscava a alegria e sim a aumentava; que Ele comia e bebia com serenidade e moderação, apreciando devidamente os bons propósitos do hospedeiro. E antes de se retirarem ouviram algumas palavras preciosas sobre a sua missão de chamar os pecadores ao arrependimento.

5) Seu sentido para nós pode ser: que alegria espiritual se encontra na presença de Jesus; que não devemos ser egoístas, mas convidar os nossos amigos para se regozijarem com Cristo; que devemos mostrar-lhes que alegria, satisfação, abundância e prazer se encontram  onde Cristo está; que quem tudo deixa para seguir a Jesus não é indiferente aos prazeres lícitos dos seus semelhantes; que, embora para nós os doces não têm a primeira importância, podemos simpatizar com esses que acham muita satisfação neles. Por isso os pais brincam com seus filhos, não porque eles próprios gostam das brincadeiras, mas porque sabem apreciar os prazeres pequenos.

Sobre o jejum, podemos notar: que tristeza e luto têm seu cabimento em certas ocasiões, e que, quando reconhecemos que nosso Senhor  é rejeitado e ausente deste mundo, nos sentimos tristes, mas na festa da Santa Ceia reconhecemos pela fé a sua presença e regozijamo-nos.

 

Veja-se também a exposição de Mateus 9.14-17. A expressão em Mateus 9.15: “Podem porventura andar tristes os filhos das bodas?”, ajuda-nos a compreender o valor espiritual do jejum no cristianismo.

Tristeza é incompatível com a presença do Senhor, mas perante o mundo o crente, às vezes, abstém-se de certos gozos lícitos, devido a ausência do Senhor.

Viajei uma vez para a Europa, e a bordo houve um baile. No dia seguinte um passageiro observou:

-Não vi o senhor no baile ontem à noite.

-Não fui.

-Por que não?

-Estou de luto.

-Ah! Compreendo! Naturalmente achou inconveniente, por isso, assistir ao baile. Foi algum parente?

- Não. Estou de luto, não por algum parente, mas porque meu Salvador foi assassinado aqui neste mundo. Por isso, perante o mundo que ainda não o reconhece como seu Senhor estou de luto.

A parábola do “novo” e do “velho” (36-39). “A nova vida que Cristo dá não cabe no velho judaísmo.

Novo vinho deve ser posto em odres (vasilhas feitas de couro) novos; um remendo de pano novo não combina com o vestido velho. O cristianismo não é o judaísmo remendado, mas vida e liberdade. É uma nova criação que necessita de novas condições. Paulo repreendia os gálatas que queriam voltar aos “rudimentos fracos e pobres (Gl 4.9), vivendo como escravos e não como filhos, voltando à escravidão de formalidades, cerimônias e ordenanças depois de terem gozado liberdade em Cristo (Gl 5.1). Novidade de vida necessita de liberdade para desenvolver-se. Sendo presa, ela romperá os velhos odres” (Goodman).

 

“Os odres velhos das instituições judaicas não podiam conter o espírito livre e expansivo do novo concerto que já ia se manifestando, mas a oposição que surgiu mostrava que a Lei é mais ao gosto do homem natural: quem estava bebendo o vinho velho não havia de desejar imediatamente o novo” (Grant).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

*

 

lucas CAPÍTULO 6

 

Jesus e o sábado (1-5). No primeiro versículo achamos (em Almeida) a extraordinária expressão “sábado segundo-primeiro”, da qual nunca encontrei uma explicação que satisfizesse. A versão brasileira, de acordo com alguns manuscritos antigos, evita a dificuldade omitindo a expressão. Na passagem correspondente em Mateus, a palavra (“deuteroproto”) não se encontra.

Evidentemente, o ensino principal do trecho é que “o Filho do homem é Senhor do sábado”, tendo o direito de dispor desse dia (e de todos os dias) como Ele entende.

O zelo dos fariseus não era pela Lei de Deus, mas das suas próprias tradições. Tinham tornado o dia de descanso em um dia cheio de preceitos e exigências absurdas. Jesus deliberadamente piso-as, e estabeleceu o princípio que “ é lícito fazer bem no sábado” (v.9).

 

A mão mirrada (6-11). Lendo em Mateus e Marcos, pensamos que este milagre foi no mesmo sábado “segundo-primeiro”, mas Lucas diz que foi em "outro sábado"(v.6). Só Lucas tem as palavras "Levanta-te"(v.8), e "uma coisa vos hei de perguntar" (v.9), e "ficaram cheios de furor" (v.11)

Jesus ensina aqui duas coisas:

a) Que Ele é o Senhor do sábado, assim afirmando a sua divindade, como se dissesse: "Lembrai-vos de que fui Eu - Jeová - quem vos deu o mandamento".

b) Que Jesus queria que o sábado fosse observado no mesmo espírito que Ele mostrou, certamente não em preguiça e ociosidade, mas em fazer bem e salvar os homens. Podemos transferir o mesmo espírito para o Dia do Senhor e procurar agradar a Deus pela maneira como o empregamos.

 

Podemos distinguir entre o sábado dos judeus e o domingo dos cristãos da seguinte maneira:

1) Característica do sábado:

a) Um dia de descanso, mas não expressamente um dia de culto religioso.

b) Um dia de guarda para Israel por mandamento divino.

c) o fim de uma semana de trabalhos.

d) Um sinal dado a Israel (Ex 31.13-17)

2) Características do domingo:

a) Um dia de serviço espiritual, que os crentes em todos os tempos e lugares têm reservado para o culto divino.

b) Um dia de descanso voluntário, assinalado desde os primeiros tempos do cristianismo pela presença do Senhor no meio do seu povo reunido (Jo 20.19 e 26).

c) Um dia em que se comemora Cristo ressurgido e sua obra redentora.

d) O começo de uma nova semana. O israelita trabalhava seis dias para poder descansar no sétimo. O cristão descansa em Cristo para poder especialmente trabalhar no domingo na obra de Deus.

3) Pensamentos diversos:

a) Sem ser mandado, o israelita aproveitava bem a folga para frequentar a sinagoga (Lc 4.16; At 17.2, etc.).

b) O sábado foi feito para o homem. Quem mais trabalha durante a semana, mais aprecia o descanso de um dia em sete.

c) Ao israelita foi mandado guardar o sábado; não há nenhum mandamento ou referência no N.T. que ensine ao cristão guardá-lo.

d) No N.T. vemos os judeus muitas vezes reunidos nas sinagogas no sábado, e os cristãos quatro vezes reunidos no Domingo ( Jo 20.19,26; At 2.1 e 20.7).

A escolha dos doze (12-16). Em Lucas vemos Cristo sete vezes em oração; só Lucas relata que Jesus passou uma noite em oração antes de escolher os doze discípulos. É bom orar em todas as ocasiões, mas é necessário orar antes de tomar um passo importante - como, por exemplo, o matrimônio.

Jesus chamou os doze de apóstolos porque iam ser seus "enviados". Consideramos hoje serviço apostólico esse que se aventura a levar, como pioneiro, o Evangelho a lugares difíceis ou distantes.

O sermão da montanha (17-49). "Muitos têm procurado identificar este sermão 'num lugar plano' com o Sermão do Monte (Mt caps. 5 a 7). 'Num lugar plano' seria melhor traduzido 'num lugar baixo', e por isso sugerem que significa planalto, isto é, um lugar plano em cima do monte. Entretanto outros gostam de pensar que o Senhor repetiu aquele gracioso e admirável sermão em diversas ocasiões, e com variações para diferentes auditórios. O homem bom tira do bom tesouro do seu coração coisas novas e velhas (Mt 13.52)" (Goodman).

 

"O sermão está dividido em três partes:

1) Uma descrição das pessoas a quem é dirigido (20-26).

2) A proclamação dos princípios fundamentais da Nova Sociedade (27-45).

3) Uma declaração do julgamento a que os membros do novo reino de Deus devem submeter-se (46-49). As pessoas que Jesus chamou Ele ensinou. Ele não pode ensinar-nos antes de chamar-nos, mas é possível receber a sua vida e rejeitar-lhe a luz" (Scroggie).

 

Os quatro "ais" não aparecem em Mateus. Referem-se aos ricos, predicado que, em si, não é pecado, mas quando a riqueza impede de buscar a Deus, passa a ser um pecado.

Notemos no versículo 31 a célebre "lei áurea".

"Evidentemente, tudo que se ensina no versículo 36-38 pode ser mal-entendido. Há ocasiões em que: o ser misericordioso resultaria em injustiça; o não julgar seria pecado; o perdoar seria um erro; o dar seria causar prejuízo. Quase toda a verdade é relativa e não absoluta. Este trecho deve ser considerado com referência aos seus limites, e também ao seu alcance" (Scroggie).

O versículo 40 deve ser: "O discípulo não é superior ao seu mestre; mas convém que seja como seu mestre"(O.85).

Muitas vezes nos revelamos por nossa atitude perante os erros dos outros (41-42).

 

Aprendemos de 1 Coríntios 12.3 que "Ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor senão pelo Espírito Santo", e, em contraste com isso, lemos em Lucas 6.46: "Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo?" Mas, embora haja contraste, não há aqui nenhuma contradição.

 

*

 

lucas CAPÍTULO 7



Um servo doente e um filho defunto (1-17). Lemos de vários centuriões (capitães do exército romano) no N.T. tendo geralmente boas referências (Lc 7.2; 23.47; At 10.22; 22.26; 27.43). O que nos impressiona aqui é o que impressionou o Senhor: a fé do centurião. Mas o que é fé? Alguém tem dito que fé é aquela atitude da alma em que há a convicção de que reside em Cristo o poder salvador de Deus; e que não há limites àquilo que Ele pode fazer.

É notável que este piedoso soldado romano tinha mais fé do que os israelitas (v.9).

No versículo 3 é correto ler ''enviou os anciãos", mas no versículo 6 deve ser "encarregou... uns amigos", indo ele, por suposto, com esses (J. 342).

Muitos tem notado o contraste no incidente do filho da viúva (11-17). O Senhor da vida, com seus discípulos, encontra uma desolada viúva junto com seus amigos lamentando o poder da morte.

 

Em Cristo notamos sua compaixão e seu poder. A íntima compaixão de Jesus levou-o a operar um grande milagre sem ser rogado.

Às vezes nos falta o ânimo para pedir uma intervenção divina que nos parece impossível, e, contudo, Deus responde aos nossos desejos quando não ousamos pedir.

O resultado do encontro é que a vida vence a morte, a alegria a tristeza. E logo o filho é restaurado à sua mãe.

João Batista e Jesus( 18-35). João parece abalado na sua fé, não por falta de sinais de Jesus ser o Cristo, mas por circunstâncias que se sucederam. Na sua resposta, Jesus não se refere ao fato de João estar na cadeia, mas fala das bênçãos que milhares provaram pelo contato dele com o Salvador.

Podemos acreditar que João se sentia um pouco desanimado, porque na sua própria pessoa não estava provando as bênçãos do reino de Deus.

É sempre fácil julgarmos o valor dos acontecimentos pelo seu efeito sobre nós mesmos. Quem tem dor de dentes lembra-se de que o mundo está cheio de aflições, mas quem ganhou o premio grande na loteria acha que tudo vai muito bem. Quem prega anos inteiros sem ver resultados começa a duvidar de que o Evangelho de Cristo seja o poder de Deus para a salvação.

 

O remédio em qualquer dos casos é olhar para mais longe, em vez de basear as nossas conclusões em premissas por demais acanhadas.

Na sua resposta à indignação, Jesus convida João a esquecer-se das suas penosas circunstâncias e olhar para mais longe, vendo muita gente abençoada pelo poder divino revelado em Cristo.

 

Em relação a este incidente, podemos considerar os seguintes pensamentos:

1) Que João, embora abatido, não havia de considerar-se abandonado, porque ainda tinha discípulos ao seu alcance (v.19).

2) Que, no momento do seu maior desânimo, ele fez a coisa mais acertada: pôs-se em contato com Cristo -  e, sem dúvida, o desânimo desapareceu.

3) Que ele dirigiu a sua pergunta ao próprio Jesus e a mais ninguém, porque, decerto, não tinha a outro a quem se dirigir. E nós, nas nossas horas de tentação, porventura teremos outro Salvador mais digno da nossa confiança a quem possamos recorrer?

4) Que os discípulos de João haviam de se reportar não somente a verdades faladas, mas ao poder do Evangelho de Cristo visto e comprovado.

5) Que com Cristo há também bênçãos espirituais para diversas classes de necessitados:

a) "Cegos" vêem valores que outrora ignoravam por completo.

b) "Coxos", homens que nunca tiveram um andar perfeito, agora andam no bom caminho da vontade de Deus.

c) "Leprosos" imundos conhecem uma abençoada purificação pelo poder da graça de Cristo.

d) "Surdos" ouvem as verdades de Deus e os cantos de louvor dos remidos.

e) Gente sem vida espiritual, morta em delitos e pecados, sente o poder de uma nova vida; a vida eterna, que começa aqui e nunca termina.

f) Os pobres ouvem falar das riquezas espirituais, comparadas com as quais o ouro nada vale.

g) Há uma especial bem-aventurança para os que não duvidam ser Jesus o Cristo de Deus (v.23).

O testemunho de Jesus com respeito a João nada diz do seu desânimo ou desconfiança. Jesus testifica dele:

a)Não era nenhuma cana abalada pelo vento.

b) Não era pessoa acostumada com o luxo.

c) Era profeta, e mais que profeta: era o "anjo" (mensageiro) de Deus para preparar o caminho do Senhor.

d) Que era o maior da velha dispensação - mas o menor do Reino goza maiores vantagens. Ser "amigos"(Jo 15.14) e "irmãos" (Mt 28.10) de Cristo é maior coisa do que ser um grande profeta.

Pode-se também consultar a explicação de Mateus capítulo 11.

A mulher pecadora (36-50). Cada evangelista relata o caso de uma mulher que ungiu os pés de Jesus, mas o caso que Lucas conta não é o mesmo que os outros. Mateus, Marcos e João contam o caso de Maria, e a localidade é Betânia. Lucas fala de uma mulher pecadora sem mencionar-lhe o nome, e a localidade é Naim. Uma circunstância curiosa é que em ambos os casos o dono da casa se chamava Simão.

 

O Dr. Scroggie nota as seguintes características da mulher anônima:

1) Seu reconhecimento de culpa.

2) Seu exercício de fé - ela, que necessitava de alívio para sua consciência, cria que podia alcançá-lo em Jesus.

3) Sua certeza de perdão - não foram as lágrimas que lavaram os seus pecados, mas o amor de Cristo.

4) Sua experiência de purificação - coisa que sempre acompanha o perdão.

5) Seu sentimento de amor, que necessariamente acompanha aquela experiência.

6) Sua expressão de gratidão - ela deu seu precioso unguento.

7) Sua necessidade de serviço - ela precisava fazer algo para quem lhe fizera tudo! 8) Sua herança de paz - Jesus lhe disse: "Vai-te em paz" e foi nessa esfera que, então , viveu.

Nosso amor é a prova, mas não o motivo do nosso perdão (v.47).

 

Este versículo deve ser traduzido: "Ela ... muito amará" (O.98).

 

 

 

 

*

 

lucas CAPÍTULO 8



Vemos que a parábola do semeador é relatada neste capítulo e narrada em capítulos bem diversos em Mateus, Marcos e Lucas, a saber, nos capítulos 13,4 e 8. É geralmente entendido que Mateus segue a ordem histórica e Lucas um agrupamento de assuntos mais ou menos relacionados pelo sentido que têm.

Assim podemos entender, com Mateus, que o incidente da família de Jesus (Lc 8.19-21) se deu antes da parábola do semeador ; essa parábola do semeador(5-15) é quase idêntica à versão dada em Mateus, exceto que Lucas menciona ter o povo vindo "de todas as cidades", e que a semente "foi pisada" que "não havia umidade" em vez de ser porque "não tinha raiz".

Em Mateus, os que dão fruto ouvem e entendem; em Marcos ouvem e recebem; em Lucas ouvem e guardam. Para haver fruto em nossa vida como resultado da Palavra de Deus em nossas almas, é preciso que seja entendida, recebida e guardada.

 

A parábola da candeia (16-18) é relatada por Marcos mas não por Mateus.

As palavras "não há coisa oculta que não haja de manifestar-se" não se referem à manifestação do pecado no dia do juízo, mas à manifestação da verdade difundida como luz. Isto dá sentido à palavra "pois" no versículo 18. Se temos luz, devemos mostrá-la, e se não a mostrarmos, ela será extinguida.

Tempestade e pânico (22-25). Os três evangelhos sinóticos contam o incidente. Mateus é o mais resumido; Lucas o mais amplo.

Uma lição do incidente é que Cristo nunca ficava perturbado; na tempestade dormia serenamente.

É instrutivo ver como, no momento de perigo, os discípulos, unânimes, recorreram a Jesus. Milhares desde então têm feito o mesmo. E nós?

O endemoninhado gadareno (26-39). Este caso é contado pelos três evangelhos sinóticos, mas mais resumidamente por Mateus.

É só Lucas que tem "prostrou-se diante dele" (v.28) e quase todo o versículo 29, e "porque estavam possuídos de grande temor"(v.37).

Aprendemos aqui lições sobre a oração:

Há três que rogam: os demônios, o doente e o povo.

Os demônios obtêm seu pedido (v.32) e perdem seu desejo (v.31). O doente não obtém seu pedido (37), mas obtém seu desejo (38,39). O povo obtém seu pedido e seu desejo (37). Queriam viver sem Cristo e Ele se retirou!

Acontece  que, às vezes, é uma tragédia quando certas orações são respondidas é uma bênção quando não recebem resposta.

Podemos notar a legião de demônios como figura da multidão de pecados, pois um pecado sempre gera outros: quem rouba, depois mente, e então jura para reforçar a mentira.

Vemos no endemoninhado desespero, miséria e vergonha. Às vezes é pelo poder do Maligno que uma pessoa descobre a sua miséria.

Notemos que o Senhor Jesus: domina os demônios (v.28); requer do homem uma confissão do seu estado (v.30); manda sair o espírito imundo (v.29); revela o gozo destruidor do pecado (32,33); muda o coração do pecador e manda testificar à sua família (Goodman).

 

A filha de Jairo, e a mulher com fluxo de sangue (40-56). Estes dois casos são relatados pelos três evangelhos sinóticos na mesma ordem e quase nas mesmas palavras. Só Lucas dá a idade da menina. Ele sendo médico, não diz, como Marcos, que a mulher sofrera muito dos médicos, mas apenas gastara com eles. Também é só Lucas que tem o versículo 46.

 

Com respeito à filha de Jairo, é só Lucas que tem a expressão: "o seu espírito voltou" no versículo 55.

 

Aprendemos do incidente: que nos momentos de maior aperto há recurso em Cristo; que a pessoa, quando muito comovida, ora prostrada; que Jesus, mesmo sendo nosso último recurso, é sempre um recurso suficiente (43,44), que o mais ligeiro contato com Ele importa em bênção; que o Senhor espera uma confissão de benefício recebido; que Ele fala aos salvos palavras de animação e paz (48); que no momento extremo Ele não permite o desespero (50); que nem todos os discípulos podem presenciar as suas obras de poder (51); que a pessoa que recebe novidade de vida precisa ser alimentada.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

*

 

lucas CAPÍTULO 9



A missão dos doze (1-6). De Mateus 9.36-38 ficamos sabendo a ocasião desta missão, e aprendemos a orar pelos missionários. Depois os discípulos iam descobrir que eles mesmos seriam a resposta à oração.

Os três evangelistas relatam o caso, mas em Mateus há muitos detalhes que os outros não apresentam.

Notemos o preparo de um missionário: a chamada de Cristo, a obediência á sua vontade, o poder que Ele dá.

Notemos o serviço da sua missão: pregar e curar, e atender às necessidades espirituais e materiais do povo.

Notemos o sustento dos enviados e a hospitalidade dos "dignos" (ver Mateus 10).

Notemos a diferença entre a sua mensagem e a nossa. Seu assunto - e bem importante - era o reino. Nós podemos ir mais adiante e falar de uma explicação consumada; de um perdão pelo sangue da cruz; de um Salvador á destra de Deus ; de uma vida gloriosa no porvir.

Devemos perceber que os poderes sobrenaturais conferidos eram para fazer bem aos outros, não para prover seu próprio sustento.

"Não devemos aplicar estas instruções de um modo demasiado literal ao serviço missionário de homens, senão havemos de limitar nossa pregação às ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt 10.5,6), embora saibamos que a comissão atual é para "ir em todo o mundo e pregar o Evangelho a toda criatura" (Mt 28.19; Mc 16.15).

Sobre a primeira multiplicação de pães (10-17) já temos comentado em Mateus e Marcos. É só Lucas que fala expressamente da localidade "um lugar deserto de uma cidade chamada Betsaida" (v.10). (Sobre a localidade exata, consulte-se "The Land and the Book", p. 372).

 

No versículo 10 devemos ler: "Do distrito de Betsaida"(O.85).

Aprendemos três lições: que Cristo se interessa por nossas necessidades materiais; que quem assim cuida do nosso corpo pode também satisfazer nosso espírito; que Cristo mesmo é o pão que teve de ser partido para suprir a necessidade do mundo.

 

A confissão de Pedro (18-27), é também relatada por Mateus e Marcos, mas só Lucas que diz ter estado Ele sozinho, orando (v.18).

Aprendemos: que o povo estava preocupado com Jesus, e pensando a seu respeito; que os discípulos tinham ouvido os diferentes pareceres; que eles (ou ao menos Pedro) já tinham acertado com a verdade; que não convém anunciar tudo quanto sabemos; que, apesar da realidade do fato glorioso de ser Ele o Messias, Jesus ia sofrer uma morte violenta.

 

Os versículos 23-27 falam da cruz de cada um, trecho relatado também, em linguagem quase idêntica, pelos três, mas Lucas acrescenta as palavras "cada dia" (v.23). Para o sentido, veja-se comentário de Mateus e Marcos.

Este trecho ensina a base e condição para ser discípulo de Cristo: uma dedicação absoluta ao Salvador. "A vida cristã é uma divina anomalia: para ganhar, devemos perder; para ter, devemos dar; para viver, devemos morrer".

 

No fim do versículo 25 leia-se "e perder a sua vida?" (O.31).

Entendemos que o versículo 27 se refere à transfiguração.

 

A transfiguração (28-36), já temos considerado em Mateus e Marcos. Só Lucas (Como em todas as ocasiões de importância) diz que Jesus subiu ao monte para orar. É uma coisa preciosa quando, não somente o quarto particular e a casa de oração são santificados pela oração, mas também lugares mais afastados que visitamos em nossos passeios.

Conheci um grupo de rapazes crentes, aprendizes numa fábrica, que, nas horas vagas, passeavam juntos, e, em algum ponto retirado, oravam de joelhos. Uma vez estavam orando à beira do caminho quando um homem que passeava pediu que orassem por ele.

Notemos o contraste entre a cena na montanha e a no vale. A vida é assim mesmo. Há momentos de exaltação espiritual e momentos de provação ou angústia.

"A visão, ao que parece, tinha por objetivo fortalecer a fé dos discípulos em vista do próximo fato da morte de Jesus às mãos iníquas. Eles se lembraram de três coisas:

1) que Moisés e Elias falaram de sua morte;

2) que o Pai testificou da sua dignidade;

3) que a glória brilhava dele. Desde então Jesus falou mais claramente que ele devia morrer antes de entrar na sua glória".

 

O rapaz endemoninhado (37-42). Os três evangelistas contam o caso mas só Lucas diz que o rapaz era filho único. Se pudéssemos saber alguma coisa de origem do mal! Porventura o pai tinha consentido em haver "sessões espíritas" em sua casa? Tinha criado seu filho "na admoestação do Senhor?" Tinha-o corrigido de qualquer manifestação de pecado? (Na china onde parece haver semelhantes casos de possessão demoníaca, tem-se notado que um espírito maligno muitas vezes entra durante um acesso de raiva). Porventura o pai tinha ganhado a confiança do menino por uma constante simpatia com ele nos pequenos interesses da sua infância? Não sabemos, mas não devemos supor que alguém fique por obra do acaso sob um poder maligno.

Era um caso melindroso, desesperador, mas Jesus era suficiente, e mais uma vez sua presença, seu poder, importaram em bênção, saúde, felicidade.

O maior do reino (43-50) é o caso do menino no meio ("junto a si", Lucas) é referido também por Mateus e Marcos, Jesus quer ensinar,  por meio de uma criança, que muitas vezes o menor é o maior (v.48).

 

O espírito de um cristão (51-62) é o espírito de graça e verdade, amor e luz, justiça e paz em perfeito equilíbrio. 1)O espírito de graça (v.50). 2) O espírito de verdade (11.23). Este em aparente contraste com o outro, é realmente seu complemento. O primeiro exclui toda a intolerância; o segundo, toda a condescendência para com o erro. 3) O espírito de tolerância (v.54). 4) O espírito de altruísmo e sacrifício (v.58) (Goodman).

 

Devemos ler no versículo 51: "E aconteceu que, completando-se os dias para ele subir (a Jerusalém), manifestou-se o firme propósito de ir a Jerusalém"(O.32).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

*

 

lucas CAPÍTULO 10


    A missão dos setenta (1-12). Este capítulo todo é dado somente por Lucas. Aprendemos:

a) a conveniência e vantagem de companheiros de serviço;

b) a necessidade de oração pelos obreiros;

c) os perigos do serviço;

d) que o servo de Deus não deve levar um saco para angariar contribuições (v.4);

e) que o evangelista deve ser um mensageiro de paz (v.5);

f) que ele não deve querer ser festejado (v.8).

 

No versículo 4 leia-se: "e a ninguém ligai-vos pelo caminho"(O.98).

"Tem-se notado o contraste entre a missão dos doze (9-1-10) e a dos setenta:

a) O do segundo incidente é relatado somente por Lucas, que escreveu para os gentios; o dos doze está em todos os evangelhos sinóticos.

b) A missão dos setenta foi em Samaria (9.52), uma região onde os doze foram proibidos de ir (Mt 10.5).

c) Os setenta foram enviados 'a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir' (v.1), mas os doze foram somente às ovelhas perdidas da casa de Israel.

Tem sido sugerido que isto indica que, enquanto a primeira missão era aos judeus (às doze tribos), a missão dos setenta antecipava a abertura da porta da fé a todas as nações (os judeus calculavam que havia setenta nações.

d) Os setenta saíram seis meses depois dos doze, no tempo da festa dos Tabernáculos - o tipo da evangelização dos gentios; enquanto os doze saíram aproximadamente no tempo da Páscoa" (Goodman).

 

Jesus pronuncia julgamento sobre cidades (13-24). Vemos que a responsabilidade é proporcional à luz e ao privilégio recebidos.

Satanás cair do céu (v.18). Jesus percebeu a final derrota de Satanás quando setenta dos seus servos provaram da graça divina lhes dava poder sobre os demônios.

"Em antecipação, Jesus vê Satanás cair como um relâmpago da sua posição exaltada; mais tarde Ele diz-nos que esse será julgado (Jo 16.11) e lançado fora (Jo 12.31). Jesus fora manifestado precisamente para destruir as obras do Diabo (1 Jo 3.8)"( Goodman).

 

No versículo 21 temos uma pequena oração de Jesus; e no versículo 22 Ele outra vez instrui os discípulos.

Quase todos os manuscritos antigos concordam com a V.B. em traduzir o versículo 21 "Naquela hora exultou Jesus no Espírito Santo", mas F.W. Grant observa que a expressão "parece estranha".

 

O doutor da Lei e o bom samaritano (25-37). Devemos notar que quase nada do que lemos em Lucas 9.51 a 18.14 se encontra nos outros evangelhos.

Notemos que o doutor fez a sua pergunta tentando Jesus, mas não a fez seriamente, como o moço de Mateus 10, que fez a mesma pergunta.

No caso do moço, é ele que pergunta com respeito aos mandamentos, e Jesus que repete alguns deles.

 

Com o Doutor, Jesus lhe pergunta como ele lê na Lei, e o doutor dá um resumo, reduzindo todos os mandamentos ao amor. Jesus usou este mesmo resumo em Mateus 22.37,38 e Marcos 12.30,31. Podemos notar que a Lei do Sábado (que pertence à lei cerimonial e não à moral) não é repetida em nenhuma das listas.

"Se queremos viver pelas obras, devemos guardar a Lei, cujo resumo é o perfeito amor a Deus e ao próximo". Notemos as palavras coração, alma, força, entendimento, e a palavra 'todo' quatro vezes repetida: "Fazei isso e viverás". Mas visto que ninguém tem feito assim, nem pode fazê-lo, ninguém deve esperar a vida eterna por esse meio (isto é, pelo fazer).

"Ele, porém, querendo justificar-se" (v.29). Nesse ponto há muitos semelhantes ao doutor da Lei, dizendo: 'Quem é meu próximo?'.

"O viajante era Judeu, como também eram o sacerdote e o levita, que deviam tê-lo socorrido (Lv 19.18). O fato é que não eles, mas um estrangeiro, um odiado samaritano, socorreu o homem aflito. A ideia bíblica do vizinho ultrapassa todos os limites de consanguinidade, espaço, religião e caráter. Conhecemos o nosso próximo pela sua necessidade, e assim" o próximo é extensivo a toda a raça humana "(Scroggie).

 

O Senhor Jesus esboça o retrato de um verdadeiro "próximo" no Bom Samaritano, e, incidentemente, nisso se representa a si mesmo.

 

Maria e Marta (38-42). Aprendemos de João 11.1 que a aldeia visitada era Betânia, e que Lázaro também morava ali.

Compreendemos deste incidente: a) que basta um pouco para suprir as necessidades do corpo; b) que o serviço nunca deve tomar o lugar de adoração; c) que adoração nunca impede o serviço necessário.

Porém, a palavra "mas" no versículo 42 deve ser entendida no sentido de "contudo" e não de "apenas" ou "somente".

"O ensino essencial deste incidente é que o serviço nunca deve substituir a adoração, e que a adoração nunca impede o serviço necessário. Somente a luz dessas verdades podemos entender o versículo 42. Não temos aqui o caso de ação contra contemplação. Maria tinha sido ativa, mas sabia quando e onde ficar sentada " (Scroggie).

 

"Marta recebera o Senhor na sua casa e, certamente, no seu coração. Se ela está ocupada, está ocupada em servi-lo, mas mesmo assim não deixa de estar atarefada com muito serviço. Ainda mais, ela está preocupada e irritada. Maria sua irmã está sentada sossegadamente aos pés de Jesus, ouvindo a sua divina palavra, e Marta censura o Senhor por permitir isso quando ela tanto precisa da ajuda da irmã. Mas o Senhor assevera que Maria escolheu a boa parte, que é a única coisa essencial, e isso não lhe será tirado"(Grant).

 

 

 

*

 

lucas CAPÍTULO 11



A oração dominical (1-4). Notemos que desta vez não é a mesma de Mateus 6.9-13. Em Mateus a oração é dada durante o sermão da montanha; aqui é dada particularmente aos discípulos, e omite-se "porque teu é o reino, o poder, e a glória, para sempre. Amém".

As diferenças devem ensinar-nos que a oração dominical não é um formulário dado aos discípulos para constante repetição mecânica, e as semelhanças que na oração devemos "buscar primeiro o reino de Deus e a sua justiça" e depois lembrar-nos das nossas necessidades.

Que não era formulário para os discípulos usarem sempre sem modificação aprendemos de João 16.23,24, onde Jesus ensina que desde então (depois da sua ascensão) as nossas orações devem ser feitas em seu nome.

 

Neste capítulo Jesus ensina a orar:

a) pelo seu exemplo;

b) por uma oração modelo;

 c) por uma parábola (5-8);

d) por uma promessa (9,10);

e) por uma ilustração (11-13) (Goodman).

 

 

Da parábola do amigo importuno (5-13) aprendemos  mais alguma coisa referente à oração:

a) Depende da amizade - de haver boas relações entre quem pede e quem dá.

b) É ocasionada por uma necessidade, talvez imprevista, mas sempre além dos nossos poderes - quando podemos não pedimos.

c) Expressa um desejo tão ardente, que a pessoa persiste. Não podemos dizer que Deus precisa ser muito rogado, embora a continuação na oração pode ser necessária para podermos receber a bênção. Alguém, por exemplo, no sentido do versículo 13, ora "Santifica-me, Senhor", e podemos crer que, às vezes, a resposta seja: "É essa a bênção que almejo dar-te, mas não o posso fazer enquanto tu não a desejares com mais empenho".

d) Se um homem que tem pouca vontade de nos responder o faz pela nossa importunidade, muito mais Deus, que tem toda a vontade de dar-nos abundantemente tudo que convém ( 2 Co 9.8) e) Que a resposta é certa à oração sincera, mas nem sempre será precisamente idêntica ao pedido. Quem pede paciência pode receber tribulação, porque a tribulação produz a paciência (Rm 5.3).

 

Jesus é acusado (14-23). Mais uma vez o Senhor serve-se das acusações malignas dos adversários como pretexto para oferecer ensinos importantes. Notemos que Ele leu os pensamentos dos assistentes. Neste trecho, Satanás é "forte", e Jesus é "o mais forte".

 

Devemos aprender do versículo 15 a não censurar o serviço dos outros, e não atribuir ao inimigo obras que podem ser de Deus; do versículo 20, que uma operação do poder de Deus é sinal da proximidade do reino; do versículo 22, que o inimigo é semelhante a um homem valente; e do versículo 23, que a neutralidade e a indiferença são inadmissíveis com respeito a Cristo.

 

A parábola do espírito imundo (24-26). Aqui vemos o espírito saído ( expulso, talvez, por novo entusiasmo ou acesso de piedade). Mais tarde volta ao que chama minha casa e a acha, infelizmente:

a) vazia (Mt 12.44) -não entrou um Senhor divino nem tomou posse um "mais forte": a casa permanece desocupada, o entusiasmo passou, o esforço esmoreceu.

b) Mas a casa está varrida: foi purificada - velhos costumes abandonados; agora tudo é decente: varrida, mas vazia; Cristo não está presente como Senhor e Mestre. Por isso o espírito mau volta com outros sete piores que ele (Goodman).

 

A interpretação dos versículos 24-26. Pode ser que se refiram a Israel curado da idolatria, mas não crente em Cristo; a sua aplicação pode ser a qualquer povo cristão, salvo de muitos vícios, mas não plenamente abastecido da graça espiritual.

A parte deste capítulo (do versículo 24 a 36), é muito parecida com Mateus 12 e Marcos 3; e o fim (37-54), com Mateus 23.

 

Os versículos 27,28, ensinam-nos quem é mais bem-aventurado que a bem-aventurada Maria, mãe de Jesus. Assim este capítulo fala do valente e do mais valente, da bem-aventurada e do mais bem-aventurado.

 

O sinal de Jonas (29-32). Aprendemos deste trecho: o valor de estudos históricos, que podem iluminar o presente; que pedir um sinal é, às vezes, sintoma de incredulidade; que facilmente deixamos de compreender a importância de uma pessoa que está junto de nós; que o arrependimento de um pode salientar a condenação de outro.

A candeia da vida (33-36): o olho simples. (consulte a explicação de Mateus 6.22).

 

Notemos a expressão "não tendo em trevas parte alguma" (v.36). Porventura existe em nossa vida algum recanto onde não queiramos que penetre a luz divina? É essa parte "em trevas" que marca o limite na nossa dedicação, e um dia será capaz de nos trair.

 

O Senhor censura os fariseus (37-54). "Este trecho, que faz lembrar Mateus 23.13-35, refere-se a uma ocasião diferente. Podemos ver isto dos versículos 37-41" (Gray). Aqui Jesus está jantando com um fariseu. O que o homem estranhou (v.38) não foi qualquer falta de asseio, mas que Jesus não usava a purificação cerimonial dos judeus (Jo 2.6) antes de comer. A palavra traduzida por "lavar"é "batizar".

 

O mesmo que proferiu as bem-aventuranças de Mateus 5 pronuncia os "ais" de Lucas 11. São seis, e são: contra a religiosidade sem piedade (v.42); contra o orgulho (v.43); contra a hipocrisia (v.44); contra a opressão (v.46); contra a falta de realidade (v.47), e contra a ignorância e a obstrução (v.52).

 

O versículo 41 é difícil de entender na forma em que está nas nossas traduções. Um tradutor oferece: "Louco! O que fez o exterior, não fez também o interior das coisas? Melhor purificar o interior, e então nada vos será imundo"(Moffat). Veja-se também O.101.

 

No fim do versículo 48 devemos ler: "porque eles os mataram, e vós sois filhos deles"(O.99).

 

A sabedoria de Deus (v.49) Godet pensa que isto se refere ao livro de provérbios, e que é citação de uma paráfrase de provérbios 1.29-31, em que profetas e apóstolos são agentes do Espírito de Deus, e a perseguição deles é o desprezo da mensagem de Deus.

 

O Zacarias referido no versículo 51 é provavelmente o de 2 Crônicas 24.20-22. A diferença de parentesco (Mt 23.35) não precisa causar dificuldade, visto que "filho de" na Escritura é equivalente a "descendente de", e às vezes significa neto ou bisneto.

A interpretação deste versículo 52 refere-se aos doutores da lei de então. A sua aplicação hoje pode ser aos que privam o povo da "Chave da ciência",a Bíblia Sagrada.

 

 

 

*

 

lucas CAPÍTULO 12



A primeira parte deste capítulo (1-12) é muito parecida com Mateus 10; fermento, quando empregado como figura (v.1), sempre significa uma coisa ruim.

"Apregoado sobre os telhados". No Oriente os telhados eram planos e neles haviam lugares próprios para descansar, dormir, tomar o ar e até conversar com os vizinhos ou fazer proclamações.

Esse que devemos temer (v.5) é Deus (segundo os melhores comentadores), ou o Senhor Jesus, que é Juiz (Jo 5.22; At 17.31). Devemos primeiro ter temor do seu poder, e depois confiar no seu cuidado e misericórdia.

A blasfêmia contra o Espírito Santo (v.10), como já temos visto, é a última palavra de quem rejeita definitivamente a salvação de Deus. (Consulte-se sobre Marcos 3.28-30).

A parábola do rico louco (13-21) ensina-nos: que Jesus não quis ocupar-se demasiadamente com os interesses materiais dos seus ouvintes; que a "vida" de alguém pouco tem com a abundância dos seus bens; que a riqueza material pode ser perdida em uma noite, mas a verdadeira riqueza é o que temos junto a Deus.

O valor de uma vida não consiste naquilo que esse alguém tem mas naquilo que esse alguém é.

A loucura do homem rico consistia em duas coisas: presumir que is viver muitos anos, e que comer, beber e folgar constituíam "viver".

Com este ricaço vemos:

a) O amor ao dinheiro. O rico mostrou-se agarrado ao seu dinheiro.

b) Falta de dependência. Ele "arrazoava entre si" em vez de pedir a direção de Deus em oração.

c) Um plano inútil. Resolveu construir mais celeiros na mesma noite em que ia morrer!

d) Uma esperança vã. Sonhava em gozar seus bens durante muitos anos, mas enganou-se.

e) Uma economia errada. "Ajuntou para si" bens materiais, mas não tinha nenhuma riqueza "para com Deus".

Solicitude pela vida (22-34). Este trecho é muito parecido com Mateus 6.25-34, salvo que o ensino referente ao "tesouro" está aqui no fim do trecho e em Mateus está no começo. Devemos, porventura, entender que Jesus repetia seus discursos em diversas ocasiões e lugares, como nós fazemos?

Duas vezes neste trecho somos convidados a "considerar", primeiro, "os corvos" (v.24) depois "os lírios". E em Hebreus 12.3 somos convidados a considerar aquele que deu este conselho.

Muitos sábios tiveram a sua fé fortalecida e o seu amor aumentado quando "consideraram" as obras de Deus (Sl 8.3).

Este trecho ensina-nos os verdadeiros valores da vida, que, afinal, não são os materiais, mas espirituais.

O versículo 27 provavelmente deve ser traduzido: "Considerai os lírios, como não cardam nem fiam; contudo vos digo...".

Aprendemos do versículo 31 que, no caso de cuidados e interesses do reino de Deus, podemos contar com Deus para cuidar dos nossos interesses.

Desde que este ensino foi dado, milhares têm provado que realmente acontece assim.

"Vendei o que tendes, e dai esmolas" (v.33) é uma palavra que poucos comentadores têm explicado. Mattew Henry diz: "Para não deixar de socorrer os verdadeiramente necessitados, devemos vender o que nos é supérfluo - tudo que não é necessário para o sustento de nossa família- e dar aos pobres".

Vendei o que tendes no caso de se verificar que serve de impedimento no serviço a Cristo. "Não o vendais para entesourar no banco ou para ganhar mais pelo juro do dinheiro, mas para dar esmolas, pois o que é dado por caridade, e acertadamente, tem o melhor juro e a melhor garantia".

O servo vigilante (35-48). Temos um trecho resumido que parece com este, em Mateus 24.45-51. Evidentemente, o assunto aqui é a segunda vinda com relação aos servos de Cristo. Aprendemos: que a atitude do crente deve ser de serviço, testemunho e vigilância (vv. 35,36); que para os tais há uma especial bem-aventurança agora e um especial favor depois: os fieis servos de Deus serão servidos pelo seu Senhor! (v.37); que a vinda se dará "à hora que não imaginais"; que os servos precisam de sustento - material e espiritual - e que o Senhor nos convida a considerar quem, como mordomo ou despenseiro, pode prestar tal serviço. Talvez seja o diretor de algum instituto bíblico; que é possível alguém que figura como servo de Deus pode ser mau, descrente da vinda do Senhor, e opressor dos seus conservos. Esse terá, afinal, a sua parte com os infiéis.

O versículo 48 é muito importante por ensinar que o castigo dos iníquos será de acordo com a culpa de cada um, e com o seu conhecimento da vontade de Deus. Mas esta diferença de castigos não aparece em Mateus 25.41 nem em Apocalipse 21.9 que, por isso, se tornam mais difíceis de compreender. (Veja-se a explicação de Mateus 25).

Fogo e dissensão (vv.49-59). Vemos que Cristo é a pedra de toque para a humanidade, e durante os séculos os homens de bem têm-se submetido ao seu domínio, enquanto os maus têm reagido.

"O fogo que o Senhor fala (v.49) era esse que seguiu o batismo que Ele havia de consumar, isto é, sua morte expiatória (v.50). O fogo era também o dom do Espírito Santo, que veio, como aprendemos em Atos 2.3, como línguas de fogo. Este fogo pentecostal,  o fogo do divino amor que o Espírito Santo acende nos corações de todos os crentes (Stier), tem, não somente um poder purificador, separador, vivificador, mas também um efeito condenatório e discriminador que o leva a um conflito com os poderes das trevas, do mundo e de um século mau" (Goodman).

O fim do versículo 49 deve ser "e como desejo fosse já aceso!" (O. 31).

Três vezes no Evangelho de João lemos que havia dissensão por causa de Jesus (7.43; 9.16 e 10.19).

Notemos como Jesus fala de mais um batismo que Ele ia receber: uma iniciação em uma nova experiência - sofrimentos expiatórios. O mesmo é referido em Marcos 10.38, e Jesus pergunta a Tiago e João se poderão participar do mesmo batismo. Um ensino recente quer provar que este é o "um só batismo" de Efésios 4.5, mas essa ideia nos parece sem fundamento.

 

Vemos que os versículos 58,59 são muito parecidos com Mateus 5.25,26. Desde que o versículo 54 são as palavras dirigidas à multidão, que no versículo 56 Jesus chama de "hipócritas". O ensino sensato que aconselha um acordo com o adversário antes que este nos entregue ao magistrado tem levado alguns que perante Deus também convém ajustar as contas sem demora.



 

*

 

lucas CAPÍTULO 13



Severidade e misericórdia (1-5). O versículo 1 refere-se provavelmente aos seguidores de Judas Galonites, que se opôs ao pagamento do tributo a César e à submissão ao governo Romano. Um grupo destes galileus tinha vindo a Jerusalém para uma das grandes festas, e quando apresentavam as suas ofertas no Templo, Pilatos mandou uma companhia de soldados que os matou, e misturou sangue com o dos sacrifícios. Alguns julgavam que esses galileus pagaram bem pelos seus pecados, mas Jesus ensina que nem sempre o sofrimento é uma prova de culpa. Outros, que não têm sofrido nenhuma calamidade, perecerão afinal, se não se arrependerem (Mattew Henry).

 

A lição principal deste trecho é a necessidade universal de arrependimento para com Deus, como o apóstolo pregou em Atenas: "Deus... anuncia agora a todos os homens... que se arrependam" (At 17.30).

Há uma coisa que o Senhor insistiu em todas as suas pregações: todos são igualmente pecadores perante Ele, e todos necessitam do arrependimento, pois do contrário perecerão. Isto ouve-se pouco na pregação moderna, e, consequentemente, há pouca convicção do pecado e temor do Senhor. Esse arrependimento é descrito como segue:

a) É arrependimento para com Deus (At 20.21), e deve ser seguido pela "fé para com nosso Senhor Jesus Cristo".

b) É arrependimento "para a salvação 2 Co 7.10), pois o verdadeiro julgamento próprio e tristeza piedosa têm vista o achar a salvação naquele em quem somente se encontra.

c) É "arrependimento para a vida" (At 11.18), porque onde o "não quero" se muda em "quero" o coração está preparado para receber o dom de Deus, que é vida eterna.

d) É arrependimento "do qual ninguém se arrepende" (2 Co 7.10), isto é, mudança permanente concedida por aquele que Deus exaltou com sua destra para ser " Príncipe e Salvador, para dar arrependimento" (Goodman).

 

Na parábola da figueira (6-9), temos evidentemente uma figura de Israel, que foi por três anos objeto da cultura espiritual de Cristo. Aprendemos que Deus é paciente, e cultiva, ainda que a esperança de fruto seja pouca.

Curando no sábado (10-17). Nos Evangelhos há sete milagres de cura no sábado,  dos quais Lucas recorda cinco (4.31-37; 4.38,39; 6.6-11; 14.1,6 e este).

Na queixa do príncipe da sinagoga vemos uma religiosidade acanhada e exigente quanto à observância de preceitos e cerimônias, mas sem apreciação da graça de Deus, que dera o sábado aos homens como alívio e não como pesada carga.

Na mulher paralítica vemos necessidade, sofrimento prolongado, acanhamento (ela não pediu a cura), aproximação (ao menos ela chegou perto de Jesus, semelhante a alguns descrentes que frequentam a casa de oração). E vemos que ela afinal "Glorificava a Deus".

Em Jesus vemos observação, interesse, compaixão, contato (pôs as mãos sobre ela), e cura.

Sendo arguido pelo seu feito misericordioso, Ele mostrou discernimento da hipocrisia do adversário, uma compreensão sã da significado do sábado, um conhecimento do que "convinha" em semelhante caso. Qual é a nossa atitude para com o sábado e o primeiro dia da semana? Como foi que os primitivos crentes se ocupavam no primeiro dia da semana? Veja-se Lucas 24.1,13,33 a 36; João 20.19,26; Atos 20.7; 1 Coríntios 16.2.

No príncipe da sinagoga vemos insensibilidade espiritual, indignação descabida, conselho errado, hipocrisia religiosa, e, afinal, vergonha (v.17).

Notemos a diferença entre os adversários e o povo no versículo 17.

 

Mostarda e fermento (18-21) o Dr. Scroggie diz: "Nosso Senhor não hesitou em repetir suas mensagens, pois isso valia a pena. Estas duas parábolas fazem parte do discurso que Ele pronunciou perto do mar da Galiléia (Mt 13) e agora Ele o repete na Peréia". Notemos que a mostarda apresenta o aspecto exterior do Reino, e o fermento o interior.

Notemos também que Mateus diz "reino dos céus" e Lucas "reino de Deus"; e que "é" semelhante e não, "será" semelhante, como em Mateus 25.1.

Não devemos entender que a mostarda seja a mais pequena semente no mundo, mas é que a menor que o lavrador costuma semear; e que a "árvore", depois de crescida, era maior que as outras hortaliças no seu terreno (Thompson).

 

A porta estreita (22-30). Parece que a pergunta do versículo 23 foi motivada por curiosidade - talvez de alguém que se interessava pela estatística. Jesus imediatamente a transforma em assunto de urgência pessoal, porém se dirige não somente a quem fez a pergunta, mas a outros também. Aprendemos: que, para entrar na posse de todo o bem que pode haver para nós em Cristo, é preciso um propósito de energia; que muitos, futuramente, terão o desejo quando essas bênçãos não mais serão oferecidas; que o ter comido - talvez até a Santa Ceia - e ter escutado o ensino de Jesus não garantem uma bênção; que os que "praticam a iniquidade" devem esperar ficar bem longe de Deus no porvir; e que, pelo contrário, muitos de lugares remotos entrarão no gozo do reino.

 

O lamento sobre Jerusalém (31-35) é um dos trechos mais eloquentes e mais tocantes dos evangelhos. Notemos as palavras "quis eu" e "não quiseste". As palavras "a vossa casa" dão-nos a entender que Cristo não mais a reconhecia como casa de Deus (35).

 

O fim do versículo 32 deve ser "e no terceiro dia serei entregue" (O.20).

 

Leia-se no versículo 35: "A vossa casa será abandonada por vós"(O.20).




 

*

 

lucas CAPÍTULO



Um hidrópico curado (1-6). Outra vez aparece a questão de ser lícito curar no sábado. O silêncio dos fariseus (v.4) revelava a sua inimizade. No versículo 4 não queriam falar, e no versículo 6 não podiam.

Um ensino de humildade (7-14). A chave do ensino é o versículo 11. Todo o trecho de 1 a 24 trata de festas. Temos ensino para os convidados (7-11) e para os hospedeiros (v.14). A palavra recompensar, no versículo 14, merece nossa atenção.

"A expressão ' a ressurreição dos justos' dá a entender uma ressurreição especial, distinta da ressurreição geral. Esta distinção é desenvolvida nas epístolas."

A parábola da grande ceia (15-24) faz-nos pensar em Mateus 22.1-4, porém ali é um rei que faz a ceia, mas aqui 'um certo homem", pai de família.

Notemos aqui: a ceia preparada, o primeiro convite, as desculpas, o segundo convite (v.21), o terceiro convite (v.23) e a casa cheia. Entendemos que representa Israel convidado em primeiro lugar, e depois os gentios.

Vemos que as desculpas se referiam a coisas muito lícitas: compras, casamentos, etc. Há um ditado que "o bom é inimigo do melhor". A preocupação do leitor será com as coisas boas ou com a coisa melhor de tudo: "o reino de Deus e a sua justiça"?

 

O ensino da parábola é que a hospitalidade divina é grande (16), a provisão divina é abundante (16), o convite divino é extensivo (16,21,23), a misericórdia divina é persistente (17,21,23), o propósito divino é certo (23), e a ira divina é terrível (21) (Scroggie).

 

Notemos os seguintes pensamentos:

 

1) Foi Deus quem deu a festa. Ele é representado pelo "certo homem" que fez a grande ceia.

2) Ele proclama uma obra realizada. Ele preparou a festa. Ele nos reconciliou a si mesmo pela cruz de Cristo.

3) O convite está baseado no fato de que tudo está preparado : "Vinde, que já tudo está preparado".

4) É somente a loucura dos homens que os priva de gozar a salvação e a vida. Todos começaram a desculpar-se. A inimizade do coração natural contra Deus é um fato terrível.

5) Contudo, alguns tomam parte na festa: Os pobres (que não podem pagá-la); os aleijados (que não podem trabalhar por ela); os coxos (que não podem andar para ela); e os cegos (que não podem vê-la) (Goodman)

 

Três semelhanças da vida cristã (25-35) ocupam a nossa atenção neste trecho: 1) é semelhante à construção de uma torre; 2) é semelhante a uma guerra; 3) é semelhante ao sal. Por isso os cristãos devem ser um testemunho, devem combater o mal, devem conservar da corrupção a massa. (Consulte-se a nota sobre Mateus 5.13).

" Condições do discipulado. Este grande assunto é desenvolvido aqui por meio de declaração, aplicação e ilustração. Olhemos primeiro para a declaração (26,27). Duas condições do discipulado são afirmadas: a alma precisa deixar (26) e seguir (27), e deixar para seguir, pois não se segue verdadeiramente a Cristo onde não houver disposição e propósito para, se for preciso, abandonar tudo o mais."

Disto temos uma dupla ilustração (28-32). Primeiro a torre não acabada; segundo a guerra não travada. Estas ilustrações apresentam os dois aspectos da vida dos discípulos: interior e exterior, particular e pública; construção e luta.

Supõe-se um caso. Na primeira nota-se um bom começo, o trágico fracasso, a fulminante censura; na segunda, o enérgico desafio, o repentino colapso, e a vergonhosa transigência.

Então propõe-se um curso a seguir. Primeiro pensar no custo de edificar ou batalhar, e então dizer se pode mesmo começar a construir ou a lutar. o fariseu confiava que podia; o publicano tinha certeza que não podia.

Depois uma conclusão é sugerida. O homem não tem em si recurso para o trabalho interior ou a guerra exterior. Isto é o primeiro fato. O segundo é que todo recurso está em Cristo, que é Mestre Construtor e o poderoso Conquistador.

Segue-se a aplicação (33-35): que em tudo Ele seja o primeiro" (Scroggie).

No versículo 26 em vez de ' a sua própria vida' leia-se ' a si mesmo' (O. 77).

 

 

 

*

 

lucas CAPÍTULO 15



Este capítulo contém três parábolas de três perdidos: a ovelha perdida, a moeda perdida e o filho perdido.

Também fala de três regozijos: do pastor, da mulher e do pai.

Aprendemos uma lição de valores - a ovelha, uma criatura sem inteligência, valia mais do que imaginava; a moeda, um objeto sem vida, tinha importância aos olhos da sua possuidora; o filho, que desprezara o pai, descobriu que era amado sem merecer.

Por que esta parábola está dividida em três partes? Está assim dividida porque não podia ser uma só, ou mesmo duas, e apresentar toda a verdade. Vemos isto estudando a condição, a experiência e a redenção do perdido.

1) A condição do perdido. Aprendemos: da ovelha, que todos estamos perdidos por nossa própria ação; da moeda, que somos sem vida espiritual por natureza, e que, por natureza, somos "mortos em delitos e pecados"; do filho, que estamos perdidos por escolha.

2) A experiência do perdido. Na primeira história pensamos na miséria do perdido; na segunda, na sua insensibilidade; na terceira, no seu remorso.

3) O resgate do perdido. Mais um motivo para ser a parábola dividida em três partes, é para revelar a Trindade. Na primeira parte o Filho redime; na segunda, o Espírito, opera e restaura; na terceira, o Pai recebe (Scroggie).

O pregador do Evangelho deve notar o que falta nesta parábola do "perdido e achado". Nada se diz sobre a base do perdão: o sangue derramado; uma obra redentora consumada; a justiça divina satisfeita.

Devemos estudar não somente o caso do filho pródigo, mas também o do filho mais velho (vv.11-22). Vemos: que ele, apesar de estar sempre em casa com o pai, era, moralmente, mais afastado do que o moço fugitivo; que não tinha coração para apreciar a graça que espera, anela, recebe, e abençoa o pródigo, e se regozija com a sua volta; que queria gozar com seus amigos e não com seu pai; que estava demasiadamente preocupado com a sua bondade própria; que nada tinha do amor que tudo espera - até mesmo a restauração de um pródigo perdido; que o pai, embora magoado pela sua indiferença, tratou-o com muita bondade.

 

O Dr. Guthrie usa as seguintes divisões:

 

 

1) A conduta do pródigo.

2) A mudança de pensamento do pródigo.

3) A miséria do pródigo: perecendo de fome.

4) A crença do pródigo: que com meu pai havia abundância, até para os criados.

5) A resolução do pródigo.

 

No pai notamos:

 

1) Como recebeu o filho.

2) Como tratou o pródigo.

3) Como se regozijou com a volta do pródigo.

 

 

 

*

 

lucas CAPÍTULO 16



   O mordomo infiel (1-13) tem sido a mais discutida de todas as personagens das parábolas. Para orientar a nossa interpretação, devemos notar o seguinte:

Ele não foi louvado por Deus, mas pelo seu patrão. Mostrou-se prudente e prevenido com respeito ao porvir. Nesse particular é que ele serve de lição às pessoas mais honestas.

O Dr. Bullinger oferece uma tradução diferente do versículo 9: "E eu, porventura, digo-vos: Fazei amigos pelas riquezas da injustiça, para que, quando necessitardes [ou "quando elas acabarem"] vos recebam nos tabernáculos eternos?"[não!] (J.56, O.56, T.285).

O Dr. Scroggie diz: "Muito podemos aprender com os homens deste mundo. As realidades do pecador são bem positivas: Cama, alimento, dinheiro; crendo em tais coisas, ele vive para elas. Será que o crente crê no que é eterno como o descrente crê nas coisas presentes? Este mordomo cuidou do seu futuro. Tinha sido infiel, e preparou-se para o que ia acontecer. E a nós têm sido confiadas maiores riquezas por um Senhor. Não teremos de dar contas?Bênção futura pode resultar do bom emprego das oportunidades atuais. (v.9). Há pequenas provas de grandes princípios (vv. 10-12). Nossa fidelidade em coisas pequenas revela nosso caráter, e a fidelidade é filha da realidade (v.13)".

O dr, Goodman escreve: "Nosso Senhor condena o mordomo como injusto (v.8), mas note-se este ensino: Se um homem injusto emprega dinheiro para providenciar o futuro, muito mais devem ser os filhos da luz igualmente prevenidos. Porventura os maus devem ser mais prudentes que os bons?

 

"Neste princípio o Senhor apresenta quatro lições:

1) Fazer amigos por meio das riquezas da injustiça (o dinheiro); fazer bem com elas; ganhar com elas gratidão e amor. Algum dia, na vossa necessidade, aqueles que assim foram servidos vos receberão em "tabernáculos eternos", isto é, no seu permanente amor e gratidão.

2) A fidelidade no mínimo resultaria na fidelidade em tudo.

3) No caso de não sermos fieis no uso do dinheiro que chamamos nosso, como podemos esperar que Deus nos dê as riquezas verdadeiras (v.11)? O dinheiro é o nível mais baixo da riqueza; o mais elevado é o caráter: ser encarregado do Evangelho; ser designado despenseiros da multiforme graça de Deus.(1 Co 4.1; 1 Pe 4.10).Deus escolhe seus despenseiros da maior riqueza entre aqueles que o servem fielmente.

 4) Não podemos servir a dois senhores".

 

A palavra grega "mammonas"traduzida Mamon (v.13), é o nome de uma divindade siríaca, deus das riquezas.

 

Diz F.W. Grant: "O mordomo chama os devedores do seu senhor para verificar a situação de cada um, e cancela uma parte da dívida de cada um, coisa que como Edersheim observa, estava no seu direito, embora o tenha feito por um motivo injusto. Podia ter feito isso por misericórdia e até interesse do seu senhor, mas fê-lo pelo seu próprio interesse. (Van Oosterzee imagina que a diferença cancelada fosse um acréscimo que o próprio mordomo havia exigido, e que, com o cancelamento, ele acertou as respectivas contas entre os devedores e o dono, ganhando ainda a gratidão daqueles. Conclui que era o excesso que exigira, que dispensou, assim ele ajustou as contas com o patrão, ao mesmo tempo que ganhou crédito com os devedores. Mas isto muito que é suposição; e não parece que ele esperava endireitar a conta. A sabedoria com que ele tirou partido daquilo que tinha nas mãos, é evidente".

É triste ler que os fariseus avarentos zombaram deste ensino precioso, em vez de o praticarem (vv 14-18). E hoje muitos que não são fariseus ocupam-se com curiosas especulações referentes ao mordomo infiel, em vez de obedecerem aos quatro ensinos evidentes ( apontados pelo Dr. Goodman) que os mais símplices podem entender.

 

Podemos perceber a figura de elipse: "Todo homem [que tenha propósitos e energia espirituais] forceja por entrar nele" (v.16).

O rico e Lázaro (19-31). Esta narrativa não é declarada uma parábola, e é interessante ter sido mencionada o nome do pobre mendigo, o que não era de se esperar no caso de uma parábola.

Visto que a palavra grega "kai" tem dois sentidos: e e também, tem-se sugerido uma tradução alternativa do versículo 22: " morreu também o rico, e foi sepultado também no Hades". Mas, ainda assim, embora ambos estivessem no Hades ( o lugar, ou talvez o estado, dos mortos) havia uma diferença, uma distância, e um "grande abismo"entre os dois.

"No rico descobrimos certos defeitos de caráter que podem explicar seu destino final. Era egoísta, gastou sua riqueza consigo. Era guloso, e devemos entender que por isso era moralmente degenerado.

Era vaidoso, o que demonstrava pelo vestuário. Era (talvez) sem compaixão para com os pobres e necessitados, mas devemos notar que não era criminoso". Entre outras coisas, o trecho ensina a importância de atender ao ensino de "Moisés e os profetas", isto é, às sagradas Escrituras.

"Os gozos do céu são espirituais, e ali não há prazeres para os que não têm o temor de Deus ou o desejo de obedecer; e por isso aquele que, por uma longa vida de egoísmo e de esquecimento de Deus, tem endurecido a sua alma, com isso tem posto um grande abismo entre si mesmo e o Céu" (Goodman).

 

"Estou atormentado nesta chama" (v.24). "É do tormento da sua alma que ele se queixa, portanto, trata-se de um fogo que arde na alma. Tal fogo é a ira de Deus., sofrida por uma consciência acusadora, um coração que se condena. Para o corpo nada há mais terrível do que ser atormentado pelo fogo: por isso as misérias das almas iníquas condenadas são representadas por esta figura" (Mattew Henry).

 

Talvez haja interesse para o leitor saber da recente teoria que, quando Jesus disse esta parábola aos seus inimigos, os fariseus ( a quem era inútil ensinar verdades divinas porque não queriam obedecer a elas - Jo 7-17), Ele falou ironicamente, levando à sua legítima conclusão os ensinos deles sobre o "seio de Abraão", e a doutrina que quem era infeliz neste mundo naturalmente havia de ser recompensado futuramente no outro. Jesus então desenvolve esta doutrina, dizendo que, nesse caso, quem era abastado neste mundo (como eram os avarentos fariseus) devia sofrer a privação de todo o bem no porvir.

Essa teoria acha-se apresentada num tratado de 32 páginas, que não temos espaço para traduzir, mas ela tem a probabilidade suficiente para nos ensinar a sermos prudentes em aceitar ideias religiosas que não têm base bíblica senão nesta parábola. Por exemplo: que Jesus chamou o céu de "o seio de Abraão"; que os ricos, mesmo que não sejam ímpios, irão para o inferno; que os pobres, mesmo que não sejam piedosos, irão para o Céu; que a sorte de cada um no porvir será o contrário da sua condição aqui.

 

Tudo isto pode ser deduzido da parábola, se havemos de tomá-la como ensino direto; mas não, se for tomada com ironia, semelhante à parábola de Jotão em Juízes 9.8-15.

 

*

 

lucas CAPÍTULO 17



Conduta cristã (1-10). O versículo 2 ensina a nossa responsabilidade para com os companheiros - podemos ajudá-los ou ser-lhes ocasião de tropeço. Especialmente devemos ter cuidado de não prejudicar espiritualmente "estes pequenos".

Os versículos 3,4 nos recordam Mateus 18.15-20, e o versículo 6 faz lembrar Mateus 17.20.

Há três coisas no versículo 3 que devemos praticar:

1) tomar sentido de nós mesmos- examinar nosso espírito e procedimento;

2) admoestar o irmão pecaminoso;

3) perdoar ao irmão arrependido.

 

Sobre o aumento da fé (vv.5,6) o Senhor ensina: que a fé se desenvolve pelo crescimento interior, não exterior; que a mínima fé em Deus e na sua Palavra pode operar maravilhas. Notemos, porém, que a fé necessita de base: precisa poder alegar uma convicção fundada na palavra e vontade de Deus.

"A fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus". Devemos desconfiar de qualquer "fé" que tenha outra origem.

 

Fé como grão de mostarda. Que há na semente da mostarda que ilustra a fé? Podemos observar:

a) Há vida. A semente não é como o grão de areia, é uma partícula viva. A fé precisa ser viva.

b) Há poder. O pequenino rebento rompe a terra, tornando-se em árvore (Mt 13.32). Assim a fé, embora pequena, pode desenvolver-se a ponto de poder atirar uma montanha no mar (17.20). ( Leia-se Hebreus 11 acerca dos heróis da fé). Nada é impossível à fé.

c) Pode crescer. A fé é a confiança em Deus que leva o homem a descansar na sua palavra. Essa confiança cresce pela experiência.

d) A fé é humilde (pequena). A fé lança mão do poder de Deus , e nada faz por poder próprio. Por isso confessa: "Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer".

 

Outra lição deste trecho refere-se ao serviço (vv.7-10). "O propósito de Cristo não é ensinar com que espírito Deus trata seus servos, mas ensinar com que espírito devemos servir a Deus". Não há virtude extraordinária em cumprir o dever (v.10).

 

Os dez leprosos curados (11-19). Este incidente ensina-nos que não é só receber a bênção de Cristo; tendo recebido, convém, ao menos, dar graças a Deus. É de notar que o homem grato era um desprezado samaritano. (Para saber a origem dos samaritanos, consulte-se  2 Reis 17.24-41).

Os dez ilustram a obediência da fé, que age de acordo com a Palavra de Deus antes de receber a bênção.

Na purificação destes dez homens temos algumas lições excelentes:

1) "Pararam de longe" (12). Seu triste estado o exigia; a Lei ordenava (Lv 13.45,46). Teriam sido, talvez, apedrejados se tivessem procurado misturar-se com o povo. Nisto vemos uma figura do nosso estado natural: Somos imundos e estávamos longe (Ef 2.13).

2) "Levantaram a voz, dizendo: Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós" (13). Invocaram o nome do Senhor, e a Bíblia nos diz que quem assim fizer "será salvo" (Rm 10.13).

3) O senhor respeitou a Lei. Não somente Ele mesmo a guardou, mas, mandou os leprosos cumprirem-na (v.14). Ele mostrou que não viera  para a destruir (Mt 5.17), mas para a fazer gloriosa (Is 42.21).

4) Foi pela obediência da fé que os leprosos foram sarados. "Indo eles, ficaram limpos". Aqui temos uma grande lição. "Pois pela graça sois salvos, mediante a fé". Logo que haja fé, a bênção segue-a.

5) Nem todos os curados sentiram gratidão ou voltaram para agradecer! Muitos que se dizem cristãos não frequentam as casas de oração para dar graças a Deus.

6) "Este estrangeiro" é o título que o Senhor dá ao samaritano. É verdade: Ele estava "Sem Cristo, separado da comunidade de Israel, estranho aos concertos da promessa" (Ef 2.12). Outrora éramos assim também, mas agora, em Cristo, pelo seu sangue chegamos perto.

7) "A tua fé te salvou". Isto foi dito somente ao que voltou, pois ele tinha a fé genuína que traz a salvação. Os outros tinham uma fé que ficou satisfeita só com a cura do corpo" (Goodman).

A vinda do reino (20-37). Os que fazem a pergunta do versículo 20 são fariseus, mas a respeito é dirigida aos discípulos (v.22). Notemos que este trecho é parecido com Mateus 24. 36-44.

"Quem estiver no telhado e as suas alfaias (bens) em casa, não desça a tomá-las"(v.31). O telhado plano era servido geralmente por uma escada exterior, e quem fugia apressadamente do telhado não teria tempo para entrar em casa.

 

Sobre o versículo 37, diz Scroggie: " O cadáver é a humanidade destituída da vida de Deus, e as águias (urubus) representam o juízo divino". (Consulte-se sobre Mateus 24.28). "O juízo final ( e também a primeira fase da segunda vinda de Cristo), será tão discriminador como repentino: um homem tirado da sua cama e sua esposa deixada; uma mulher tirada do moinho e outra deixada. Perguntam, "Onde?" e Ele responde que onde estiver o corpo, aí se ajuntarão as águias. Onde estiver a corrupção, ali o juízo que há de purificar a terra a descobrirá" (Grant).

 

 

 

 

 

 

 

 

*

 

lucas CAPÍTULO 18



Duas parábolas referentes à oração (1-14). A primeira ensina a não desfalecer; a segunda a não fingir. A primeira pede vingança; a segunda misericórdia.

O fim do versículo 7 tem sido traduzido diversamente; uns entendem que "eles" são os "escolhidos", e outros que são os seus inimigos. De acordo com o primeiro modo de entender, a V.B tem "embora * seja demorado em defendê-los".

*A palavra grega "kai", geralmente traduzida também, não parece ter o sentido de "embora".

Outro tradutor dá: "E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de ia e de noite - a ele que é tão longânimo?".

O que a escritura afirma, e que a experiência confirma, é que deve haver persistência na oração; que não seja difícil conseguir que Deus atenda, mas, provavelmente, porque nem sempre podemos receber dignamente a resposta desejada.

No caso do publicano, vemos um pecador justificado (v.14). Notemos os seguintes pontos:

1) É a justificação de um pecador.

2) é uma justificação pela graça, pois o homem não merecia a misericórdia que pediu.

3) É uma justificação por sangue (Rm 5.9), porque ele estava no templo, vendo o sacrifício do cordeiro, à tarde , e rogou: "Ó Deus, sê propício [hilastheti] a mim, pecador.

4) Era uma justificação pela fé (Rm 5.1), porque nenhuma obra justificou alguém. O publicano creu, e foi-se em paz para casa (Scroggie).

 

Jesus e os meninos (15-17). Do versículo 15 até o fim do capítulo, Lucas acompanha de perto a narrativa de Mateus e Marcos.

É só Lucas que tem as palavras no versículo 16, "chamando para si os meninos", mas a narrativa mais completa está em Marcos 10.13-16.

O moço rico (18-30). Para a explicação deste trecho, consulte-se sobre Marcos 10.

A chave do ensino de Jesus ao moço está nas palavras: "Vem e segue-me". É somente seguindo a Jesus que podemos conhecer praticamente a verdadeira vida, a "vida eterna", em comunhão com os propósitos divinos. E, em certos casos, será preciso desembaraçar-se de algum empecilho. No caso deste moço, o empecilho era seu apego aos bens materiais.

Os três evangelhos sinóticos contam o incidente, mas somente Lucas tem as palavras: "E vendo Jesus que ele ficara triste" (v.24). Podemos contrastar com este caso o de um certo doutor da Lei em Lucas 10.25.

A este incidente segue a parábola dos trabalhadores, contada somente por Mateus.

Jesus anuncia a sua paixão (31-34). Disto o relatório mais detalhado é o de Marcos. A segunda parte do versículo está só em Lucas, como também a referência a ser Jesus "cuspido e açoitado" (vv.31,33), mas somente Mateus fala de crucificação.

Notemos a significação das palavras "será entregue aos gentios" (v.32); assim Israel, havia de manifestar a sua pouca apreciação do Messias prometido!

Jesus fez referência oitenta e duas vezes a si mesmo como "o Filho do homem". A expressão ocorre apenas três vezes no restante do N.T (At 7.55,56; Ap 1.13; 14.14).

A expressão encontra-se também no V.T, especialmente nos livros de Daniel e Ezequiel, ambos os profetas sendo tratados como "filho do homem" (Dn 8.17, e em Ezequiel noventa vezes) (Goodman).

 

O cego de Jericó (35-43). Alguns entendem que houve dois milagres quase idênticos, um à entrada de Jericó (Lucas) e outro à saída (Marcos). "Estes dois milagres, relatados separadamente por Lucas e Marcos, são combinados por Mateus" (Mimpriss).

 

Contudo, parece mais provável que tenha havido somente um, e não podemos saber ao certo se foi antes ou depois da entrada de Jericó.

 

As três palavras ditas ao cego podem ensinar-nos três lições:

1) "Que queres que te faça?" Deus primeiro faz seu apelo à vontade. Os que não querem, não recebem.

2) "Vê"- Uma palavra de poder. A fé que pode receber algo de Deus é uma fé que salva.

3) "A tua fé te salvou". Isto repete o que é frequentemente ensinado na Escritura: que Deus honra a fé porque a fé honra a Deus.

Notemos no cego: o seu estado deplorável (v.35); a sua esperança nascente (vv.36,37); a sua compreensão da necessidade (vv.38,39); a sua simples fé (v.40); a sua petição positiva (41,42); a sua cura instantânea (v.43); o seu testemunho público (v.13) (Scroggie).

 

Somente Lucas tem as palavras "glorificando a Deus" (v.43).




 

*

 

lucas CAPÍTULO 19



    Zaqueu o publicano (1-10). Este trecho, um dos prediletos dos pregadores, tem sido explicado de muitas maneiras. No guia do pregador tenho três estudos sobre ele.

Entre uma grande variedade de exposições do trecho que tenho por vários autores, há a seguinte por esse "príncipe de pregadores". C.H.Spurgeon:

Zaqueu era um homem:

a) exercia um cargo desprezível - um cobrador de impostos;

b) mal visto pelas pessoas de boa fama;

c) rico, e sua riqueza era suspeita de ser mal adquirida;

d) excêntrico- ou não teria trepado na árvore;

e) bem longe de ser uma pessoa de consideração.

 

A esse veio Jesus; e Ele pode vir a nós, embora sejamos semelhantemente desprezados por muitos, e por isto dispostos a pensar que Ele nos desprezará também.

 

1) Consideremos a necessidade que o Salvador sentiu de visitar a casa de Zaqueu.

Ele sentiu urgente necessidade de:

a) um pecador que aceitasse a sua misericórdia;

b) uma pessoa que ilustrasse a soberania da sua escolha;

c) um caráter cuja conversão engrandeceria sua graça;

d) um hospedeiro que o recebesse com cordialidade;

e) um caso que divulgasse a grandeza do seu Evangelho (vv. 9,10).

Havia necessidade de servir: "Hoje me convém pousar na tua casa"; necessidade de beneficência em que outros receberiam bênção por meio de Zaqueu.

 

2) Indaguemos se semelhantes necessidades existem em nosso caso.

Podemos verificar isto, respondendo às seguintes perguntas, sugeridas pelo procedimento de Zaqueu:

a) Queremos nós recebê-lo hoje? Zaqueu apresentou-se.

b) Recebê-lo-emos cordialmente? Zaqueu o recebeu com gosto.

c) Recebê-lo-emos apesar da crítica dos outros? Os assistentes murmuravam.

d) Recebê-lo-emos como Senhor? Zaqueu disse "Eis, Senhor".

e) Recebê-lo-emos para pôr nossos bens à sua disposição? (v.18).

3)Entendamos bem o que essa necessidade importa! Se o Senhor Jesus vem para ficar em nossa casa: a) precisamos preparar-nos para enfrentar a oposição da família; b) Precisamos acabar com tudo que não lhe agrada; c) precisamos deixar de admitir quem entristeça nosso hóspede celestial; d) precisamos permitir-lhe governar nossa casa sempre e inteiramente; e) precisamos permitir-lhe servir-se de nós como instrumentos para o progresso do seu reino.

Por que não receber o Senhor hoje?

Não há nenhuma razão contrária; há muitos motivos a favor. Ouçamos, atentos, a sua palavra: "Hoje me convém pousar na tua casa".

 

F.W. Grant aprecia Zaqueu por outro prisma:

"O nome significa "puro" ou "limpo", como as suas palavras o mostram ser. Devemos entendê-las, certamente, não como aquilo que ia fazer, mas como a resposta à acusação murmurada contra ele, e que comprometia a Cristo também por ter ido pousar em casa de um homem pecador. "Um pecador". Zaqueu podia dizer: "eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens, e se nalguma coisa tenho defraudado alguém por acusação falsa (grego) - uma coisa que podia acontecer inadvertidamente - o restituo quadruplicado". Ele fala daquilo que faz habitualmente, não de uma nova resolução.

"Contudo Zaqueu não é um mero fariseu sob capa de publicano. Bem podia haver nele algo de farisaísmo, pois isso pertence à nossa natureza caída; e as palavras de nosso Senhor, meigas e ternas como são, podem corrigir tal tendência embora Ele não tivesse falado assim a um verdadeiro fariseu. Para Ele um "filho de Abraão" devia significar um filho da fé (Jo 8.39), e nesse dia a salvação tinha vindo àquela casa quando o objeto da fé foi nela recebido. Assim a salvação veio a Zaqueu, não mediante a pureza da vida que ele podia alegar, mas por aquele que ele procurara, e que o tinha procurado primeiro, pois "o Filho do homem veio buscar o que se havia perdido", e um dos tais era Zaqueu.

 

 A parábola das dez minas. (11-27). Esta é muito parecida com a dos dez talentos em Mateus 25, mas com a diferença de que em Mateus os servos recebem cinco, dois ou um talentos, e em Lucas cada um recebe uma mina. Aprendemos desta parábola:

1) que os inimigos de Deus recusaram o senhorio de Cristo, e odiaram-no;

2) que pode haver quem tome lugar de servo, porém sem trabalhar;

3) que alguns prestam mais serviço do que os outros;

4) que a fidelidade nos pequenos serviços de agora resultará no privilégio de maiores responsabilidades futuramente.

 

No caso do servo maligno, notamos:

1) que era covarde, como ele mesmo disse (v.21);

2) que ignorava o caráter do seu senhor, chamando-o "homem rigoroso";

3) que era preguiçoso;

4) que ficou sem o que tinha (24)- (Goodman).

 

No versículo 20 leia-se: 'E veio o último, dizendo" (O.134).

A entrada triunfal em Jerusalém (24-44) é relatada pelos quatro evangelistas, porém mais resumidamente por João. É somente Lucas que recorda a resposta dos dois discípulos ao dono do Jumento: "O Senhor o há de mister" (v.34), e os versículos 39 a 44.

Notemos:

1) Jesus escolheu, por humildade , um jumentinho, e não um cavalo - animal de guerra- para sua montaria.

2) Seus discípulos, na falta de arreios, tiveram a feliz lembrança de ceder cada um seu vestido para forrar o lombo do animal. E nós, que temos gastado com Jesus?

3) Havia já uma multidão de discípulos (v.37) e não somente os doze apóstolos.

4) Havia, como sempre, pessoas que criticavam esta manifestação de entusiasmo.

5) Jesus recusou-se a repreender o regozijo dos discípulos.

6) Longe de se regozijar; afligiu-se ao pensar na sorte de Jerusalém e seus filhos.

O versículo 42 deve ser "Oxalá que tu conhecesses também..." (O.31).

A profecia dos versículos 43,44 foi cumprida 40 anos mais tarde, quando Tito destruiu Jerusalém.

A segunda purificação do Templo (45-48) é relatada, com pouca diferença, pelos evangelhos sinóticos. Só Lucas tem as palavras "e todos os dias ensinava no templo" (v.47).

No versículo 46 há uma alusão a Isaías 56.7 e a Jeremias 7.11.

Nos versículos 47,48 notemos as diferentes pessoas referidas:

a) Jesus ensinando publicamente no templo até o fim;

b) sacerdotes e escribas, cheios de ódio religioso, querendo matá-lo;

c) o povo "suspenso quando o ouvia" (Fig.);

d) e nós, escutamos e obedecemos ao ensino do Salvador?


23

24

*

 

lucas CAPÍTULO 20



    O batismo de João (1-3). Este trecho é dado com pouca diferença pelos três evangelhos sinóticos. Somente Lucas emprega a palavra "sobrevieram", quando fala na chegada dos principais sacerdotes, como se as suas interrogações fossem uma espécie de assalto. É terça-feira da semana da paixão.

A pergunta "com que autoridade?" refere-se, provavelmente, à purificação do templo.

Os sacerdotes tinham-se em conta de ensinadores autorizados, e queriam combater esse "pregador sem ordenação". Hoje pode-se dar uma coisa semelhante.

Os lavradores maus (9-18). Esta parábola é contada pelos três evangelistas quase em palavras idênticas. É só Lucas que fala de sacerdotes e escribas (v.19).

Os servos eram os profetas enviados, de vez em quando, a Israel rebelde. Notemos como o Senhor aqui afirma ser Ele o Filho de Deus (vv. 13-15). Os versículos 14 e 15 cumpriram-se três dias depois.

 

A pedra reprovada. No começo da época atual, Israel caiu sobre a pedra, Cristo, e foi quebrado. No fim desta época a pedra - Cristo- cairá sobre o poder dos gentios e os esmagará (Dn 2.44) (Scroggie).

 

Tributo para César (19-26). Mateus põe aqui a parábola das bodas (Mt 22.1-14), e depois os três evangelistas relatam a interrogação sobre o tributo.

Somente Lucas explica o verdadeiro motivo da cilada dos inimigos: para "entregá-lo à jurisdição e poder do presidente".

"Jesus não ensina aqui que não se pode servir a Deus quando se serve ao Estado, nem que seja impossível servir-se o Estado quando se serve a Deus. Ele não ensina que o sagrado e o secular são incompatíveis. Nossos deveres cristãos e civis não devem chocar-se; temos obrigações perante a lei divina e perante a lei humana" (Scroggie).

 

A questão da ressurreição (27-40). Este trecho está em todos os evangelhos sinóticos em linguagem quase idêntica. Algumas partes dos versículos 35,36,39,40, só temos em Lucas.

Aprendemos aqui: 1) Que há uma vida futura pela ressurreição;

2) Que nem todos serão dignos de desfrutá-la (35);

3) Que na vida além não há casamento nem morte;

4) Que os ressurgidos são iguais aos anjos, sendo filhos de Deus. (Consulte-se também em Mateus 22.23-33).

Notemos que a Escritura nunca diz que os iníquos vivem no mundo além. Existir é uma coisa; viver é outra.

Notemos que no versículo 35 devemos ler "ressurreição de entre os mortos".

 

As verdades que o Senhor trouxe à luz na sua resposta são as seguintes:

1) Todos os mortos vivem para Deus (38). Em nenhuma parte das Escrituras se fala da morte como sendo uma cessação da existência. "Aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo" (Hb 9.27). Há um "depois" em cada caso.

2) Abraão, Isaque e Jacó, todos morreram, mas Deus ainda se chama seu Deus (37), e Ele não é Deus dos mortos, mas dos vivos.

3) Na ressurreição não há casamento (35-36).

4) Os que alcançam o mundo vindouro, isto é, os regenerados, os únicos que podem herdá-lo (1 Co 15.50) por fé em Cristo, são iguais aos anjos (36) na sua condição bem- aventurada.

Jesus interroga seus adversários (41-47). Vemos em Mateus que Jesus dirigiu a sua pergunta aos fariseus, começando com "Que pensais vós de Cristo?".

O argumento é: Como podia Davi falar do Messias como sendo ao mesmo tempo seu filho e seu Senhor? Podia somente porque esse "filho de Davi" era também o Filho de Deus.

 

 

 

*

 

lucas CAPÍTULO 21



    A oferta da viúva (1-4) não é narrada por Mateus, mas só por Marcos e Lucas, e por Marcos com um pouco mais de detalhes.

O nome da viúva pobre não está registrado na terra, mas sem dúvida está escrito no céu. Sua fama tem sido ecoada através do mundo, e seu exemplo tem trazido mais ao tesouro do que qualquer rico jamais deu.Ela deu mais do que pensava nesse dia, pois deu um exemplo, e em verdade deu "mais do que todos" (v.3). Este incidente tocante e simples tem-se tornado o maior exemplo da contribuição. Colhamos as lições principais:

a) O valor de nossas ofertas não é contado pela quantia.

b) Ao dar, o motivo e não o material, é o que mais importa.

c) A viúva podia ter achado uma desculpa para não dar, mas ela não procurava desculpa.

d) Dádivas pequenas não são desprezíveis.

e) Nossas dádivas podem ganhar a aprovação do Mestre (Goodman).

Jesus conta de modo diferente dos homens em geral, considerando não tanto a importância contribuída, mas a soma retida. Ela nada guardou para si,portanto, de acordo com o seu conceito de Cristo, aquela viúva dera mais do que todos. Pois os outros deram a sua abundância, mas retiveram muito, enquanto ela contribuiu com tudo o que tinha para o seu sustento (Grant).

"Como é que Jesus estima o valor das dádivas? Certamente não pela sua quantia, mas antes:

1) Pelo espírito com que a dádiva é feita. Devemos dar:

a) secretamente (Mt 6.3,4);

b) voluntariamente (1 Tm 6.18),porque o que se der contra a vontade será dado por algum motivo errado;

c) alegremente (2 Co 9.7);

d) liberalmente (Rm 12.8).

 

2) Pela proporção que a dádiva representa em relação às possibilidades do ofertante. O que seria verdadeiro sacrifício para um, pode ser uma ninharia para outro.

3) Pela sabedoria e amor manifestados pela dádiva. Muita da nossa beneficência é prejudicial. Devia haver bastante oração sobre como devemos oferecer nossas dádivas. Dar todos os nossos bens aos pobres sem haver amor, nada vale (1 Co 13.3).

 

O sermão profético (5-36), apresentado por mais extenso em Mateus 24, contém alguns pormenores narrados somente em Lucas, como, por exemplo: os sinais no céu do versículo 11; a "boca e sabedoria" do versículo 15; "não perecerá nem um cabelo da vossa cabeça" (vv. 18,19); Jerusalém cercada de exércitos no versículo 20; os dias de vingança do versículo 22, e o importante versículo 24.

 

"Nos versículos 5-11 e 25-36 temos um resumo de Mateus 24, falando da segunda vinda de Cristo, mas nos versículos 12-24 temos uma profecia da destruição de Jerusalém, que se cumpriu em 70 d.C. Notemos o começo do trecho: "Antes de todas estas coisas" (v.12)".

"Na vossa paciência possuí as vossas almas" (v.19) significa: Se nestas provações fordes pacientes, ficareis calmos, e senhores de vossos corações."

"Ponha sua mão sobre o meu coração", disse um crente perseguido ao seu juiz injusto, "e depois sobre o seu, e diga-me qual bate mais depressa". Mesmo em tais circunstâncias, é verdade que "Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firmada em ti" (Is 26.3).

"Jerusalém cercada de exércitos" (v.20) havia de ser o sinal que sua desolação estava próxima, e que deviam fugir para as montanhas. Em Mateus 24.15 e Marcos 13.14 isto é referido como sendo "a abominação da desolação".

 

Entre o primeiro sítio de Jerusalém por Céstio em 66 d.C. , do assalto final por Tito em 70, os cristãos, reconhecendo o cumprimento das Palavras do Senhor, obedeceram ao aviso e fugiram para o terreno montanhoso de Pela. Assim salvaram-se dos horrores do sítio e da destruição final da cidade (Goodman).

"Outra particularidade de Lucas se vê neste discurso do monte das Oliveiras (Mt 24.2). Os versículos 20 e 22 não são dados por Mateus ou Marcos.Toda esta seção em Lucas 20-24 refere-se ao cerco de Jerusalém por Tito em 70 d.C., mas esse sítio pode ser uma figura de outro no fim deste período, do qual lemos no V.T.

"Neste cerco final a cidade não será tomada, mas libertada pela vinda de Cristo (Ap 19.11-21), as referências em Mateus e Marcos são a esse último sítio e não ao anterior como em Lucas.

Em Lucas o sinal é Jerusalém cercada de exército (v.20), mas nos outros evangelhos é a abominação no lugar santo (2 Ts 2.4). Não há nenhuma contradição dos evangelistas, pois vemos que havia perguntas com respeito ao começo e ao fim da tribulação de Jerusalém" (Gray).

"Os tempos dos gentios" (v.24) começaram com o cativeiro de Judá sob Nabucodonosor (2 Cr 36.11-21), e desde então  Jerusalém tem estado sob o domínio gentílico (Scofield).

 

A segunda vinda de Cristo (25-36). Alguns entendem que os "sinais", no sol, estrelas, etc. representam perturbações de governos.

 

"Como no primeiro advento havia duas profecias diferentes, uma dizendo que Cristo viria a Belém (Mq 5.2), e outra Sião (Zc 9.9), e ambas se verificaram, embora com intervalo de 33 anos, assim a segunda vinda pode ser dividida em duas fases, primeiro para seu povo (1 Ts 4.16) e depois com seu povo (2 Ts 1.10)"(Scroggie).

 

Preparando a Ceia pascal (1-13). Chegamos outra vez a última Páscoa e a Santa Ceia. E notamos como o Senhor Jesus, transformou a velha festa tradicional, dando-lhe uma significação inteiramente  nova e cristã.

"Segundo todos os esboços da semana da Paixão, a quarta-feira é considerada um dia de retiro do qual não há nada registrado, o que faz presumir que a crucificação se tenha verificado na sexta-feira. Isto tem sido discutido, sendo possível que fosse quinta-feira o dia da crucificação, caso este em que o problema dos "três dias e três noites" no sepulcro ficaria resolvido".

"Por uma comparação dos quatro evangelhos, fica evidente que Jesus e seus discípulos não observaram a Páscoa ao mesmo tempo que os judeus, mas vinte e quatro horas mais cedo" (Scroggie).

 

Algumas palavras principais do trecho (14-23):

a) Recordação: "Fazei isto em memória de mim!" (v.19).

b) Comunhão (1 Co 10.16). Confessamos nosso interesse comum na morte expiatória.

c) Discernimento (1 Co 11.29), porque a fé enxerga a realidade através da figura, e sob a figura o coração aprecia o fato.

d) Unidade do corpo (1 Co 10.17): "Nós, sendo muitos, somos um".

e) Testemunho (1 Co 11.26), para que todo o mundo saiba a base em que descansa a nossa fé.

f) Antecipação - até que Ele venha (Goodman).

"Duas festas uniram-se nesta celebração". Nesse cenáculo deu-se um acontecimento notável: A festa pascal foi solenemente encerrada (16-18), e a Santa Ceia instituída com igual solenidade (19,20).

Sobre essa mesa terminou um período e começou outro; Cristo era o cumprimento de uma ordenança e a consumação de outra" (Scroggie).

O maior será como o menor (24-30). Este trecho é um tanto parecido com Mateus 20 e Marcos 10, mas somente se encontra em Lucas.

Vemos os discípulos contendendo logo depois da Ceia do Senhor! Aprendemos: que nos momentos mais solenes a carne tende a manifestar-se; que o reino de Deus não é semelhante a um governo mundano, mas é contrastado com ele; que a verdadeira grandeza no reino é servir, como Cristo mostrou pelo seu exemplo; que Jesus apreciou a companhia dos discípulos nas suas provações; que os apóstolos futuramente julgarão as doze tribos de Israel.

"Os que têm autoridade sobre eles são chamados benfeitores" (v.25). "É por este mesmo título de "benfeitor" (euregetes) que um dos Ptolomeus é conhecido na história, e era muitas vezes aplicado aos imperadores romanos. Semelhante lisonja não havia de prevalecer entre os discípulos de Cristo, mas o maior devia ser como o menor, e o principal tomar o lugar de servo" (Grant).

 

Podemos notar que na Igreja de Deus, quem presta mais serviço é estimado como grande.

Ao que parece, Pedro é avisado (31-34) três vezes: A primeira, durante a ceia (Jo 13.36,38); a segunda, também durante a ceia (Lc 22.31-34); a terceira, no caminho para o Getsêmani (Mc 14.30).

Deste incidente devemos aprender: que o inimigo procura sempre enfraquecer nossa fidelidade ao Mestre; que Cristo intercede por nós; que um crente pode não ser "convertido"; que depois de restaurado pode confortar seus irmãos (2 Co 1.14); que é frequente o crente confiar em si mesmo e negar seu Senhor.

"Se tivesse aceitado o aviso, Pedro teria podido escapar, não sem aprender a sua lição, mas aprendendo-a dos lábios do Senhor. Que havia de negá-lo três vezes antes de cantar o galo podia ter sido aceito por Pedro de tal maneira como uma revelação da sua fraqueza e seu perigo que o teria salvado da queda. Mas não o fez; resistiu à meiga voz que o teria abrigado do mal, e assim a profecia se cumpriu. Mesmo então ficou para ele (quando o orgulho e a força foram derrubados), o conforto da exortação 'quando te converteres confirma teus irmãos"' (Grant).

 

As duas espadas (35-38). Essa passagem da Escritura é reconhecida como sendo das mais difíceis de interpretar. O Dr. Goodman acha provável haver aqui a figura de "metonímia", pela qual coisas espirituais são representadas por materiais. Assim as palavras seriam lidas: "Depois da minha partida sereis como o homem que tem de vender seu vestido e comprar uma espada".

Diz outro expositor: "A palavra do Senhor referente à compra de uma espada não é para tomar ao pé da letra, ou Ele não teria dito que as duas bastavam. Parece que Ele quis contrastar a primeira viagem missionária com as condições diferentes no futuro. Nada lhes faltará; tudo tinha ido bem, mas agora devem esperar o conflito. Ao mesmo tempo a confiança deles seria nele somente".

Nossa espada não é arma carnal (2 Co 10.4), mas a Palavra de Deus, que precisamos possuir a qualquer custo (v.36).

É somente Lucas que fala da espada.

 

Jesus no Getsêmani (39-46). "Nosso Senhor teria saído para o monte das Oliveiras na última hora da segunda vigília da noite, ou seja, em nosso horário, entre 11 horas e meia noite. Faltavam dois dias para a lua cheia" (Greswell).

Mateus e Marcos dão o nome de Getsêmani. Lucas fala apenas de um lugar, João menciona o jardim.

Só Lucas precisa a distância "cerca de um tiro de pedra", e fala do anjo, e do suor como gotas de sangue.

Podemos indicar os seguintes pontos para meditação neste trecho: a oração, a submissão, o cálice, o anjo, a agonia.

"A palavra traduzida 'agonia' não tem precisamente seu sentido moderno. Significa: um conflito violento, como em Filipenses 1.30; Colossenses 2.1; contenda (1 Ts 2.2); combate (2 Tm 4.7); corrida (Hb 12.1). Nosso Senhor estava lutando com as potestades das trevas, e ficou em angústia, como quem contempla um objeto de horror: o horror de entrar a sua alma imaculada em contato com o pecado" (Goodman).

"Como gotas de sangue" (v.44). As palavras dão a entender que não era literalmente sangue, mas que o suor era tinto de vermelho e parecia sangue. "Tem sido geralmente entendido que o suor na testa de Jesus se tornou semelhante a sangue, um fenômeno chamado na medicina antiga de "haimatodes hidros": suor sanguinário" ('International Bible Encyclopedia').

Jesus é preso (47-53). Neste trecho notamos a hipocrisia de Judas; o discernimento do Senhor; a audácia de Pedro (v.50); o poder milagroso para sarar; e a "hora" dos inimigos.

Pedro nega a Jesus (54-62). Devemos achar em perigo quando nossa situação é diversa da de nosso Senhor. Pedro, comodamente sentado, esquentava-se na companhia dos inimigos de Jesus. E caiu (v.55).

Quantas vezes a mentira nasce do medo (v.57)!

No versículo 60 devemos ler: "E Pedro disse: O homem de que falas, não conheço".

Jesus apenas olhou para Pedro - e não precisava fazer mais! E nós podemos fazer admoestações silenciosas? Há muitos anos falava eu de um projeto a uma irmã de idade, muito piedosa. Ela nada disse. Por isso mesmo fiquei pensativo; examinei novamente o projeto que a havia consultado e abandonei-o.

Jesus perante o Sinédrio (63-71). Os quatro evangelistas falam do caso, mas Lucas parece notar especialmente a zombaria e crueldade dos homens. Vemos que Jesus testifica claramente a verdade de ser Ele o Cristo, e os chefes religiosos denunciam seu testemunho como blasfêmia.

 

 O chamado "julgamento" de Jesus processou-se em seis partes: três eclesiásticas e três civis. Tudo se realizou entre uma e sete horas da manhã da sexta feira-feira (Scroggie).


 

 

*

 

lucas CAPÍTULO 23



As acusações contra Jesus foram;

a) que pervertia o povo pelo seu ensino;

b) que proibia dar tributo a César, o que era pura mentira;

c) que dizia que era rei, o que era verdade, porém seu reino não era material e sim espiritual.

d) que era malfeitor (Jo 18.30), mas Ele 'andou fazendo o bem';

e) que alegara ser Filho de Deus (Jo 19.7) o que, se não fora verdade, teria sido uma blasfêmia.

 

Jesus não negou que era Rei. Sua resposta é dada mais detalhadamente em João 18.33-38,e, depois de ouvi-la, Pilatos confessou que não achava culpa nele.

Pilatos julgou com razão que nada disso justificava condenar Jesus a uma morte cruel como era a da crucificação (v.14), e, ouvindo que Ele era da Galiléia, da jurisdição de Herodes, e que Herodes estava em Jerusalém, mandou-o a Herodes.

A "roupa resplandecente" que Herodes mandou vestir em Jesus era, provavelmente branca, a cor dos hebreus. A palavra grega é "lampran", que significa brilhante, e aparece em Apocalipse 15.6 e 19.8. Mais tarde, os soldados vestiram-no de um manto de púrpura, a cor imperial de Roma (Jo 19.2,5).

 

Ele é rei dos judeus e rei universal, por isso ambas as cores tinham cabimento.

 

Notamos  que o Senhor respondeu a Pilatos, mas não disse palavra alguma a Herodes, Herodes e Pilatos, antes inimigos, concordaram em menosprezar Jesus (v.12).

Em todo este incidente, percebemos a fraqueza moral de Pilatos, entregando à morte um homem que ele mesmo reconhecia ser inocente.

As filhas de Jerusalém (26-32). Tem-se notado que não lemos de nenhuma mulher que fosse inimiga de Jesus. Vemos um contraste notável entre os homens gritando "crucifica-o", e as mulheres lamentando e batendo nos peitos.

Jesus repara, e tem palavras de aviso para elas. É seu discurso final. "Esse que tinha enxugado muitas lágrimas, agora manda chorar. Ele prediz os sofrimentos que viriam sobre Israel no ano 70 d.C. durante muitos séculos seguintes e na Grande Tribulação. Se os Romanos assim tratam a mim, inocente e Santo (o madeiro verde), qual será a sorte deles, os culpados e falsos (o seco)?" (Scroggie).

 

F.W.Grant comenta de modo um tanto diverso as duas árvores: No meio de uma geração, o fogo de cuja ira pode arder desta maneira na árvore verde e frutífera, que seria a sorte desses que eram semelhantes à lenha seca - combustível próprio para o fogo? Não é a ira divina de que Ele fala (embora a ira divina bem podia entregá-los a isso), mas é o que eles haviam de infligir uns aos outros. Os sofrimentos desses encerrados na cidade sitiada são o assunto da conhecida história dos judeus.

O versículo tem sido parafraseado assim: "Se fazem estas coisas em mim, frutífero e sempre verde, imortal porque divino, que farão a vós, sem fruto, e privados de toda justiça vital?" (Theophylact).

 

No versículo 32 "outros" é, no grego, "heteros", e não "allos", e significa outros diferentes e não outros semelhantes.

A crucificação (33-48). Somente Lucas relata as tocantes palavras: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem". Nós devemos aprender a ter o mesmo espírito para com os que nos maltratam.

 

Notemos que o malfeitor arrependido:

a) Temeu a Deus, e reprovou o companheiro de infortúnio.

b) Confessou a justiça do seu castigo.

c) Reconheceu que Jesus não tinha culpa.

d) Trata Cristo como Senhor; comparando o título aqui com 1 Coríntios 12.3, achamos notável essa confissão.

e) Crê nele como rei, que há de entrar no seu reino: fé admirável;

f) Pede por si mesmo, e prova a verdade da palavra: "Quem invocar o nome do Senhor será salvo" (Scroggie).

 

"Das set palavras proferidas da cruz, este evangelho menciona três, nenhuma das quais é encontrada em outra parte. João dá mais três; Mateus e Marcos relatam a sétima. As três primeiras são palavras que demonstram preocupação pelos outros. As três que seguem se referem ao seu santo sacrifício, proferidas durante as trevas sobrenaturais que perduraram  até a hora nona. Destas, a terceira repete as estranhas palavras do Salmo 22.1. A última palavra, no versículo 46, é "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito". Notamos que o Senhor mais uma vez emprega a palavra "Pai". O fato de que aqui clamou estas últimas palavras "com grande voz" mostra que não morreu extenuado, mas voluntariamente rendeu seu espírito, como ensina João 10.18.

"O véu do templo rasgado ensina em figura que o caminho para o santuário foi aberto pelo sangue de Jesus (Hb 9.8; 10.20).

Diz-se que o véu é a "sua carne". Foi nesse corpo que Deus lhe preparou (Hb 10.5), que Ele levou nossos pecados; e o véu rasgado significa a remoção para sempre daquilo que impedia o pecador de aproximar-se de Deus" ( Goodman).

 

A sepultura de Jesus (49-56). Sobre este trecho o leitor pode consultar o que está escrito em Mateus e Marcos.

 

O versículo 54 deve ser: "E era o dia da preparação. e a noite entre sexta-feira e sábado" (O.35).


 

*

 

lucas CAPÍTULO 24



Vemos os seres celestiais profundamente preocupados com os acontecimentos do domingo da ressurreição, enquanto os grandes do mundo permaneciam em completa indiferença.

Acaso sucede hoje alguma coisa semelhante?

Neste trecho vemos: As mulheres perplexas, atemorizadas. (v.8), e convictas: os apóstolos francamente incrédulos, mas Pedro disposto a investigar, e admirado com o que viu no sepulcro.

 

Os dois discípulos no caminho de Emaús (13-35). Para um estudo sobre este incidente, pode-se consultar o "Guia do pregador", 1º ano.

Notemos:

1) O que os dois discípulos disseram a Jesus; 2) O que Jesus lhes disse; 3) O que disseram um ao outro; 4) o que disseram aos apóstolos.

Vemos o conflito de emoções nas suas almas: devoção (19); corações quebrantados (20); esperanças desmoronadas (21);esperança renovada (21-23); admiração (22); uma convicção incompleta (24); e tudo isto manifestaram a um desconhecido! (Scroggie).

 

"Presume-se geralmente que os dois discípulos eram homens, mas talvez fossem marido e mulher. Sabemos que um era homem chamado Cleofas, e a outra pessoa pode ter sido a sua esposa. Conversavam sobre os acontecimentos recentes em Jerusalém e estavam tristes. Jesus se aproximou e andou com eles, e não o reconheceram.

Notemos:

1) Se falarmos de Cristo, Ele chegará perto (v.15).

2) Ele nunca está longe quando o coração do seu povo está triste (17).

3) Ele muitas vezes está ao nosso lado sem que o reconheçamos (16).

4) Ele escuta pacientemente as nossas dificuldades, e percebe o nosso amor junto com a nossa descrença (21).

5) É bom falar de Cristo com desconhecidos pelo caminho (19).

6) Precisamos mais do que o testemunho dos outros: havemos de ver Cristo por nós mesmos (24).

7) Ninguém pode viver por muito tempo sob uma mera recordação.

8) Precisamos de uma experiência atual e vital com Cristo.

Os dois discípulos tinham falado de Cristo; agora Ele fala, e a sua certeza responde à tristeza deles. O relato das palavras do Senhor é muito resumido, mas devia ter-lhes falado por muito tempo (27). Caminharam juntos cerca de nove quilômetros.

Quais seriam os trechos que Ele explicou? Quase com certeza Gênesis 3,15; 22.8; Êxodo 12; Levítico 16; Números 21.9; Deuteronômio 18.15-18; Isaías 7.14; 9,6; 50,6; capítulo 53; Miquéias 5.2; Zacarias 9.9; 12.10; 13.7; Malaquias 3.1; 4,2; Salmos 16.22,23 e 24; e outros. Que estudo bíblico dado a uma congregação de dois!

De repente o hóspede se torna hospedeiro. Toma o pão deles e dá-los (30). Aqueles que o receberam receberam-lho dele. Os dois abrem-lhe a casa, e Ele lhes abre os olhos (31).

Uma coisa boa não é para ser retida egoisticamente. Vão em seguida contá-la aos outros (33). Voltam a Jerusalém, somente para achar que os onze estavam cheios de gozo, porque Pedro também vira o Senhor (34).

No versículo 32 devemos ler: "Porventura não era tapado o nosso entendimento quando pelo caminho nos falava?" (O.105).

Jesus entre os onze (36-53). Que domingo cheio de experiências! Vemos, afinal, que à tarde do domingo da ressurreição (Jo 20.9), Jesus se manifestou no meio dos onze congregados no seu nome. Entendemos que não apareceu mais até o domingo seguinte (Jo 20.26). Que devemos aprender do fato no meio dos crentes reunidos no primeiro dia da semana?

O dr. A.T. Robertson entende haver três manifestações referidas neste trecho do capítulo 24. Uma no dia da ressurreição (36-43); outra, bem mais tarde, em Jerusalém (44-49), e a terceira depois de 40 dias no monte das Oliveiras (50-53) - (Scroggie).

 

Notemos o que Jesus fez conforme narrado neste trecho:

1) Apresentou-se no meio dos discípulos, tão perto que podiam tocá-lo.

2) Mandou-os apalpá-lo e verificar que era Ele mesmo e não um fantasma.

3) Mostrou-lhes as mãos, pés e lado (40,João 20,20), permitindo-lhes examinar as cicatrizes das feridas recebidas no Calvário. Convidou Tomé a investigar as feridas para que a sua mente desconfiada fosse convertida.

4) Comeu perante eles (43) peixe e favo de mel, provando assim, ser realmente homem.

5) Teve longa conversa com eles, reproduzindo em parte as exposições dadas no caminho de Emaús.

6) Subiu ao Céu na presença de todos eles, depois de ordenar-lhes que evangelizassem "todas as nações" (47).

 

 

 

FINAL DESTE LIVRO PARA RETORNAR CLIQUE NA SETA



 



 

 

 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário