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João

  

EVANGELHO  DE  JOÃO

 

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INTRODUÇÃO:

 

 


    João era filho de um mestre pescador, que tinha empregados (Mc 1.20), e de Salomé, uma das mulheres que ministravam ao Senhor com seus bens (Lc 8.3). Disto, e do fato de ter sua própria casa em Jerusalém (Jo 19.27), é evidente que tinha posses que lhe proporcionavam certo conforto.

O seu livro é o último dos livros inspirados escritos (uns 50 anos depois da ascensão); é de todos evangelhos o mais profundo. Têm sido chamado "o âmago de Cristo", porque revela o próprio coração de Jesus, e é o âmago também do Eterno.

Propósito. Segundo testemunhas muito antigas, foi escrito e publicado em Éfeso, a pedido do apóstolo André e dos bispos asiáticos, a fim de combater certos erros então correntes sobre a divindade de Cristo.

A chave do livro é a palavra crer. Neste Evangelho, Jesus se nos apresenta como aquele em quem devemos crer; e nas epístolas de João como aquele a quem devemos amar; e no seu Apocalipse, como aquele que devemos esperar. Mas crer em quê? Na divindade do Homem Cristo Jesus. (Veja-se capítulo 20.31).

Peculiaridades. 1) O uso da palavra "judeu", que se encontra uma vez em Mateus, duas em Lucas, mas em João sessenta vezes. 2) Relata apenas oito milagres, cada um provando o poder da palavra de Cristo.

Retrato. O retrato de Jesus que temos neste Evangelho é o do "Unigênito do Pai". João mostra o que era que convencia homens e mulheres de todas as classes de que Jesus era de Deus. Serve-se de material novo, até então reservado por Deus (Lee).

 

Análise de João

 

Exórdio (1.1-18) o Passado. Vida (1-5). Luz (6-14). Amor (15-18).

1 . A revelação ao mundo do Filho como Vida (1.19 a 12.50).

1.1. A vinda anunciada (1.19 a 2.11).

1.1.1. O testemunho do Batista (1.19-34).

1.1.2 O testemunho dos discípulos (1.35-51).

1.1.3 O testemunho da natureza (2.1-11).

1.2. A vida reconhecida (2.12 a 4.54).

1.2.1. Na Judéia - o Mestre em Israel (2.12 a 3.36).

1.2.2. Em Samaria - a mulher adúltera 4. 1-42).

1.2.3. Na Galiléia - o príncipe (4.43-45)

1.3. A vida combatida (caps. 5 a 12).

1.3.1. A controvérsia despertada (5.1-18).

1.3.2 A controvérsia desenvolvida (5.19 a cap. 10).

1.3.2.1 A vida desprezada (Caps. 5 e 6).

1.3.2.2. A vida recusada (Caps. 7 a 9).

1.3.2.3. O amor ultrajado (Cap.10).

1.3.3. A controvérsia concluída (Caps. 11 e 12).

2.  A revelação do Filho como luz, aos discípulos (caps. 13 a 17).

2.1. A luz lhes é apresentada (13.1-30).

2.2. A luz lhes é comunicada (13.31 a cap. 16).

2.3. A intercessão pela luz que neles há (cap.17).

3. A revelação aos discípulos e ao mundo do Filho como amor (caps. 18-20).

3.1. A provação do amor divino (caps. 18 a 19.16).

3.2. A tragédia do amor divino (19.17-42).

3.3. A vitória do amor divino (cap. 20).

Epílogo (cap.21) o Porvir (Scroggie).

 

 

A mensagem de João

 

Pode-se dizer que os evangelhos constituem o coração da Bíblia, e o de João é o coração dos evangelhos; é o Santo dos Santos no Templo da Verdade. Quase tudo aqui é novo: somente João nos dá o primeiro ano do ministério de nosso Senhor (caps. 2 a 4); somente ele relata os grandes discursos sobre o novo nascimento, a Água Viva, o Pão da Vida, o Bom Pastor, a Luz do Mundo, junto com a maravilhosa exposição dos propósitos de Cristo na última Ceia (caps. 13 a 16). Somente oito milagres são narrados por João, seis dos quais não se encontram nos outros evangelhos.

Mas não é somente o que se diz que é significativo; o que não se diz igualmente o é. Aqui não há genealogia, nem nascimento, nem mocidade, nem crescimento, nem batismo, nem tentação, nem Getsêmani; tudo condiz com o mesmo propósito: provar que Jesus é Deus. "Estas coisas foram escritas para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome" (20.31). O livro todo é um testemunho desta verdade, e "testemunho" é uma das palavras-chaves do livro.

Porém isto não é tudo. Um cuidadoso estudo do Exórdio deste Evangelho (1.1-18) fornece-nos uma análise simples mas completa do seu conteúdo espiritual.

Aqui primeiro o Filho é revelado como a Vida Eterna, "No princípio (não "desde o princípio" como em 1 João 1.1) com Deus: é Ele o verdadeiro  Deus, e o criador de toda a vida, desde os serafins até os vermes (1-5). Então Ele é revelado como a Luz eterna, a luz dos homens, que brilha nas trevas, da qual João (o Batista) veio dar testemunho, porém não foi compreendido (6.13). Finalmente Ele é revelado como o Amor Eterno, feito carne, e habitando entre os homens, cheio de graça e verdade, e dando aos homens da sua plenitude (14-18).

Esta tríplice revelação encontra-se na substância do livro inteiro, e parece ser a chave da sua estrutura. Falando em termos gerais, é Cristo como Vida que é manifesto ao mundo em 1.19 a capítulo 12; é Cristo  como Luz que é apresentado aos discípulos nos Capítulos 13 a 17; e é Cristo como Amor que é revelado a crentes e descrentes na Cruz, no sepulcro e na ressurreição, nos capítulos 18 a 21.

Mas esta análise distributiva não é exclusiva; em cada divisão podemos discernir a Vida, a Luz e o Amor.

 

É impossível sobreestimar a importância desta profunda revelação, que é o verdadeiro coração da Verdade. A divina natureza, obra, método, comunhão, misericórdia e graça resumem-se nisto, que o Filho é Vida, Luz e Amor, e cada bênção, presente ou em perspectiva, está abrangida por esta verdade e dela nasce. E cada pecado é uma ofensa contra Cristo em um destes aspectos (Scroggie).

 

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JOÃO CAPÍTULO 1

 

O verbo se fez carne (1-14). Encontramos assunto para meditação até mesmo nos termos que joão emprega. Que quer dizer "o princípio" ? Nós geralmente o entendemos como "desde a eternidade", embora aí não diga isso.

O versículo 2 deve ser "Quando ele estava no princípio com Deus, todas as coisas..." (O.6).

A palavra "o Verbo" (grego "logos"), empregada só por João como título de Cristo, merece demorada consideração. Podia ter sida traduzida "palavra", mas nesse caso, teria sido preciso falar de "ela", por isso os tradutores preferiram empregar o vocábulo "Verbo".

As nossas palavras são a maneira de nos expressarmos, por isso, Cristo, como a "Palavra de Deus",expressa o que á a verdadeira vida.

O escritor aqui trata primeiro do que o Filho era, depois do que veio a ser: Ele era: a) o Verbo ou expressão de Deus; b) estava com Deus e Ele mesmo era Deus; c) Criador de todas as coisas. Ele tornou-se: a) verdadeiro homem (v.14), e, em todo o seu andar; b) a Luz dos homens; c) aquele que estabelece parentesco espiritual com Deus (v.12).

Não devemos pensar do versículo 9 que todos os homens recebem iluminação de Cristo, mas que a luz que Ele traz é para todos.

Este trecho declara várias verdades profundas que merecem nossa demorada meditação.

a) A identificação do Verbo com Deus e, contudo, a possibilidade de discriminar entre o Verbo e Deus, de tal maneira que se podia dizer que o Verbo estava com Deus ao mesmo tempo que era Deus.

b) Que a obra da criação é atribuída ao Verbo, ao Filho. Hebreus 1.2 e 11.3, que parece dizer a mesma coisa, fala de o Filho fazer "tous aionas" ou os séculos, um expressão problemática cujo  sentido é difícil determinar.

c) Em algum sentido profundo, que nós não podemos analisar, "nele estava a vida". E nossa experiência confirma que m quanto mais nos aproximamos de Cristo, tanto mais provamos uma vida espiritual abundante.

d) A vida revelada em Cristo era luz para todos os homens, como também a vida de Cristo em nós será luz para nossos vizinhos.

e) As trevas (o mundo descrente), não podiam compreender Cristo nem compreendem os que hoje se parecem com Ele. E outras lições igualmente profundas que o leitor poderá notar por si mesmo.

Uma tradução mais literal do versículo 14 sugere preciosos pensamentos: "Discernimos a sua glória: glória como a de um único filho para com seu pai". Foi isso que impressionou o jovem João, de tal modo que uns 60 ou mais anos depois ele ainda recorda a profunda impressão.

"Nos versículos 1-5, temos a divina revelação da Palavra, e em 6-13, a histórica manifestação da Palavra. Aquele que era desde toda a eternidade foi manifestado a seu tempo. A Luz foi revelada (6-9), rejeitada (10,11), e recebida  (12,13). Cada um tem de fazer alguma coisa com a Luz. Aquele que fez o mundo estava no mundo , mas este não o conheceu. Veio para o seu povo (os judeus), mas não o conhecerem. A vida já veio, mas o mundo permanece nas trevas" (Scroggie).

Os versículos 12,13 devem ser: "Aos que creem no nome daquele que não nasceu de sangue, nem da vontade..."(O. 152).

O testemunho de João Batista (15-34). Que João testificou de Jesus é afirmado várias vezes no capítulo: nos versículos 7, 15,19,32,34. Notemos algumas das verdades que João afirmou: a) que Jesus era a luz dos homens; b) que o que veio depois de João, era antes dele; c) que ele mesmo não era o Cristo; d) que era apenas uma voz; e) que Jesus era infinitamente mais digno do que ele (v.27); f) que Jesus era o Cordeiro de Deus; g) que o Espírito desceu sobre Jesus; h) que Ele era o Filho de Dues.

Devemos distinguir entre as palavras do Batista e os comentários do apóstolo. Por exemplo, os versículos 16-19 parecem ser palavras apostólicas e não do Batista.

Fizeram três perguntas a João Batista: "Quem és tu?" (v.19); "Que dizes de ti mesmo?" (v.22); "Por que batizas?" (v.25). Perguntas que se referem à sua pessoa, ao seu testemunho, e à sua obra.

O versículo 17 merece especial atenção porque mostra a diferença entre o Velho Testamento e o Novo. O V.T. é caracterizado pela lei de Moisés. O N.T. pelo Evangelho que revela graça e verdades divinas, que vieram por Jesus Cristo. Podemos ponderar: "Que significa para nós que a graça e a verdade de Deus têm vindo a este mundo por Cristo?""Como é que esta graça se expressa?""Que é que esta verdade revela?"

No versículo 18 devemos ler: "que estava no seio do Pai" (O.117).

"Betânia além do Jordão" (v.28). "Embora maior parte dos manuscritos tenha "Betânia", não se conhece hoje a localização de qualquer  Betânia além do Jordão. Em nove manuscritos - não dos mais antigos - lê-se "bethabara", que pode ser um lugar chamado hoje Abaral a 26 Km de Kerf- Kenna e 75 km de Betânia" (Pequeno dicionário Bíblico).

"Tirar o pecado do mundo"(v.29). Essa frase aponta Cristo como o Salvador para todos e não somente para Israel. É necessário, porém, que cada pessoa se valha, pela fé, da expiação consumada.

 

A PRIMEIRA VISITA À JUDÉIA

 

Os primeiros discípulos (35-51). É uma das características do quarto evangelho que se ocupa maiormente com o ministério de Jesus na Judéia, enquanto os outros se ocupam mais com o ministério na Galiléia. Em Mateus, depois da narrativa do batismo, quase não há mais alusão às visitas de Jesus à Judéia até o capítulo 19, que foi a sua última visita (gray).

"Notemos com cuidado os dois "Eis" de João neste capítulo. O primeiro (v.29) convida-nos a considerar o Senhor Jesus como quem faz a grande obra expiatória; o segundo (v.36), a meditar no seu andar e exemplo. É nesta ordem que devemos recebê-lo, pois a reconciliação deve sempre preceder à Salvação (Rm 5.10). Ele tem de tirar da consciência e do coração humano a carga da culpa, antes de ensinar-nos a andar como Ele andou" (Goodman).

Algumas lições que aprendemos deste trecho são:

1) O verdadeiro ministério não atrai os ouvintes ao pregador, mas a Cristo (v.37).

2) Jesus se ocupa com quem o segue.

3) Ele convida a alma interessada a novas experiências da sua companhia (v.39).

4) Quem conhece Jesus leva outros a Ele. Havendo dúvida de que alguém é ou não crente, repare se ele procura falar de Cristo a outros. É uma prova infalível.

5) Jesus nos conhece por nome, individualmente (vv.42,47).

6) Jesus sabe quem é sincero (v.47).

 

De Natanael podemos notar: a) que ele aprendera nas Escrituras que o Messias viria; b) que era cauteloso: o Messias havia de concordar com a profecia; c) que era sem dolo (não sem pecado); era sincero, reverente, entusiasmado; d) que era suscetível de ser convencido pela verdade; e) que, uma vez convencido, não hesitava em agir; f) que recebeu uma revelação mais ampla (v.51)- (Goodman).

É um estudo interessante considerar: 1) o caráter de Natanael; 2) o amigo de Natanael; 3) a dúvida de Natanael; 4) a experiência de Natanael; 5) a perspectiva de Natanael.

 

O versículo 51 tem sido interpretado de diversas maneiras, alguns veem nele uma alusão à escada de Jacó (Gn 28.12). Preferimos entender uma referência ao ministério dos anjos para com o Senhor Jesus que , em algum sentido (talvez espiritualmente) Natanael havia de sentir.



 

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JOÃO CAPÍTULO 2

As bodas em Caná (1-12). Neste capítulo lemos do primeiro sinal milagroso que Jesus fez, e por isso não acreditamos nos milagres pueris que a tradição relata da sua meninice. Seus sinais manifestavam a sua glória e fortaleciam a fé dos discípulos (v.11).

Os sinais de Jesus eram atos de bênção, conferindo saúde, ou dando alimento; eram parábolas de salvação, ilustrando preciosas verdades; eram revelações da vontade de Deus, pois quando Jesus curava um doente fazia este benefício pela vontade do Pai.

"Há três palavras traduzidas por milagres no N.T. A primeira "dunamis" significa simplismente manifestação de poder, obra poderosa; a segunda 'semeion' significa um sinal, e a terceira 'teros' quer dizer maravilha. Neste Evangelho a palavra traduzida milagre é sempre "semeion". A primeira palavra nunca se emprega em João, e a terceira somente em 4.48"( Goodman).

Três lições simples são evidentes nesta parábola em ação: Jesus veio suprir abundantemente o gozo de vida que escoa, fornecendo um gozo melhor do que o mundo dá; Ele agiu em obediência à vontade do pai, e não atendeu à observação de sua mãe; a bem-aventurança da obediência que encheu as talhas e distribuiu o vinho.

Muitas pessoas que se dizem "devotas da virgem Maria" têm sido convidadas a obedecer o mandato dela no versículo 5.

Notemos que "as purificações dos judeus" eram provavelmente por aspersão, como hoje os romanistas fazem com a "água benta". Temos outro caso semelhante em Marcos 7.4.

Parece-nos que Maria nesse período já é viúva, e com seus filhos reside em Cafarnaum e não mais em Nazaré.

Há diversos ensinamentos neste incidente:

1) Convidar Jesus e seus discípulos para as bodas é o melhor começo possível para a vida de um casal.

2) É importante reconhecer Jesus presente em todas as circunstâncias da vida conjugal.

3)Não devemos contar com a presença de Jesus sem a companhia dos seus discípulos (v.2).

4) A mãe de Jesus recorreu a Ele quando faltou o vinho.

5) Jesus, já no começo do seu ministério público, contava com a direção do Pai mediante a comunhão direta, e não por sugestão humana (v.4).

6) "O mandado de Maria" (tão ignorado por muitos que a adoram) tem sentido e aplicação ainda hoje: "Fazei tudo o que Ele vos disser!" O que Ele disser pela palavra inspirada; pelo seu ministério no poder do Espírito; em resposta à vossa oração.

7) A casa em que Jesus se encontrava era de uma família religiosa, cuidadosa da purificação cerimonial (v.6).

8) Onde há zelo há pureza. Jesus pode transformar a purificação em gozo.

9) O gozo que Jesus fornece é melhor e mais abundante do que a nossa provisão.

10) A nós é lícito, quando olhamos para Jesus, esperar o melhor no fim.

11) Este primeiro milagre manifesta a 'glória" sobre excelente de Jesus. A glória da sua descendência que toma parte em nossos gozos e festejos; a glória do seu poder; a glória da sua paciência, que espera 30 anos sem fazer milagres, até o momento determinado pelo Pai; a glória da sua simpatia, que toma parte conosco nos nossos prazeres lícitos, e conta conosco para entrarmos no seu gozo; a glória da sua autoridade, que obteve uma obediência cega da parte dos serventes.

 

A SEGUNDA VISITA À JUDÉIA

 

A primeira purificação do templo (13-25). A segunda, cerca de três anos mais tarde, é relatada nos três evangelhos sinóticos.

Nos versículos 14,15 a palavra grega para o templo é "hieron": todo o conjunto do edifício sagrado, com os pátios e entradas. Nos versículos 19-21 é "naos" o recinto mais interno do conjunto (Westcott).

"O zelo da tua casa me comeu" quer dizer: "estou consumido pelo zelo da tua casa".

Evidentemente, a lição deste trecho é que evitemos, por exemplo, como o apóstolo fugia de qualquer aparência de estar tirando lucro de sua evangelização.

Vemos nos versículos 23,24 uma crença meramente intelectual, em que Jesus  não cria ( a mesma palavra). Uma fé verdadeira transforma a vida toda. Ao considerar este trecho podemos estudar:

 

1) O incidente.

a) Jesus indignado. Às vezes a ira tem cabimento (Ef 4.26). Que provoca a nossa indignação? Uma ofensa contra o nosso amor próprio, ou uma ofensa contra "nosso Pai"?

b) Jesus ensinando pela ação. Nem sempre é suficiente uma queixa. Às vezes um pai ou professor precisa castigar o mal.

c) Jesus preocupado com a pureza da Casa do Pai. Isso nos preocupa também a nós?

d) Jesus mostrando autoridade moral. Nós, se procedêssemos da mesma maneira, poderíamos apenas promover contenda, mas Jesus tinha autoridade moral suficiente para efetuar seu protesto energético.

 

2) A significação do incidente:

a) Um templo de Deus (2 Co 6.16) deve ser purificado com propósito, indignação e energia.

b) O comercialismo em coisas sagradas é um pecado, mas a venda de Bíblias ou hinários que não traz lucro ilícito ao vendedor, não é pecado.

c) Devemos ter zelo pela casa de Deus.

d) Interesses baixos e sórdidos às vezes encontram uma indignação santa.

e) Se nós repelíssemos o pecado no templo de Deus, que é o nosso corpo, esse pecado fugiria de nós.

3) A profecia. Jesus prediz a sua ressurreição, dando a uma pergunta insensata uma resposta enigmática. Lições que aprendemos:

a) Nem toda a pergunta merece uma resposta direta.

b) Uma resposta indireta pode encerrar ensino profundo.

c) Jesus, preocupado já com a sua morte expiatória, olhava ainda além, para a ressurreição.

d) A memória das palavras do Mestre fortalecia a fé dos discípulos (v.22).

 

Que males havemos lançado fora do templo de Deus? Quais são as manifestações de simonia em nossos dias? Alguém diz a nosso respeito que o zelo pela casa de Deus nos consome?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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JOÃO CAPÍTULO 3

 

A conversa com Nicodemos (1.21). No original o versículo 1 começa: "Mas havia..." ligando-se assim com o capítulo 2 e apresentando Nicodemos como um homem  em quem Jesus podia depositar alguma confiança.

Uma comparação de João 3.24 com Mateus 4.12 mostra-nos que essa entrevista se deu antes do sermão da montanha. É portanto, o primeiro discurso do Senhor Jesus que temos em registro.

Este é o trecho principal sobre o novo nascimento. De novo nascimento Jesus afirma;

a) que é indispensável;

b) que é "de cima" (v.3); que a palavra grega "anothen", traduzida no versículo 3 "de novo", é traduzida no versículo 31 "de cima", como também em 19.11 e Tiago 1.17 e 3.17;

c) que é "do Espírito";

d) que é inescrutável, como o movimento do vento; e) que forma contraste com o nascimento natural da carne (Goodman).

 

O simbolismo de nascer da água e do Espírito tem sido muito discutido, sem haver um acordo entre os expositores. Neil entende que significa "água espiritual", mas isso não combina com o versículo 6 onde água não é mais mencionada. Outros tem ensinado que é nascer do batismo, porém a idéia de um rito exterior produzir um novo ser espiritual é repugnante a todo o ensino do N.T. Ainda outros ensinam que nascer da água significava o mesmo que da carne. Porém afirmar solenemente que é necessário ter um nascimento natural para ver o reino, parece absurdo,, visto que, sem nascer, a pessoa não existe.

Consultando as outras passagens que descrevem o novo nascimento (Tg 1.18 e 1Pe 1.23), vemos que a geração de um novo ser espiritual é atribuída à Palavra de Deus, aplicada, sem dúvida, à consciência e ao coração pelo Espírito de Deus.

E isto condiz com a experiência. A única coisa que tem produzido novidade de vida em seres humanos é a revelação de Deus em Cristo, operando eficazmente pelo Espírito Santo, [ Por meio da palavra de Deus].

 

A frase "que está no céu" no versículo 13 tem causado dificuldade. Alguns manuscritos não têm as palavras, por isso a V.B. omite-as. Porém é provável que devam permanecer. Sobre isto, consulte-se o livro. "Causes of Corruption" p.223.

 

Neil, no livro "Strange Figures", mostra que o original grego pode ser traduzido "que estava no céu". Contudo parece ser preferível manter as palavras como em Almeida: "que está no céu", pois permitem-nos entender melhor o que a comunhão com o Pai era para Jesus, e pode ser para nós.

A bíblia não abona a idéia popular que o Céu é um lugar muito distante, mas dá-nos a idéia de que o Céu é a imediata presença de Deus (2Co 12.2); e, embora fosse para Paulo uma experiência extraordinária achar-se, em espírito no Céu, ouvindo palavras inefáveis, podemos acreditar que para Jesus uma semelhante experiência era frequente ou até constante.

Outra versão traduz o versículo assim: "Ninguém tem ascendido ao Céu senão ele que desceu do Céu, o Filho do homem cuja morada é o Céu" (Christian's Armoury, pág. 215).

O pregador pode basear-se neste trecho para seu discurso sobre o novo nascimento, e dividir seu estudo assim:

1) Necessidade do novo nascimento.

2) Processo do novo nascimento.

3) Resultados do novo nascimento.

 

Ou pode fazer aqui um estudo sobre Nicodemos, usando as divisões:

1) Nicodemos indaga;

2) Nicodemos duvida;

3)Nicodemos aprende. Na revista "Lições", de 17 de Maio de 1942, encontrará o leitor o desenvolvimento deste estudo.

F.W. Grant comenta comenta a semelhança e o contraste  entre o nome Nicodemos ("conquistador do povo") e Nicolau ("conquistador do povo de Deus"), donde vem a palavra "nicolaítas" em Apocalipse

2. Os "nicolaítas", semelhantes ao clero romano, dominavam o "laos" (leigos), o povo de Deus na igreja. Deus tem um "laos", mas não um "demos" (donde vem a palavra democracia).

"Há bons motivos para pensar que a conversação entre Jesus e Nicodemos termina com o versículo 15, e que os versículos 16-21 são as reflexões do evangelista. A expressão "Filho unigênito" nunca vemos usada em outro lugar por Jesus a seu respeito, "crer no nome","praticar a verdade", e os tempos dos verbos "amaram e eram" no versículo 19 apontam a mesma conclusão"(Scroggie).

Se adotarmos este parecer, então as sublimes e solenes verdades referidas nestes versículos, em lugar de fazerem parte de uma conversa particular, apresentam o ensino apostólico formulado cerca de 50 anos mais tarde. João, olhando para trás, através dos anos, apresenta a solene conclusão que a experiência ensinara: "A condenação é esta: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más" (v.19). O testemunho final de João Batista (22-36). Alguém pode pensar que o versículo 22 ensina que Jesus batizava, mas o capítulo 4.2 explica que quem batizava eram os discípulos.

 

A questão com um judeu acerca da purificação (v.25) podia ter sido sobre o relativo valor do batismo de João e de Jesus. Mas João não aceita uma posição de rivalidade. Ele é apenas o "amigo do esposo" e alegra-se com a voz do esposo.

O versículo 30 expressa o espírito de todo o verdadeiro servo de Cristo.

Provavelmente devemos entender que de 32 a 36 temos um comentário do apóstolo.

No fim do versículo 34, devemos preferir a V.B. "porque ele não dá o espírito por medida".

Podemos considerar a significação do tempo presente no versículo 36: "Aquele que crê... tem..."

Muitas vezes pensamos que aquele que creu terá, mas é a fé atual que goza a vida abençoada agora.

Devemos em oração procurar compreender o sentido da profunda palavra "crer" (ter fé), e pensar que quem crê agora tem a vida agora; quem crê muito, tem muito. Quem crê hora após hora desfruta dessa vida de intimidade com Deus hora após hora.

 

E devemos notar que a fé  não é mera crença em certos fatos, mas uma atitude da alma, abraçada com o Salvador, de quem espera tudo.

 

 

*

 

JOÃO CAPÍTULO 4

Jesus e a samaritana (1-13). "O começo do capítulo quase dá a entender que, devido ao que os fariseus tinham ouvido, Jesus, ao retirar-se da Judéia, não batizava mais. " O batismo de preparação era serviço de um arauto, não de um rei. O batismo cristão pressupõe a morte e a ressurreição de Cristo" (Scroggie).

 

Podemos ver na entrevista com a samaritana um exemplo de como o Senhor Jesus ganhava uma alma. Notemos os seguintes pontos:

a) Era um serviço individual e particular. É melhor, às vezes, evangelizar um do que mil.

b) Foi feito por quem estava cansado. Nós, muitas vezes, quando cansados, abandonamos o serviço.

c) Ele pediu quando quis dar, e assim despertou os melhores sentimentos no coração da mulher: interesse, simpatia, generosidade, proteção.

d) Ele tocou na consciência, referindo-se ao passado.

f) Ele satisfez o desejo de saber e revelou o que é culto aceitável a Deus.

g) Ele declarou que era o Cristo.

 

A samaritana desconfia (14-30). Podemos considerar algumas perguntas que o incidente sugere:

 

1) Qual é o dom de Deus? Há três notáveis dons referidos no N.T.

a) O Senhor Jesus mesmo (Jo 3.16).

b) A vida eterna (Rm 6.23).

c) O Espírito Santo (1 Jo 3.24).

 

2)Qual é a água viva? A figura de água nunca se aplica a Cristo. Ele é chamado o Pão da Vida, mas nunca a água da vida. Ele dá a água (v.10). A água é reservada na Escritura como figura do Espírito Santo (Jo 7.37-39).

3) Qual é a fonte de água que salta para a vida eterna? Sem dúvida é a operação do Espírito no próprio crente:

a) em novos desejos para uma vida mais espiritual;

b) no derramamento do amor de Deus no nosso coração;

c) na íntima satisfação dos nossos mais puros anelos (Goodman).

 

 A lição principal do trecho parece ser que a verdadeira adoração, embora expressada materialmente, é espiritual. Podemos notar que neste trecho a palavra "adorar" (empregada dez vezes) tem um sentido geral de "servir a Deus". Muitos se preocupam com o lugar do culto, outros com o processo do culto, mas o essencial é o espírito do culto. Podemos considerar:

 

1) O preparo de um adorador. O homem natural não está em condições de servir a Deus aceitavelmente. Há condições para servir a Deus.

a) Uma entrevista com o Salvador (Este é o empenho e serviço do evangelista: conseguir que o seu ouvinte venha a achar-se na presença de Cristo).

b) Sentir confiança e liberdade em se abrir com Jesus.

c) Uma consciência despertada para julgar todo o seu passado na presença do Senhor.

d) Descobrir que é conhecido, mas não condenado pelo Salvador.

 

2) O objetivo de um adorador: ver o Pai, revelado em Cristo.

a)  Jesus é digno de adoração, sempre se manifesta em graça para com os mais indignos;

b) Ele sabe suprir a nossa mais urgente necessidade espiritual;

c) Ele não somente perdoa, mas protege.

 

3) As condições para adorar: "em espírito e verdade", necessitando, para isso, de:

a) exercício espiritual, mas não de uma exibição intelectual ou de uma despesa material com vestimentas, incenso, música, etc;

b) conhecimento e apreciação da "verdade" do Evangelho, tão positivo, tão profundo, que transborda em louvor e adoração.

 

4) O serviço de um adorador: testemunhar do seu Salvador, ainda que isso importe em confissão de que Ele sabe "tudo quanto tenho feito".

A ceifa e os ceifeiros (31-42). Aprendemos deste trecho: que evangelizar essa mulher era fazer a vontade de Deus (v.34); que em tal serviço há satisfação e sustento, comparável ao que se deriva do alimento material; que a ceifa pode estar mais próxima do que pensamos; que há galardão por todo o serviço fiel; que quem principia um trabalho nem sempre o acaba; que o crer por informação de outros não é tão positivo como crer por experiência própria.

A cura de um rapaz (43-54). Vemos: o empenho do pai em querer apresentar o filho a Jesus; a sua assistência, sem discussão; a sua fé, quando compreendeu que Jesus o curaria mesmo sem "descer"; a sua experiência, de acordo com a sua fé, na salvação de Deus; a sua convicção, e a de toda a família, em consequência do milagre.

 

 

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JOÃO CAPÍTULO 5

 

A TERCEIRA VISITA À JUDÉIA

 

Cura de um paralítico(1-15). Notemos neste paralítico: o longo período da sua doença: 38 anos; que seu mal resultou do seu pecado (v.14); que ele estava já sem esperança de cura; o poder da palavra de Cristo (v.8); a responsabilidade da fé; "não peques mais".

Muitos manuscritos omitem o versículo 4.

1) Pensamentos do doente:

a) que durante 38 anos ele tinha nutrido uma esperança vã: o bem que esperava do poço, nunca obteve;

b) que sem dúvida vivia sofrendo: inútil, decepcionado, triste, mas sempre tinha nutrido uma fraca esperança;

c) que (como milhares hoje) nunca sonhava em obter algum benefício imediato de Cristo;

d) que na presença de Cristo descobriu novas forças físicas- podia agora obedecer, andar, e até mesmo carregar a sua cama;

e) que sua obediência a Cristo resultou em algum conflito com os vizinhos;

f)  que, no começo, compreendia mais a salvação do que o Salvador, mas depois testificou de quem o curara.

 

2) Pensemos de Cristo:

a) que toda necessidade humana faz um apelo ao seu coração;

b) que, vendo o paralítico, quis servi-lo;

c) que achou necessário verificar primeiro se o homem desejava provar seu poder;

d) que tinha poder de conceder saúde física (e também espiritual) imediata, completa, permanente, e exuberante;

e) que quis ensinar ao homem que sua doença era resultado do seu pecado, e encaminhá-lo na senda da santidade.

 

3) Pensamos acerca dos vizinhos:

a) na sua indiferença diante da necessidade do homem;

b) na sua cegueira e revelação da graça de Deus;

c) na sua ignorância da pessoa, do poder, do caráter, e do amor de Cristo.

 

O sermão que seguiu o sinal (16-47). Nos ouvintes os judeus vemos: uma insensibilidade espiritual, apesar de presenciarem aquela manifestação do benéfico poder de Deus; uma hostilidade mortal que queria matar o Benfeitor; um apego às particularidades dos preceitos religiosos, sem qualquer compreensão do espírito desses preceitos.

 

No discurso de Jesus podemos notar os seguintes pontos:  a sua perfeita sujeição ao Pai e dependência dele para poder fazer as obras de misericórdia (vv.19 e 30); que afirmou ser Ele mesmo o doador da vida  (vv.21,24), e o juiz (v.27); as quatro testemunhas: o Pai (vv.37,38), as Escrituras (vv.39-44), as obras (v.36), e Moisés (vv.45-47).

 

Sem dúvida devemos ver uma significação bem profunda no versículo 17. O descanso de Deus era numa obra completa, perfeita, irrepreensível. Mas entrara o pecado, transtornando tudo, e agora num mundo cheio de pecado e sofrimento, o Pai e o Filho também operam incessantemente.

Convém meditar outra vez no tempo presente do versículo 24: " Quem ouve... e crê... tem". Muitas vezes os pregadores nos dão a entender que "quem ouviu... e creu... terá..."Que significa o tempo presente na experiência espiritual do leitor? Veja-se sobre 3.32-36.

Podemos entender o versículo 25 em sentido material e físico, e também em sentido espiritual e atual.

Dos versículos 28-47, podemos tirar diversas lições:

a) Haverá duas ressurreições, uma para vida, outra para juízo (v.29). Outras escrituras que falam do assunto são 1 Coríntios 15.42; Filipenses 3.11; Apocalipse 20. 5,6.

b) É importante afirmação do versículo 30. Na encarnação, o Filho de Deus fez-se realmente dependente do Pai, como deve ser toda criatura humana.

c) É importante a alusão à vida eterna (v.39), que os judeus investigavam nos escritos dos profetas, e que Jesus afirmou ser inerente a Ele mesmo.

d) Um dos principais impedimentos da fé (v.44) é a preocupação com as honras humanas.

 

Proposta emenda de tradução (v.34): "Eu não recebo testemunho do homem; mas digo o que vós recebereis". E no versículo 44: "E não buscando a honra que vem do unigênito Filho de Deus?

 

 

 

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JOÃO CAPÍTULO 6

 

A multiplicação de pães (1-4). Este milagre é registrado pelos quatro evangelistas. É somente João que se refere ao rapaz que tinha os pães e os peixes que serviram como base do milagre.

Ainda hoje, às vezes, um rapaz tem alguma coisa de que o Senhor precisa, e que não se encontra com os adultos. Por exemplo: Deus quer algum companheiro para algum jovem crente, e somente um rapaz pode ser este companheiro. Deus quer um exemplo de vida cristã no colégio, e precisa de um rapaz para isso. Deus precisa de alguém para alegrar um lar cristão, e procura uma criança para esse serviço.

Dos oito milagres que João relata, este se encontra nos outros três evangelhos e mais um (5.15-21) em Mateus e Marcos. Outros seis são relatados somente por João. Faça-se uma lista deles.

Quase um ano de ministério houve entre João 5 e 6. Então Jesus estava em Jerusalém; agora esté na Galiléia que é relatada por João.

Esta narrativa revela a compaixão de Cristo, e não somente o seu poder. Mostra também que Ele não descuidou das necessidades do corpo (Scroggie).

 

Andando sobre a água (15-21). A situação parece simbólica: noite tenebrosa; grande tempestade, e Jesus , no alto, intercedendo (Mt 14.23); viagem longa e perigosa,e, de repente, a vinda do Senhor - e a bonança surge.

Nove vezes, em João, Jesus disse "Sou eu". Vale a pena fazer uma lista dessas ocasiões. Jesus é o pão da vida (22-59). A chave deste trecho é o versículo 35. O versículo 29 não quer dizer que a fé é uma "boa obra", mas que nosso primeiro dever perante Deus é crer no Senhor Jesus, que Ele enviou (Goodman).

 

Três vezes os judeus murmuram contra as palavras de Cristo. Os três assuntos em que tropeçaram são os alicerces da nossa fé: 1) a encarnação (v.41); 2)a expiação (v.51); 3) a ressurreição (v.62).

O  versículo 47 ensina-nos mais uma vez, pelo emprego do tempo presente, que a fé de agora é o que nos faz gozar da vida de Deus. Não é porque alguém creu, que terá; mas é quem crê que tem. Pensemos no que significa "crer" e quais as características da vida que o crente goza. Por que ela se chama "vida eterna?".

Devido a murmuração dos judeus (41-59), Jesus prossegue com seus ensinos preciosos sobre a "alimentação espiritual', que é Ele mesmo.

 

O Senhor destaca a verdade de que Ele é o alimento do seu povo, por meio de:

a) afirmação direta (v.47); 

b) um tipo, o maná (vv.48-51);

c) linguagem figurada: precisavam comer a sua carne e beber o seu sangue- isto é, apropriarem-se, pela fé, da eficácia da sua morte expiatória (53-56);

d) uma analogia maravilhosa (57). Como Ele mesmo vivia aqui pela fé em seu Pai, assim os seus viverão pela fé nele- não somente comendo ("phagein", v.53)para receber a vida, mas comendo ("trogein", v.56) para sustentar a vida.

 

Em tudo isto devemos notar que não há nenhuma alusão direta à ceia do Senhor, embora seja claro que por meio dessa Santa Ceia, pela fé, nossas almas se alimentam dele. Limitar o sentido, porém, a esse rito suscita grandes dificuldades. Será que somente os que tomam a Ceia podem ter vida nele? Não podemos alimentar-nos com o Pão da Vida a não ser em tais ocasiões? É evidentemente inviável assim limitar o sentido (Goodman).

 

Os versículos 48,51 ensinam-nos acerca do "Pão vivo". Investiguemos o seguinte: Por que Jesus empregou a figura do Pão? (Pão: é um alimento de todos os dias, de que nunca enfastiamos; sustenta sem prejudicar o organismo; combina bem com os outros alimentos.)

Devemos ler em Êxodo 16 acerca do maná, o pão do Céu, e em Josué 5.11,12 acerca do "trigo da terra". Em que sentido são ambos figuras de Cristo? Qual a diferença?

Os versículos 51-56 empregam a figura da "carne" do Salvador. Em que sentido podemos comer sua carne e beber seu sangue? ( é provável que signifique apropriarmo-nos pela fé, do valor da sua morte expiatória) Será que significa tomar a Santa Ceia? Não, não pode significar isso, porque nenhum rito nos pode dar vida eterna. Contudo a Ceia é outra figura da mesma verdade: O crente pode alimentar a sua vida espiritual com Cristo, pela fé.

O versículo 56 dá-nos a idéia de uma íntima associação espiritual com Cristo, tal que se chama permanecer nele e Ele em nós.

O versículo 57 dá-nos mais um pensamento precioso: viver por Jesus, sendo Ele o sustento das nossas almas. Podemos também viver com Ele, desfrutando sempre da sua companhia, e viver para Ele, servindo sempre à sua vontade.

Um duro discurso explicado (60-71). Jesus ensina que suas palavras devem ser compreendidas em sentido espiritual. Foi assim com o ensino do novo nascimento no capítulo 3, com a água viva no capítulo 4, com a vida que Ele dá no capítulo 5,e com a comida do capítulo 6.

Os versículos 60-63 ocupam-se com a pouca compreensão dos discípulos. Acham "duro" o ensino porque o tomam ao pé da letra. Em vez de explicar o ensino do pão, Jesus deu o ensino ainda mais estranho: acerca da ascensão.

A carne para nada aproveita (v.63) pode significar que comer de seu corpo material não lhes daria a vida espiritual a que Ele se referia. O leitor precisa ter cuidado em discriminar os vários sentidos em que se emprega a palavra "carne". Às vezes é o corpo humano; outras, a natureza pecaminosa que tende à carnalidade.

Do versículo 65 aprendemos que por instinto natural ninguém recorre a Cristo para receber vida, mas que o Pai aponta Cristo pela Palavra, pelo Espírito, pelas suas providências, e assim consegue que os homens, dispostos naturalmente a recorrer a recursos e expedientes humanos, venham a Cristo para receberem vida espiritual dele.

 

Os versículos 66-69 ensinam que muitos não podem acompanhar os ensinos espirituais, e voltam para trás. A retirada desses foi ocasião para Pedro fazer a sua notável confissão de Jesus como o Cristo. Que significa "o Cristo"?

 

 

 

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JOÃO CAPÍTULO 7

 

A QUARTA E ÚLTIMA VISITA À JUDÉIA

 

Podemos dividir este capítulo em três partes: antes da festa (1-13); durante a festa (14-36); no fim da festa (37-52) (Scroggie).

Antes da festa (1-13). Notemos; porque Jesus não podia continuar a ensinar os judeus (v.1); a diversidade de pareceres a seu respeito (11-13); Jesus não apreciado pelos seus irmãos (v.5). Pensemos: os irmãos eram mais moços do que Ele, e não sentiam a influência do exemplo incomparável de seu irmão mais velho, ou eram filhos mais velhos de um matrimônio anterior, que ligavam pouca importância  ao "pequeno"?

 

Durante a festa (14-36). Notemos a discussão de Jesus:

a) Com os judeus (14-24), que achavam impossível ser Jesus um ensinador competente, não sendo Ele formado em qualquer dos seus seminários;

b) com o povo: é triste quando pessoas, afirmando seus conhecimentos, apenas patenteiam sua ignorância (v.27). Diz Scroggie: "Lembraram-se de Nazaré mas esqueceram-se de Belém. O que esqueces pode roubar-te a Cristo";

c) com os servidores que, vindo prendê-lo, apenas aprenderam que Ele ia retirar-se (vv. 33 e 34). Ficaram muito impressionados com as palavras de Jesus.

 

No fim da festa (37-52). A chave do capítulo 6 é "pão" e do capítulo 7 "água". No versículo 39 temos a explicação do evangelista, confirmada pela experiência de cerca de 60 anos.

Os versículos 37,38 falam de ter sede, vir, beber, repartir. Nossa experiência coincide com essa sequência?

O dr.Bullinger oferece outra tradução destes versículos: "Se alguém tem sede, que venha a mim, e beba; quem crê em mim, como a Escritura diz [de mim], dele manarão rios de água". Não ´´e quem bebe que se torna em fonte; quem bebe é o recebedor, mas não o doador.

"Dissensão por causa dele" (v.43). Desde então até agora as pessoas são classificadas, espiritualmente, segundo a sua apreciação de Cristo. Os moralistas apreciam o seu perfeito exemplo; os sentimentalistas falam dos sofrimentos dele; os intelectuais notam os seus ensinos sublimes; os cristãos adoram a Deus revelado em Cristo.

 

Nicodemos (v.51) fala com cautela em favor de Jesus, mas não faz uma declaração aberta da sua fé.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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JOÃO CAPÍTULO 8

 

A mulher adúltera (1-11). Aprendemos algumas lições importantes do incidente:

a) Jesus não tinha pressa de censurar a transgressora.

b) Para julgar os outros é preciso estar sem pecado. Aprendemos de 1 Pedro 4.1 que quando o pecado não significa para nós prazer, mas sofrimento - no corpo ou no espírito - temos "cessado' dele, então podemos tratar do pecado dos outros.

c) Os mais culpados são os primeiros a fugir da presença do juiz.

d) Só Jesus pode dizer com justiça "Não te condeno", porque somente com Ele há expiação.

e) A exortação: "Não peques mais" precisa ser atendida.

Jesus se diz "a luz do mundo" (12-20) e ligamos isto com o que precede: a luz revelara o pecado oculto dos acusadores; a luz manifestara o perdão divino; a luz iluminara a senda da santidade (v.11).

O que Jesus afirma aqui sobre o testemunho de si mesmo mostra que devemos entender 5.31 em sentido reservado. Ali parece que Ele quer dizer que seus ouvintes deviam atender às outras quatro testemunhas a seu respeito, e não querer que Ele afirmasse qualquer coisa referente à sua Pessoa: "Ele não quis dizer que não dava nenhum testemunho de si, mas que não o dava por si só: tinha a confirmação do Pai" (Goodman).

Aprendemos do versículo 19 que Jesus é a perfeita e completa revelação do Pai. No porvir não vamos descobrir nenhuma característica divina que Jesus não tenha revelado.

Vários discursos instrutivos (21-44). Resumindo os discursos contidos neste trecho, o dr. Westcott diz que consistem em duas partes. A primeira (vv.21-30) contém a apresentação do único objeto da fé e a declaração das consequência da incredulidade. Termina com um grande afluxo de discípulos (v.30).

A segunda parte (31-58) apresenta uma análise do caráter essencial e as consequências de uma crença egoísta e de um judaísmo falso. Finaliza com o primeiro assalto com violência contra o Senhor (v.59) (Scroggie).

 

Podemos colher alguns pensamentos importantes.

a) Pela fé no Salvador é que alguém pode evitar a triste sorte de morrer nos seus pecados (v.24).

b) A mensagem que Jesus deu ao mundo era a mensagem do Pai (vv.26-28).

c) é possível falar da liberdade e ainda ser escravo do pecado (vv.31-36).

d) Filho, no sentido bíblico, é alguém que apresenta o aspecto de seu pai (vv. 39-44). (Compare-se Mateus 5.45).

 

Podemos ver como neste trecho Cristo revela a verdade a respeito:

a) de si mesmo (25,28,29);

b) do Pai (26,27,29);

c) do discipulado (31);

d) do pecado(34)

e) da liberdade (36)

f) dos filhos de Abraão (39);

g) Do diabo (44).

 

Também podemos considerar as seguintes perguntas: Que verdades de valor espiritual podemos saber sem Cristo? Que aprendemos de Deus através da natureza? (Rm 1). Que sabemos do Pai que Cristo nos revelou? Entre todos os crentes, quais são discípulos?

 

Jesus arguindo os adversários (49-50). É grande a perversidade dos homens maus: na aparência de religiosos, na sua ação de combater o precioso ensino do Salvador. Vemos que é possível, quando falta espiritualidade, atribuir a ensino sublime uma origem diabólica (vv.48-52).

Cristo e a morte (51-59). Aprendemos aqui que alguém pode morrer fisicamente e nunca "ver a morte" no sentido espiritual da separação de Deus (v.51). Um servo de Deus disse certa vez: "se cortassem a minha cabeça, não interromperiam meu gozo"; seu gozo era espiritual!

O versículo 56 ensina-nos que a fé enxerga longe! Notemos o sublime "Eu sou" do versículo 58.

 

É provável que a tradução do versículo 56 deva ser: "Abraão rogou para ver o meu dia" (O.144).

 

 

 

 

 

 

 

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JOÃO CAPÍTULO 9

 

A cura do cego de nascença (1-38). Vemos que os discípulos (como também fizeram os amigos de Jó) caíram no erro muito comum de atribuir toda doença ao pecado, e assim de expressarem, na sua pergunta , um contra senso.

Quando temos a certeza de que nossa doença não é por motivo de pecado, podemos esperar que alguma obra de Deus se manifeste a seu respeito.

Notemos algumas coisas que eram necessárias para que o cego fosse curado:

a) A presença, o interesse, o contato e o poder do Salvador.

b) A submissão e obediência do cego.

c) A lavagem com água do poço apontado.

d) A boa vontade do Pai (v.4).

Notemos também algumas consequências da cura: Nova visão - o homem percebe agora mil coisas que sempre o cercaram mas que outrora não podia discernir. E, sobretudo, ele viu seu Salvador! Nova alegria de sentir-se liberto do pesadelo de inferioridade que outrora o acabrunhava. Novo serviço: pode agir e trabalhar como os que vêem. Novo testemunho do poder de Jesus. Novo sofrimento, ao ser perseguido pelos inimigos do seu Salvador.

Podemos também estudar:

1) O que lemos de Cristo.

2) O que lemos do cego.

3) O que lemos dos fariseus.

1) De Cristo lemos: a) Que viu o cego e compadeceu-se dele; b) Que sabia a origem e a razão do seu mal; c) Que resolveu não perder a oportunidade (v.4); d) Que empregou um meio estranho de curar; e) Que ensinou o cego a fazer alguma coisa; f) Que procurou o homem abandonado (2 Tm 4.16,17) e o instruiu; g) que admoestou os fariseus.

2) Do cego lemos: a) que obedeceu à ordem de que se lavasse no tanque; b) que admitiu seu estado de cegueira; c) que testificou do seu Salvador (vv.11,17); d) que confessou que não sabia (vv.12 e 25) e que sabia (vv.25,31,33); e) que descreveu o milagre (v.15); f) que fez algumas perguntas (vv. 27,36); g) que sofreu perseguição; h) que creu e adorou (v.38).

3) Dos fariseus lemos: a) que indagaram a respeito do milagre (v.15); b) que reprovaram a Jesus (v.16); c)que chamaram os pais do cego (vv.18,22); d) que mentiram (v.24); e) que injuriaram o homem (v.28) e o perseguiram (v.34); f) que perguntaram se eles mesmos eram cegos (40).

O dr Scroggie faz sete divisões deste capítulo : Beneficência (1-7); Surpresa (8,9); Investigação (10-23); Confissão (24-33); Perseguição (34). Revelação (35-38); Condenação (39 a 10.21).

Alguns pensamentos ligam-se com o trecho 18-41: a prudência dos pais, não querendo comprometer-se para com os fariseus. Mas a prudência em certos casos pode ser excessiva.

"Uma coisa sei" (v.25). Convém haver um testemunho positivo de fatos sabidos.

O ódio dos fariseus (v.28); o discurso do cego curado (vv.30-33).

Vemos que uma pessoa, mesmo excomungada pelos chefes religiosos, pode estar com o Senhor Jesus (v.35).

 

Ver ou não ver (39-41). "O Senhor, que não viera ao mundo para julgá-lo, mas para o salvar, pode, pela sua presença nele, trazer-lhe juízo. O resultado espiritual é que os conscientemente cegos - os que por isso procuram a luz - chegam a ver, enquanto os que alegam que vêem - os que possuem apenas a sabedoria deste mundo- ficam cegos. Os fariseus perguntam qual a sua classificação - com os cegos ou os videntes? O Senhor responde que eles mesmos se têm classificado, dizendo "Vemos". Se tivessem sido cegos, o seu pecado não teria permanecido" (Grant).

 

 

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JOÃO CAPÍTULO 10

 

Jesus, o Bom Pastor (1-21). Notemos as credenciais do verdadeiro pastor. 1) Ele entra no curral, isto é, a nação judaica, o povo eleito; 2) Ele entra pela porta - por submissão à Lei, à circuncisão, o selo do velho concerto; 3) o porteiro, o Espírito Santo, abre-lhe a porta operando por João Batista; 4) Ele chama por nome as suas ovelhas, porque em Israel havia um restante piedoso para ouvir a sua voz; 5) Ele tira as ovelhas para fora do curral do judaísmo.

Notemos que o curral é um cercado - por leis e ordenanças - para que as ovelhas não fujam, ao passo que o rebanho é composto de um grupo de ovelhas que não querem fugir, porque têm como centro o Bom Pastor.

Vemos neste trecho as características do verdadeiro pastor: 1)Não é mercenário. 2) Ele mesmo é o Salvador das ovelhas. 3) Ele dá sua vida por elas .

Notemos, referente à sua morte: que era voluntária (v.18); que se realizava em obediência ao Pai (v.18); que era agradável a Deus (v.17)- (Goodman).

No versículo 8 evidentemente devemos subentender palavras não expressas: "Todos quanto vieram antes de mim [com pretensões de ser o Messias] são ladrões e salteadores". Sabemos, pelo historiador Josefo, que havia naquele tempo vários falsos Cristos. (Veja-se também Atos 5.36,37).

Cristo, a porta das ovelhas (v.9). No versículo 7 Jesus se declara Pastor das ovelhas (veja-se "Our  Translated Gospels", p.108), mas aqui muda de figura e se chama a porta pela qual as ovelhas podem entrar (Ele não diz para um curral), mas para um lugar de salvação, de liberdade (entrará e sairá) e fartará.

Mais uma vez vemos um conjunto de pessoas, as ovelhas de Cristo, não agora cercadas por um curral, mas reunidas em torno de um centro. Deuteronômio 12.11 fala de um lugar onde havia de ser localizado o culto de Jeová, e todo o Israel havia de chegar para esse lugar Santo. O N.T. fala de uma Pessoa, e de discípulos congregados em seu nome - as ovelhas em torno do Bom Pastor.

Convém tomar sentido numa proposta emenda de tradução dos versículos 14 e 15, devido a ter a palavra grega "kai" dois sentidos , significando tanto e como também. Assim devemos ler: " Eu sou o bom pastor e conheço as minhas ovelhas, e delas sou conhecido, como o Pai me conhece a mim e eu conheço o Pai. E dou a minha vida pelas ovelhas".

Isto quer dizer a mesma compreensão, intimidade, confiança e simpatia que existem entre o Pai e o Filho pode haver entre o Bom Pastor e as suas "ovelhas".

A festa da dedicação (22-42). Esta festa celebrava-se durante uma semana, em dezembro. Fora instituída por Judas Macabeus em 165 a.C. para comemorar a purificação do Templo (Scroggie).

 

Notemos referente às ovelhas de Cristo que: 1) ouvem a sua voz; 2) Cristo as conhece; 3) seguem-no; 4) gozam da vida eterna.

"Eu e o Pai somos um". A palavra "um" é neutra. Não significa, por isso, uma pessoa, pois isso requeria o masculino. Sabemos que na divindade há três Pessoas mas um só Deus. "Um" significa uma substância com o Pai. Assim não devemos confundir as Pessoas ou dividir a substância (Goodman).

 

Neste trecho o Senhor Jesus declara definitivamente que Ele é o Messias, mas também afirma que o pecado impede a fé (v.26).

Notemos a expressão: "As obras de meu Pai". Os milagres de beneficência eram obras do Pai, por serem feitas em dependência do poder do Alto, por expressarem o desejo do Pai em fazer bem aos homens; por provarem que o Filho era a revelação do caráter e coração do Pai.

 

Vemos que os judeus queriam discutir com pedradas. Quem não tem argumentos para apresentar costuma apresentar pedras.

 

 

 

 

 

 

 

 

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JOÃO CAPÍTULO 11

 

 

Entre João 10 e 11 vem Lucas 11.1 a 17.10, e os acontecimentos narrados em João 11 vêm entre os versículos 10 e 11 de Lucas 17. A ressurreição de Lázaro é o sétimo milagre registrado por João. A controvérsia que foi começada em 5. 1-18, e continuada em 5.19 a 10.42, é concluída nos capítulos 11 e 12; e nesta conclusão vemos o amor que simpatiza (11.1-37), a vida que salva (11.18 a 12.11) e a luz que brilha (12.12-50). O capítulo 11 tem quatro partes principais, todas relacionadas com o milagre: sua ocasião (1.16), sua aproximação (17-32), seu cumprimento (33-44), suas consequências (45-47)" (Scroggie).

 

Jesus e Lázaro (1-18). O capítulo divide-se naturalmente em três partes : a introdução (1-16); o sinal (17-45); as consequências (46-57).

Notemos algumas lições no começo do capítulo: 1) oração não respondida (v.3) nem sempre indica indiferença; 2) demora (v.6) não importa falta de simpatia; 3) o que nós chamamos calamidade, muitas vezes é para a glória de Deus; o bem resulta do mal, quando há verdadeira fé; 4) a fé é fortalecida por seu exercício nos dias sombrios (v.15); 5) a coragem tem sua oportunidade nos dias tristes ou perigosos (v.16) - (Goodman).

 

As duas irmãs (19-37), Maria e Marta, fornecem-nos um estudo. Devemos consultar Lucas 10.38-42 para completar o quadro, e ainda mais João 12.1-12.

Vemos quão intimamente a vida e a ressurreição são identificadas com a pessoa do Salvador (v.25).

Marta parece sentir que a conversão estava passando além da sua compreensão, e achou melhor chamar Maria para ajudá-la a responder convenientemente.

 

A ressurreição de Lázaro (38-45). O milagre foi notável, por ser a ressurreição de um defunto de quatro dias!

Nesta ocasião vemos: Jesus comovido (33) na presença da morte; Jesus simpatizando (v.35) e chorando com os que choram; Jesus pedindo que tirem a pedra, porque Ele não faz milagrosamente o que nós podemos fazer; Jesus orando e dando graças, na certeza de que o Pai o ouvia; Jesus mandando o defunto sair do sepulcro; Jesus instruindo os amigos a libertarem o ressuscitado, como ainda hoje nos manda libertar dos antigos embaraços mundanos as pessoas que dele receberam novidade de vida.

 

Uma conspiração iníqua (46-57). Encontramos neste trecho: 1) Um reconhecimento notável: "Este homem faz muitos sinais", mas isso devia ter sido motivo de investigarem cuidadosamente o merecimento de quem fazia. 2) Um receio fingido (v.48), sem base, e ridículo. 3) Uma proposta iníqua, de sacrificar uma vida inocente para evitar uma complicação política.

 

Podemos estudar aqui diversas personalidades: crentes (45); portadores de notícias (46); conselheiros (47); Caifás (49,50).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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JOÃO CAPÍTULO 12

 

 

Maria unge os pés de Jesus (1-11). Mateus e Marcos também relataram este incidente. Relatam que a mulher ungiu a cabeça de Jesus, e não falam dos pés; João nota que os pés foram ungidos, e não fala de cabeça. É preciso combinar as duas narrativas para ter o incidente completo.

Aprendemos de Lucas 7.46 que não era nada extraordinário ungir a cabeça de uma visita, e em João 13 e Lucas 7.44 lemos da lavagem dos pés. Essas pequenas atenções pessoais variam de acordo com os tempos e os lugares. No Brasil o uso é apenas tomar o chapéu da visita, dar-lhe uma cadeira, e antes que se retire oferecer-lhe um café. No interior é costume trazer-lhe à noite uma bacia com água para lavar os pés. No Japão emprestam chinelos às visitas, a fim de que estas deixem o calçado enlameado fora da porta. [ O autor escreveu em 1942].

É preciso não confundir este serviço de Maria de Betânia com outro semelhante, feito muito antes em Naim por uma mulher pecadora em casa de outro Simão, e relatado  em Lucas 7.

No versículo  7 devemos ler provavelmente: "Porventura para o dia da minha sepultura deve ela guardar isto?" (O.61). É somente João que diz: que "encheu-se a casa do cheiro de unguento"; que a queixa de desperdício foi de Judas; e que "para o dia da minha sepultura guardava isto".

Notemos: 1) o testemunho silencioso de uma nova vida em Lázaro; 2) serviço, em Marta; 3) culto e adoração, em Maria.

No versículo 11 devemos ler: "Por causa dele, mais e mais criam em Jesus" (O.39).

 

A entrada triunfal (12-19) é narrada pelos quatro evangelistas, mas é somente João que menciona a profecia de Zacarias 9.9, e diz que o movimento do povo foi por ter ouvido da ressurreição de Lázaro.

Notemos: que a manifestação popular pode ser muito superficial; que é mais fácil dar a Jesus o título de rei, do que submeter o coração ao seu senhorio; que Jesus não reprova uma homenagem, embora saiba seu pouco valor; que até nem mesmo os seus discípulos percebem o cumprimento de uma profecia; que um fariseu perverso pode ficar aborrecido ao ver o mundo ir após Cristo.

O desejo dos gregos (20-36). Diz F.W. Grant: "Os gregos aqui não são judeus Helenistas, mas gentios, embora adoradores do verdadeiro Deus revelado a Israel". Eram prosélitos de entre os gregos. É de notar que vieram adorar no dia da festa, por isso não eram meros gentios pagãos.

Queriam uma entrevista particular com Jesus, e podemos notar que ainda hoje há pessoas que desejam entrar em relações mais íntimas com Ele. Por que?

Vemos que Jesus se mostrou muito preocupado com a morte que se lhe aproximava, de maneira que nada mais ouvimos sobre a entrevista com os gregos.

Notemos a afirmação principal do trecho: "É chegada a hora em que o Filho do Homem há de ser glorificado" (v.23), e a preocupação de Jesus não era tanto com o fato e o processo da sua morte, mas com a consumação final. ( Há pessoas tão preocupadas com o ao de morrer, que pouco pensam no final).

Entendemos que:

1) Esta glorificação somente podia ser mediante a morte (v.24).

2) Somente assim podia o celeiro de Deus ficar cheio de muito fruto (v.24).

3) Somente assim podia a honra de Deus ser reivindicada, e o pecado expiado.

4) Somente assim Ele podia ensinar aos homens o verdadeiro segredo da vida (vv. 25,26).

5) Somente assim podia ser rompido o poder de Satanás (v.31)

6) Somente assim podia Cristo atrair todos a si (v.32).

7) Somente assim podia haver para nós a luz da vida (v.35) (Goodman).

Com o versículo 25 o leitor estudioso pode começar a sua investigação das três palavras gregas traduzidas por vida; "psyche" - vida animal; "bios" vida material, bens, etc ; e "zoe" - geralmente vida abundante, espiritual. "Quem ama a sua "psyche" perdela-á, e quem neste mundo aborrece a sua "psyche", guardala-á para a "zoe" eterna. Sempre que a Escritura fala de "vida eterna" é "zoe".

Devemos provavelmente ler no versículo 34: "Como dizes tu que convém que o Filho do homem vá embora?  Quem é esse Filho do homem? (O. 45)".

A palavra escrita é como a palavra de Jesus (37-50). Isaías 6.9,10 é citado aqui por João, e em Mateus 13.14,15, Marcos 4.12 e Lucas 8.10 pelo Senhor Jesus. Em Aos 28.26,27 é citado por Paulo.

O sentido parece ser que não podiam crer porque não queriam crer; e pode também incluir o sentido de que quando o coração não deseja a verdade de Deus, a inteligência não consegue percebê-la. Certamente não ensina que Deus proíba alguns de serem crentes, pois Ele quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade (1 Tm 2.4).

Aprendemos deste trecho: que um sinal nem sempre produz fé (37); que então, como agora, havia crentes medrosos (v.42); Que Jesus era a perfeita revelação do Pai (v.45); que os problemas  espirituais  se esclarecem na presença de Cristo (v.46); que a verdadeira "vida" é conhecida no caminho da obediência (v.50).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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JOÃO CAPÍTULO 13

 

 

Jesus lava os pés dos discípulos (1-11). Aqui temos um bom exemplo da importância de se observar o contexto para entendermos a significação de um trecho da Escritura.

O contexto, no caso deste ato da lavagem dos pés, é o que lemos nos versículos 1-3. Ali aprendemos que Jesus praticou o ato: 1) Em vista da sua partida para o Pai; 2) Como prova do seu amor; 3) No pleno reconhecimento de todo o seu poder divino; 4) No cumprimento da sua missão.

Assim o ato se reveste de significação muito mais profunda do que um simples exemplo de humildade.

A chave está no versículo 8 das palavras "parte comigo'. Durante os três anos do seu ministério, Jesus tinha tido parte com seus discípulos em todas as circunstâncias humildes da sua vida diária: comeu, viajou, e dormiu com eles. Agora a cena vai mudar. Ele se retira para a casa do Pai. Para os discípulos terem comunhão com Ele no palácio celestial, é necessário "outro asseio", espiritualmente falando,e, mais particularmente, purificação da contaminação inevitável que resulta do trânsito pelo mundo. A figura é de uma contaminação incidental: não do pecado, que é purificação com sangue e não com água. (1 Jo 1.7).

 

No versículo 10 devemos ler "aquele que tomou banho". Conferir Tito 3.5.

 

Podemos dividir nosso estudo deste precioso incidente de diversas maneiras. Por exemplo :

1) O fim proposto: "parte comigo". Os discípulos já conheciam Jesus como "Emanuel", Deus conosco, mas Ele quer que aprendam uma verdade ainda mais preciosa: "Nós com Ele" na intimidade da comunhão celestial.

2) O serviço necessário era de purificação e não de expiação. Necessário porque Jesus ia para outra esfera e queria que os seus fossem preparados para estar naquele novo ambiente.

3) O adequado para semelhante serviço é a humildade que nasce do amor; o espírito que tem seu prazer em servir e que não poupa esforço; o espírito que persiste até conseguir.

Ou podemos fazer as seguintes divisões:

1) As circunstâncias do ato. O ato foi praticado em vista da sua partida: foi a expressão do amor que fazia questão de remover tudo quanto impedisse a mais completa intimidade com o Salvador glorificado. O ao feito "durante" a ceia pascal (não no fim dela), estando Judas ainda presente, antes de sua retirada e da instituição da Ceia do Senhor.

2) A significação da lavagem dos pés é: que nosso trânsito pelo mundo inevitavelmente nos contamina; que um crente, já "banhado"(v.10)  com a lavagem de regeneração (Tt 3.5), necessita a frequente lavagem de água pela Palavra; que o próprio Cristo se empenha neste serviço.

3) A repetição do ato compete a nós (14,17). Podemos e devemos lavar espiritualmente os pés uns dos outros (14). Para isso é necessário que tenhamos:

a) A água da Palavra (Ef 5.26).

b) A bacia que contém a água. Não é suficiente haver a verdade na Bíblia: importa que esteja também em nosso coração, disponível para o serviço.

c) A toalha que conforta e consola depois da purificação. Com Jesus a toalha estava em evidência antes que Ele começasse o serviço.

4) O valor deste incidente para nós (12-20). Devemos estudar constantemente para ver como podemos prestar igual serviço aos nossos irmãos. Podemos lavar os pés uns dos outros  pela exortação, aplicando as verdades da Palavra à vida diária do crente.

 

A palavra que Jesus dirigiu a Pedro: "O que eu faço, não o sabes tu agora" (v.7), demonstra que a lavagem dos pés tinha um sentido profundamente espiritual, que só mais tarde Pedro havia de compreender.

Jesus prediz que Judas o há de trair (21-30). Este fato é referido pelos quatro evangelistas; por Mateus e Marcos quase nas mesmas palavras. No versículo 27 Satanás é mencionado pela única vez neste Evangelho. Entendemos que Judas não tomou parte na Ceia, e alguns depreendem do versículo 29 que nem participou da festa pascal.

O novo mandamento (31-35) ensina o amor fraternal entre os crentes. Este amor deve ser o distintivo dos crentes em todos os tempos e em todos os lugares. É consolidado pelo fato de terem todos o mesmo Salvador, o mesmo interesse, o mesmo recurso, o mesmo serviço (o de promover os interesses do reino), o mesmo Espírito, o mesmo destino. Cuidemos que este amor para com a irmandade cristã não seja trocado por um amor ao partido, um amor à nossa igreja, um amor egoísta ou interesseiro.

Pedro é avisado (36-38). Devemos aprender: a não confiar em nós mesmos; que é possível um discípulo fervoroso  negar seu Senhor; que Deus sabe levar os seus ao arrependimento, até por meio do cantar do galo.

 

 

 

 

 

 

 

 

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JOÃO CAPÍTULO 14


    O pai revelado no Filho (1-15). O ensino deste trecho é importante, porque a vista ia dar lugar à fé.

Assim Jesus ensina aos discípulos que, da mesma maneira que Deus havia sido o objetivo da fé deles, Ele futuramente o havia de ser também (v.1).

A significação das "muitas moradas" pode ser de acordo com Hebreus 12.22,23, que parece mostrar haver nos céus vários grupos de abençoados, mas que um lugar especial está reservado para a Igreja de Cristo.

O versículo 6 tem sido traduzido "Eu sou o caminho verdadeiro e vivo", segundo a figura grega "hendiadis", que, para reforçar uma afirmação, emprega substantivos em lugar de adjetivos (Neil).

Cristo é a entrada para o caminho; Ele é o próprio caminho, e é também o término do caminho.

Neste trecho temos o precioso ensino de que, em Cristo, o Pai é revelado, e que quem conhece a graça, a compaixão, o amor e a santidade do Filho conhece também o caráter do Pai.

"Vir ao Pai" (v.6) não quer dizer ir ao céu depois desta vida, mas entrar em relações com Deus como Pai agora.

Devemos ler no versículo 7: "Se vós me conheceis a mim, também conheceis a meu Pai" (O.45).

Notemos nos versículos 13,14 o que significa pedir em nome de Jesus: é pedir qualquer coisa que temos a certeza ser do agrado dele, "para que o Pai seja glorificado no Filho".

A promessa do Consolador (16-31). Notemos no versículo 16 as três pessoas da Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Sem hesitação nem dúvida, Jesus se coloca como integrante da divindade.

Notemos os três títulos do Espírito: Consolador (v.16,26); Espírito de Verdade (v.17) e Espírito Santo (v.26). Que significa para nós cada um desses títulos?

"As palavras com que o Senhor se refere ao Espírito neste último discurso são geralmente aceitas como base da nossa confiança na inspiração do Novo Testamento: 1)'Ele vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito'; cumpriu-se na fiel recordação dos quatro evangelhos. 2) 'Ele vos ensinará todas as coisas' (14-26); 'vos guiará em toda a verdade' (16.13). Isso justifica nossa confiança no ensino das epístolas. 3) 'Ele vos anunciará as coisas que hão de vir' (16.13) Isso refere-se às profecias do Apocalipse" (Goodman).

Tão perto da cruz, Jesus podia falar de glória, paz e gozo. No meio da confusão, Ele estava calmo. Na hora em que o ódio humano chegava em seu auge, Ele descansava no amor do Pai.

E nós, porventura, vivemos sob a influência do que vemos em Deus? ou do que vemos nos homens?

Devemos ler nos versículos 17,19: "Vós o conhecereis, pois ficará convosco e em vós... Ainda um pouco e o mundo não me verá mais, mas vós me vereis (O.49).

Uma tradução ao pé da letra do versículo 27 seria: "... não como o mundo dá, eu vos dou". Não há nada no original que diga que o mundo nos dê paz.

 

O fim do versículo 31 deve ser: "Levantar-me-ei e irei embora" (O.135).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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JOÃO CAPÍTULO 15

 

Cristo, a videira (1-9). Aprendemos de 14.31 que Cristo e seus discípulos saindo do Cenáculo, provavelmente passaram pelo templo, e a videira de ouro sobre as portas sugeriu esta grande lição de união vital do crente com seu Senhor. Devemos distinguir entre o viticultor, a videira, e as varas... Havemos de entender mal esta parábola se não reconhecermos que abrange a todos os que fazem uma profissão do cristianismo, como também acontece com a parábola das virgens. Somente assim podemos entender o versículo 6" (Scroggie).

 

Israel era a videira que Deus trouxera do Egito (Sl 80.8-16), mas que não deu fruto (Is 5.2). Agora Cristo se apresenta como a videira, e ensina que, para haver fruto aceitável a Deus, devemos permanecer em íntima relação com Ele.

Este capítulo divide-se em três partes. Dos versículos 1-8 a chave é a palavra permanecer; de 9-17 é amor; de 18-27 é aborrecer (Goodman).

"Fruto" não é, necessariamente, almas convertidas por nosso testemunho. É a natureza e valor da videira manifesto nas varas. É Cristo visto naqueles que permanecem em comunhão com Ele.

 

A figura da videira e das varas não pode exemplificar toda a verdade de Deus. Por exemplo, não pode exemplificar a restauração de um crente desviado. Para isso precisamos recorrer a outra figura, a do Pastor e a ovelha extraviada.

A videira é a figura natural da dependência, pois depende permanentemente dos cuidados do viticultor.

Cristo e seus amigos (9-17). Notemos neste trecho: o caráter do amor de Cristo para com os seus amigos; a condição para continuarem no seu amor; que a obediência resulta em gozo; que o amor de Cristo é o modelo para nosso amor fraternal; que Cristo quer ter-nos mais como amigos do que servos; que a prova dessa amizade é que Ele nos revela seus planos e propósitos; que, atendidas determinadas condições (vv. 7,16), as nossas orações serão ouvidas.

No versículo 16 devemos ler "para que vades e deis cada vez mais fruto" (O.40).

 

A igreja no mundo (18-27). As divisões são: 1-11, os discípulos e Cristo; 12-17, os discípulos e seus companheiros; 18-27, os discípulos e o mundo.

 Aprendemos deste trecho que não devemos esperar melhor tratamento por parte do mundo do que Cristo recebeu. Parece-nos estranho que haja tanto ódio para com aqueles que representam Cristo neste mundo. Como se explica? É ódio sem causa (v.25), que existe porque o coração natural é inimizade contra Deus (vv.23,24) e porque palavras santas condenam o pecado do mundo (vv. 22-24); é por causa do nome de Cristo (v.21) e pelo desconhecimento de Deus por parte do mundo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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JOÃO CAPÍTULO 16

 

 O Espírito no mundo e na igreja (1-15). Vemos neste trecho algumas características do mundo religioso. Persegue e mata os discípulos de Cristo, e imagina que assim serve a Deus! Para não cairmos no mesmo erro, precisamos tomar conhecimento do Pai e do Filho (v.3).

O versículo 4 mostra o caráter especial do ensino destes capítulos, tendo em vista a partida de Cristo.

No versículo 5 devemos ler: "Nenhum de vós deve perguntar-me: Para onde vais?"(O.50).

 

O versículo 7 temos mais ensinos importantes referentes ao Espírito Santo. No versículo 8 devemos ler, que Ele arguirá o mundo do pecado, da justiça e do juízo.

Percebemos que esta arguição do mundo é intimamente ligada, pelo Espírito Santo, com o testemunho de Cristo. O Espírito Santo procura preocupar o homem com Cristo em toda a sua perfeição e santidade, e, na presença de Cristo, o coração sincero reconhece-se pecador (Lc 5.8). Se o homem continua descrente, seu pecado fica; mas se crê no Salvador, resulta-lhe salvação.

O Espírito testifica também da justiça, comprovada pelo fato de Cristo voltar ao Pai, depois de consumada a obra redentora. E do juízo - passado, não futuro - em que o príncipe do mundo, Satanás, é julgado e aniquilado (Hb 2.14) por Cristo.

Este trecho ocupa-nos com o Espírito Santo como Ensinador, e Ele serve-se, como instrumentos e porta vozes do seu ensino, de crentes submissos à sua influência. Ele ensina o mundo e a Igreja.

Seu testemunho ao mundo é referido por Jesus em João 16. 8-11 em três partes: pecado, justiça e juízo. Na nossa compreensão destes versículos precisamos subentender certos fatos para melhor entender seu sentido. O Espírito convencerá (arguirá) o mundo:

a) "do pecado", porque os mundanos são geralmente como o doente que não percebe a gravidade do seu mal. Muitas vezes é preciso convencê-lo da sua doença para que ele sinta a necessidade do médico. O mundo necessita ser arguido do pecado porque não compreende a sua gravidade; está habituado com ele e não aspira à santidade; não se lembra que pode haver castigo futuro.

b) "da justiça", que dá a todos, desde o próprio Deus, o que lhes é devido. A ascensão de Jesus à casa do Pai foi, por assim dizer, a consumação da justiça; foi o que lhe era devido em virtude da sua vida imaculada, da glória do Pai reivindicada, da expiação consumada.

c) "do juízo". Parece-nos que aqui o Senhor Jesus está contemplando a plena consumação da obra redentora da qual o Espírito Santo testificará, o que inclui o julgamento do "príncipe deste mundo", Satanás.

 

O Espírito ensina a igreja por intermédio daqueles a quem dá dons espirituais, fazendo lembrar "tudo quanto vos tenho dito" e aplicar essas verdades à vida atual. Ele também "anuncia as coisas que hão de vir' (João 16.13). Ele sempre glorifica a Jesus, e assim podemos reconhecer o ensino que é no poder do Espírito de Deus (v.14).

Palavras finais (16.33). O versículo 20 descreve em linguagem viva os efeitos da morte e ressurreição de Cristo sobre os discípulos: tristeza, choro, lamentação, logo transformados em gozo permanente (v.22). E nós também nos regozijamos porque Cristo vive? Notamos como, durante esta última semana, tão cheia de motivos de tristeza, Jesus falou mais em "gozo".

O versículo 23 ensina-nos que agora toda oração deve ser feita em nome de Cristo - isto é, de acordo com a sua vontade e para sua glória.

 

"O Senhor fala novamente da sua partida, em termos que as suas palavras prévias esclarecem. Ele ia realmente para o Pai, e contudo, pela vinda do Espírito, havia de estar outra vez com eles, pois, como dissera, nesse dia haviam de compreender, como nunca antes, que Ele estava no Pai, e eles nele, e Ele neles. Mas as suas palavras apenas demonstram que eles estão preocupados com a misteriosa tristeza da sua partida- a partida de quem viera ao mundo para trazer a esperada bem-aventurança, e que ia embora, com esse fim, aparentemente, ainda sem realizar, deixando-os decepcionados! A tristeza do momento era-lhes demasiadamente pesada para que compreendessem devidamente a esperança futura. A tristeza lhes era real; a esperança, para eles, era problemática" (Grant).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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JOÃO CAPÍTULO 17



    Depois de ter falado tanto com os discípulos, Jesus termina com esta incomparável oração ao Pai.

É um grande privilégio ser-nos permitido ouvir as grandes almas em oração; contudo, não devemos imitar-lhes a linguagem sem partilhar do seu espírito.

Notemos os pensamentos principais desta oração única: revelação (1-5); conservação (6-16); santificação (17-19); unificação (20-23); glorificação (24-26).

Na nossa meditação sobre a oração deste capítulo, podemos estudar:

1) Cristo orando por si.

2) Cristo orando pelos seus discípulos.

3) Cristo orando pela Igreja em todo o tempo.

1) Cristo ora por si (1-5). Notemos em primeiro lugar que Ele olha além da Cruz, como que vendo a grande obra redentora já consumada (v.4). Notemos também que esta oração foi feia na presença dos discípulos e para sua instrução (como também no capítulo 11.42). Não devemos pensar que o versículo 3 se destinasse a prestar informações ao Pai, mas sim aos discípulos.

Nesta parte da oração Cristo pede para ser "glorificado" outra vez na presença do Pai, por ter glorificado o Pai na presença dos homens.

2) Ora pelos seus discípulos (6-19). Cristo declara: a) ter-lhes manifestado o "nome" do Pai, dando-lhes as "palavras" do Pai; b) estarem eles ainda no mundo e, por isso, necessitados da proteção divina; c) não serem eles do mundo, sendo, em consequência, odiados pelo mundo, mas, mesmo assim, enviados ao mundo.

E pede que sejam guardados (v.11) em unidade; libertados do mal (v.15); santificados (v.17) na verdade.

Devemos entender a palavra santificar no versículo 19 no sentido de consagrar ou dedicar.

3) Orando pela Igreja em todo o tempo (20-26). Cristo declara ter dado aos seus a glória que Deus lhe deu, e em seguida explica que a "glória" que Ele tinha neste mundo era "Tu em mim", e que a glória que é nossa é "Cristo em vós" (v.23); declara; ser sua vontade ter os seus eternamente com Ele; que o mundo não o descobrira; que fizera conhecer o nome de Deus aos seus.

Ele pede que "sejam um", para que este testemunho unido convença o mundo, e que os seus estejam com Ele.

 

Sobre os versículos 21-23 diz F.W.Grant: "Esta é a unidade na vida prática, unidade de coração e mente, tal como subsiste entre o Pai e o Filho: unidade que o mundo pode ver, de maneira a ser por ela levado à fé. Claro que o mundo inteiro não crerá, mas em todos os tempos homens do mundo todo tem sido influenciados por esta unidade. Não fala aqui na Igreja, que não se encontra em João, embora, sem dúvida, cada brecha na unidade da Igreja começou como uma brecha na vida prática. A vida adquire seu caráter da verdade aprendida, e a expressão "um em nós" mostra que se refere a uma vida de comunhão com o Pai e o Filho. Que testemunho glorioso! Que testemunho  àquele pode operar em gente como nós somos!"



 

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JOÃO CAPÍTULO 18



Jesus preso em Getsêmani (1-11). Comparando este com os outros evangelhos, notamos o quanto João omite de tudo que se passou no jardim. Aqui nada lemos do desejo do Salvador pela companhia dos discípulos, nem da agonia, nem da oração, nem da reprovação dos sonolentos, mas vemos a majestade do Filho de Deus, perante quem os inimigos recuam e caem. Faz-nos lembrar as palavras proféticas do Salmo 27.2: "Quando os malvados, meus adversários e inimigos, investiram contra mim, para comerem as minhas carnes, tropeçaram e caíram".

Pedro, corajoso e atirado, porém errado como quase sempre, pretende defender a Cristo com a espada. Desde então, quantas vezes homens entusiasmados pela verdade têm tomado a espada para defender o cristianismo! Outras religiões, notavelmente o maometismo, têm progredido pela espada. Mas o verdadeiro cristianismo tem vencido pela abnegação, pelo sofrimento e pelo altruísmo.

Notemos os acontecimentos deste trecho: Jesus apresenta-se aos inimigos (v.5); revela sua majestade (v.6); cuida dos seus (v.8); repara o erro de Pedro (v.11; Lc 22.51); submete-se à vontade do Pai; entrega-se aos homens malvados.

 

Jesus perante o sumo sacerdote (12-27). No versículo 12 lemos de três classes de gente: a coorte - a tropa de soldados romanos; o tribuno - oficial ou magistrado; e os servos dos judeus, isto é, dos sacerdotes (v.3).

As três partes do processo eclesiástico foram: perante Anás (v.13), perante Caifás (v.24), e perante o Sinédrio ( Mt 26.59-63 e Mc 14.55-61). Esta última não é referida por João.

"Anás, o filho de Sete, foi nomeado sumo sacerdote por Quirínio em 7 d.C, e deposto em 15 ou 23. Perdeu o cargo, mas não o poder, pois cinco de seus filhos exerceram o cargo de sumo sacerdote, como também seu genro Caifás" (Peq. Dic. Bíb.). consulte

A maior parte deste trecho ocupa-se com Pedro. Vemos nele um complexo de coragem e covardia. Pedro começou a cair quando escolheu a companhia dos mundanos, em vez de colocar-se abertamente ao lado de Cristo.

 

Nos adversários de Jesus vemos: Insensibilidade espiritual - resultado, talvez, de um longo período de declínio; astúcia maliciosa - interrogando acerca dos discípulos, a fim de os envolver na mesma condenação; violência ilegal e afrontosa da parte de um criado bastante atrevido (v.22); precaução hipócrita, mandando maniatar Jesus (vv.12,24).

Em Jesus vemos: submissão, prudência (calando-se com respeito aos discípulos); sabedoria em exigir testemunhas; paciência quando insultado.

 

Perante Pilatos (28-40). Nesta altura João dá mais detalhes do que os outros evangelistas. Notemos as duas perguntas: "És tu rei?" e "Que é a verdade?"

Jesus confessou que era rei, mas não deste mundo. Ele não tratou de instruir Pilatos referentemente à verdade (Ele mesmo era a verdade) porque Pilatos não tinha desejo de obedecer à verdade.

 

A escolha do versículo 40 era entre um roubador e um Redentor.


 

 

 

 

 

 


 

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JOÃO CAPÍTULO 19


    Eis aqui o vosso rei! (1-16).

A conduta de Pilatos parece-nos cada vez mais repreensível, submete o preso, contra quem nenhuma acusação prevalecera, a cruel tortura com açoites, e logo em seguida admite "não acho nele crime algum".

Nele vemos o cúmulo da infâmia de um déspota que não tem o senso de responsabilidade da posição que ocupa. Contudo, podemos entender que Pilatos esperava contentar os judeus por essa exibição de crueldade contra um preso inocente. Ele começou com uma condescendência às exigências dos judeus, em vez de agir com justiça e imparcialidade,e, afinal, foi levado ao extremo (v.16).

Devemos ler o versículo 11 como Fig. e V.B.- "Por isso aquele que me entregou" - o sumo sacerdote, todo o sinédrio - tem maior culpa, porque serviu de braço secular - a potestade superior ordenada por Deus (Rm 13.1) - para conseguir seu fim iníquo.

Em tempos mais recentes, presenciamos crime análogo a "Santa" (?) Inquisição entregava suas vítimas ao "braço secular" para serem queimadas, servindo-se, assim, de uma instituição divina, o governo civil, para consumar um pecado religioso.

Notemos a loucura do povo chegou ao auge da vileza ao asseverar: "Não temos outro rei senão César", abraçando assim o domínio estrangeiro que o avassalava.

A crucificação (17-37). Aqui também João relata algumas coisas que os outros omitem. Em vez de falar de Simão levar a cruz diz: "e levando Ele às costas à sua cruz", o que nos leva a entender que somente depois chamaram Simão.

João fala muito mais detalhadamente que os outros sobre a repartição dos vestidos. Os versículos 25-27 e 31.37 são só de João.

Das palavras do Senhor proferidas na cruz, João não menciona nenhuma daquelas que os outros evangelistas relatam. Mas acrescenta mais três: a Maria - "Eis o teu filho" e a João - "Eis aí a tua mãe", e "Tenho sede" - "Está consumado".

Bullinger traduz o versículo 16 assim: "Quando o crucificaram, e com ele outros dois de cada lado, e Jesus no meio" (J. 347).

Notemos as escrituras cumpridas neste capítulo, e referidas nos versículos 24,28,36,37.

No versículo 35 devemos ler: "e sei que é verdade" (O.50).

A sepultura (38-42). João diz que José era discípulo "oculto". Nicodemos aparece de novo, para embalsamar o corpo daquele que lhe falara da "vida eterna"!

 

"A história de Nicodemos resume-se em três frases : o desejo de Cristo (3.1-21); a defesa de Cristo (7.45-52); dedicação a Cristo (19-39)" (Scroggie).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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JOÃO CAPÍTULO 20



    A ressurreição (1-10). Este trecho trata principalmente de Pedro e João, e o que segue trata mais de Maria Madalena.

O fato ( à primeira vista insignificante) de João ter corrido mais do que Pedro, fala eloquentemente da comoção espiritual de ambos. Que tinha acontecido no sepulcro? Nem um momento queriam perder para verificarem. Parecia-lhes que agora começavam a entender aquelas estranhas palavras de Marcos 8.31 "Depois de três dias ressuscitarei..."

João foi o mais ligeiro. Pedro o mais atirado, pois entrou no sepulcro e viu os lençóis e o pano de cabeça dispostos como antes, faltando somente o corpo que haviam envolvido. É assim que os mais instruídos têm interpretado a linguagem dos versículos 6 e 7.

Tinham visto o suficiente para produzir-lhes impressão profunda, e voltaram à casa para ponderarem o caso.

Jesus aparece a Maria Madalena (11-18). Entretanto, Maria ficou ali,e, chorando, olhou novamente para o sepulcro. Então viu os dois anjos sentados. Ainda hoje é assim: uns percebem o material- lençóis; e outros o espiritual - os anjos.

Podemos reconstituir a cena: os anjos acham descabidas essas lágrimas na manhã da ressurreição, Maria explica, e esta diz "meu Senhor", e não  "o Senhor", como no versículo 2.

E em seguida ela volta-se para trás. Por que? Talvez tenha ouvido uma pisada nas folhas secas, ou, mais provável ainda, percebe um aspecto de reconhecimento e prazer no semblante dos anjos, e vira-se para ver o que enxergavam atrás dela.

Mas com lágrimas nos olhos vê apenas um vulto que pode bem ser o do hortelão, e novamente vira-se para os anjos.

Assim, com as costas voltadas para Jesus, ele fala ao Hortelão: "Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei". Nem um nome menciona; Ele era tudo para ela.

"Maria!" Essa voz é inconfundível. Volta-se definitivamente dos anjos para Jesus, e responde com uma só palavra: "Rabboni!", isto é, "Mestre!"

Comparemos "Não me toques"(v.17) com o versículo 27 e Mateus 28.9 e vemos que os fatos variam, tratando-se de outras pessoas e em outras circunstâncias.

É difícil interpretar este versículo 17. O Dr. Ryle oferece uma paráfrase: Não vou subir já ao lugar onde está meu Pai. Não subirei senão daqui a 40 dias. Resta pois muito tempo para que me toquem. Ouve-me e fala! Não gastes estes momentos tão preciosos em demonstrar-me teu afeto, mas levanta-te, sem perda de tempo, e vai dizer aos irmãos que Eu ressuscitei".

Jesus aparece aos onze (19-31). Neste terceiro trecho, o nome que se repete é o de Tomé. Percebemos logo a diferença entre estas manifestações à coletividade reunida em dois domingos sucessivos, e as outras manifestações particulares. Faz-nos pensar  em Mateus 18.20, pois aqui também vemos Jesus "no meio".

Das dez manifestações do Senhor ressurreto aos discípulos, cinco foram no domingo da ressurreição. Destas cinco, este capítulo recorda a primeira, a Maria (vv. 14-18), e a última, aos discípulos reunidos (19-23). Entre estas estão as manifestações a certas mulheres (Mt 28.8-10), a Pedro (Lc 24.34), e aos dois de caminho de Emaús (Lc 24.13-31) (Scroggie).

É escusado investigar a maneira pela qual nosso Senhor entrou na sala com portas fechadas (v.19).

A manifestação de Cristo no meio dos crentes reunidos pode ser bem mais importante do que as manifestações individuais. Tomé perdeu muito por  não estar com os outros crentes reunidos nesse domingo.

A primeira "Paz seja convosco" bem pode ser a saudação de costume, mas a repetição dessas palavras (v.21) permite-nos dar-lhes uma significação mais profunda.

Assim notamos que o Senhor: a) saudou com a paz os discípulos; b) enviou-os, como o Pai o enviara; c) conferiu-lhes poder espiritual; d) deu-lhes autoridade para perdoar e reter pecados.

A autoridade aqui concedida, de perdoar pecados, não é absoluta, mas declarativa, como o sumo sacerdote no V.T. declarava alguém limpo da lepra.

É Deus, que purifica da lepra e perdoa os pecados, mas em qualquer dos casos o fato podia ser declarado por seus representantes (Gray).

Devemos notar que o versículo 31 é a chave do Evangelho de S. João.

 

 

 

 

 

 

 

 

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JOÃO CAPÍTULO 21



Junto ao mar da Galiléia (1-25). A cena muda de Jerusalém para o mar da Galiléia, e ali Jesus se manifesta a oito discípulos que estavam na pesca. Foi em obediência às palavras de Jesus que voltaram à Galiléia (Mt 26.32; 28.7,10).

O dr. Scroggie divide este capítulo assim:

O Senhor ressuscitado cuida dos discípulos reunidos (1-14), dando-lhes: a) uma lição; b) uma refeição.

O Senhor ressuscitado cuida individualmente dos discípulos (15-23) - a) de Pedro (15-19); b) de João (20-23).

 

Conclusão (24,25).

A narrativa aqui nos exorta ao menos a quatro coisas, carecendo das quais somos individual e coletivamente ineficientes.

Estas coisas são: a) confiança (1-14); b) amor (15-17); c) coragem (18,19); d) paciência (20-23).

"A terceira vez" (v.14) refere-se às manifestações aos grupos de discípulos, e não inclui as manifestações aos indivíduos ou a dois deles.

 

Parece que os dois últimos versículos não foram escritos por João. Notemos as palavras "nós" e "seu" (Scroggie).

 


 

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